CICLO
O Cinema e a Cidade III


Termina em novembro o programa o “O Cinema e a Cidade” com um conjunto de sessões que incluem muitas raridades. Entre as várias cidades representadas voltamos a encontrar Nova Iorque, que surge aqui retratada por Andy Warhol que, metonimicamente, nos fornece um dos mais arrojados registos da cidade através do longo retrato do seu emblemático Empire State Building, que mostramos na sua integralidade com as cerca de oito horas de duração. Esta é a primeira vez que o conseguimos fazer, pois até hoje só foi possível exibir uma versão condensada de EMPIRE. Um acontecimento a não perder. Mas Nova Iorque está também documentada pelos míticos THE TWENTY-FOUR DOLLAR ISLAND, de Robert Flaherty, THE CITY, de Ralph Steiner e Willard Van Dyke, ou A BRONX MORNING, de Jay Leyda. BRIDGES-GO-ROUND (Shirley Clarke) ou GO!, GO!, GO! (Marie Menken) remetem-nos novamente para um registo mais experimental que entronca no cinema dos primórdios, e em concreto com CONEY ISLAND AT NIGHT, de Edwin S. Porter e Thomas Edison, que revelam todo o fascínio inicial do cinema pelas luzes das cidades. Entre as raridades de novembro encontramos também DIMANCHE À PEKIN e TOKYO DAYS, duas curtas-metragens de Chris Marker, a que juntamos obras documentais de Joris Ivens e de van der Keuken ou SÃO PAULO, A SYMPHONIA DA METRÓPOLE. A questão da experiência da sala de cinema e as suas relações com as cidades é este mês particularmente explicitada por quatro filmes muito diferentes. KINO OTOK e BLA CINIMA são dois documentários recentes que abordam o tema partindo de países tão distantes como a Croácia e a Argélia, já THE PICTURE HOUSE, de Emily Richardson, aborda a questão de modo mais conceptual. Por entre cerca de cem filmes chega assim ao fim um extenso programa que, pela abrangência do tema, é sempre necessariamente incompleto e passível de muitas e futuras extensões. 
 
 
14/11/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema e a Cidade III

The Twenty-Four Dollar Island | The City | Skyscraper | Bridges-Go-Round
duração total da projeção: 80 min | M/12
 
15/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema e a Cidade III

Programa de curtas-metragens sobre Nova Iorque
duração total da projeção: 89 min | M/12
16/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema e a Cidade III

Weg Ohne Umkehr
“Viagem sem Volta”
de Victor Vicas
República Federal da Alemanha, 1953 - 95 min
17/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema e a Cidade III

Impresssionen Vom Alten Marseiller Hafen (Vieux Port) | Douro, Faina Fluvial | À Propos De Nice
duração total da projeção: 54 min | M/12
20/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo O Cinema e a Cidade III

London Labyrinth | Berlin 10/90
duração total da projeção: 103 min | M/12
14/11/2017, 18h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema e a Cidade III
The Twenty-Four Dollar Island | The City | Skyscraper | Bridges-Go-Round
duração total da projeção: 80 min | M/12
THE TWENTY-FOUR DOLLAR ISLAND
de Robert Flaherty
Estados Unidos, 1927 – 12 min / mudo, intertítulos legendados eletronicamente em português
THE CITY
de Ralph Steiner,  Willard Van Dyke
Estados Unidos, 1939 – 43 min / legendado eletronicamente em português
SKYSCRAPER
de Willard van Dyke, Irving Jacoby, Shirley Clarke
Estados Unidos, 1959 – 21 min / sem diálogos
BRIDGES-GO-ROUND
de Shirley Clarke
Estados Unidos, 1958 – 4 min / sem diálogos

