CICLO
Double Bill


Em dezembro propomos uma breve viagem que tem como ponto de partida o Japão e TOKYO MONOGATARI de Yasujiro Ozu, inclui os olhares exteriores de Wim Wenders e Chris Marker, ou interiores de Naomi Kawase e Shuntaro Tanikawa e Shuji Terayama, para terminar com STALKER de Andrei Tarkovski, que abre esta noção de viagem para um contexto mais lato, e que, tal como SANS SOLEIL, ultrapassa as fronteiras do território japonês num duplo sentido. São muitas as ligações e pontes que podem ser estabelecidas entre estes vários filmes, programados em dípticos, mas cujas relações se tecem e encadeiam ao longo das várias sessões. Todos eles são atravessados por uma profunda poesia e por uma reflexão sobre o mundo que nos rodeia, e a uma meditação sobre a sociedade japonesa e as suas mutações, que ultrapassa em muito a exploração da esfera familiar e a intimidade, juntam-se usos criativos das novas tecnologias de manipulação de imagens que nascem com o vídeo, ou a própria cinefilia. Na sua marcante singularidade são um conjunto de obras que não deixam de dialogar e que nos conduzem numa viagem através do tempo, combinando tradição e modernidade e convocando a coalescência de diferentes temporalidades. O programa é concentrado