A abrir a sessão uma célebre curta-metragem de Robert Flaherty dos anos vinte que aborda as origens da Ilha de Manhattan cujo subtítulo é bem revelador "A Camera Impression of New York". Concebido para ser apresentado na Exposição Internacional de Nova Iorque enquanto manifesto por uma cidade à escala humana, segundo os créditos humanistas de Lewis Mumford (o autor do comentário), THE CITY é um clássico do documentário sobre Nova Iorque durante a Depressão, retratando os vários aspetos urbanos do New Deal. Mais de 20 anos depois de THE CITY, Willard van Dyke seria um dos coautores de SKYSCRAPER (juntamente com Irving Jacoby e Shirley Clarke), cujo tema é a construção do nº 666 da 5ª Avenida, ao som do jazz, poemas, canções e das vozes dos atores nos papéis de operários. Mais livre, BRIDGES-GO-ROUND (em primeira exibição na Cinemateca) é assinado exclusivamente por Clarke e o ritmo musical da montagem é devedor da formação de bailarina e coreógrafa da realizadora, discípula de Martha Graham. Um conjunto de grandes documentos sobre Nova Iorque, que rimam ou contradizem o espírito de um clássico como THE FOUNTAINHEAD, também mostrado este mês.
 
15/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema e a Cidade III
Programa de curtas-metragens sobre Nova Iorque
duração total da projeção: 89 min | M/12
CONEY ISLAND AT NIGHT
de Edwin S. Porter, Thomas Edison
Estados Unidos, 1905 – 2 min / mudo
SKYSCRAPER SYMPHONY 
de Robert Florey
Estados Unidos, 1929 – 9 min / mudo
A BRONX MORNING
de Jay Leyda
Estados Unidos, 1931 – 11 min / mudo
CITY OF CONTRASTS
de Irving Browning
Estados Unidos, 1931 – 25 min / mudo
MANHATTAN MEDLEY
de Bonney Powell
Estados Unidos, 1931 – 10 min / sem diálogos
DAYBREAK EXPRESS
de D. A. Pennebaker
Estados Unidos, 1957 – 5 min / sem diálogos
GO!, GO!, GO!
de Marie Menken
Estados Unidos,1962-1964 – 12 min / sem diálogos
N.Y., N.Y.
de Francis Thompson
Estados Unidos,1957 – 15 min / sem diálogos

Mais um programa composto por emblemáticas curtas-metragens sobre Nova Iorque, uma das cidades mais filmadas do mundo. O título mais antigo é de 1905 e mostra a vida noturna e as luzes que dominam Coney Island. Um curtíssimo, mas excelente trabalho de Porter e Edison que traduz bem o fascínio inicial do cinema pelas cidades. A sessão prossegue com quatro grandes clássicos do final dos anos vinte/início dos anos trinta, que se aproximam frequentemente do género da sinfonia, mantendo a sua essência muda, para terminar com filmes dos anos cinquenta e sessenta que, de algum modo, prolongam as experimentações formais das vanguardas dessas primeiras décadas do cinema, mas cujos ritmos estão já fortemente associados a uma elaborada componente sonora, que contribui para exacerbar a velocidade da vida das cidades. De fora desta sessão ficou o percursor MANHATTA, já mostrado no início do Ciclo. Com exceção dos filmes de Porter/Edison, Marie de Menken e Francis Thompson, todos os outros são mostrados pela primeira vez na Cinemateca. As obras de Florey, Leyda, Powell e Thompson são apresentadas em cópias digitais.
 
16/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema e a Cidade III
Weg Ohne Umkehr
“Viagem sem Volta”
de Victor Vicas
com Ivan Desny, Ruth Niehaus, René Deltgen
República Federal da Alemanha, 1953 - 95 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um dos primeiros filmes feitos sobre a divisão da Alemanha. A narrativa começa em 1945, quando um oficial do exército soviético encontra uma jovem refugiada num sótão e a escolta até à casa dela. Sete anos depois, instalado em Berlim Leste como engenheiro, o homem procura-a e reencontra-a. Mas diversos obstáculos nascidos da Guerra Fria dificultam seriamente a vida dos dois. No principal papel masculino, Ivan Desny, um dos nomes do cinema alemão dos anos cinquenta, que seria recuperado muito mais tarde por Fassbinder (O CASAMENTO DE MARIA BRAUN; LOLA; BERLIN ALEXANDERPLATZ). Um filme raro sobre uma cidade dividida que mostramos em novembro face à impossibilidade de ter sido exibido em outubro.
 
17/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema e a Cidade III
Impresssionen Vom Alten Marseiller Hafen (Vieux Port) | Douro, Faina Fluvial | À Propos De Nice
duração total da projeção: 54 min | M/12
IMPRESSSIONEN VOM ALTEN MARSEILLER  HAFEN (VIEUX PORT)
de László Moholy-Nagy
Alemanha, 1929 – 11 min / mudo
DOURO, FAINA FLUVIAL
de Manoel de Oliveira
Portugal, 1931-1934 – 18 min / versão sonorizada, intertítulos em português
À PROPOS DE NICE
A Propósito de Nice
de Jean Vigo
França, 1929 – 25 min / mudo, com intertítulos em francês

O filme de Moholy-Nagy não é o seu único retrato urbano, pois o artista também consagraria um importante filme a Berlim, mas é um muito interessante documentário sobre a cidade portuária de Marselha, conservando toda uma dimensão de pesquisa formal. DOURO, FAINA FLUVIAL é o primeiro momento da obra de Manoel de Oliveira, que, para este filme, também colheu forte inspiração num dos géneros “vanguardistas” mais em voga na época, o do “filme-sinfonia” (em particular num dos mais célebres filmes desta corrente, o BERLIN, DIE SYMPHONIE DER GROSSTADT de Walter Ruttmann). “Os portugueses patearam, mas alguns estrangeiros, como Pirandello ou o crítico do Temps, Émile Vuillermoz, não esconderam o seu entusiasmo e propagaram pela Europa essa obra-prima que tinham descoberto em Lisboa. Caminhando do mais abstrato para o mais concreto, com uma prodigiosa intuição da força atrativa da montagem e capacidade expressiva desta, Oliveira lançou o primeiro marco da sua comédia humana, porventura já marcada pelo efémero e pela frustração” (João Bénard da Costa). Apresentamos a primeira versão sonorizada, estreada comercialmente em 1934, com música de Luís de Freitas Branco. À PROPOS DE NICE é um retrato irónico, exultante e surrealizante da cidade de Nice, explorando os contrastes da vida dos turistas na “Promenade des Anglais” e nos bairros pobres da cidade velha. Três obras que, na sua inventividade e experimentação, traduzem bem o espírito moderno dos anos da sua produção. O filme de László Moholy-Nagy é uma primeira exibição na Cinemateca.
 
20/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
O Cinema e a Cidade III
London Labyrinth | Berlin 10/90
duração total da projeção: 103 min | M/12
Na impossibilidade de podermos exibir LONDON LABYRINTH devido a motivos alheios à Cinemateca, as sessões de dia 20 de Novembro (19h) e de dia 28 (22h) serão apenas compostas pelo filme BERLIN 10/90, de Robert Kramer. Pelo facto, as nossas desculpas.
LONDON LABYRINTH
de Chris Petit
Reino Unido, 1993 – 39 min / legendado eletronicamente em português
BERLIN 10/90
de Robert Kramer
com Robert Kramer
Alemanha, 1990 – 64 min / legendado eletronicamente em português

A reflexão sobre as vivências urbanas tem atravessado os escritos e os filmes de Chris Petit desde há muitos anos, revelando-se como um dos mais importantes cineastas conotados com a cidade de Londres, a par de realizadores como Patrick Keiller. LONDON LABYRINTH é um filme da década de noventa em que traduz uma visão pessoal da cidade através de uma montagem de imagens de arquivo que evoca a memória de Londres. Encerrado num hotel em Berlim, em BERLIN 10/90 Robert Kramer reflete sobre a história da cidade face a um televisor que mostra excertos de filmes, alguns dos quais por si realizados. Uma obra sobre a memória de Berlim, da Alemanha e da própria família do cineasta que foi filmada num único plano-sequência por altura da queda do Muro. LONDON LABYRINTH é uma primeira exibição na Cinemateca.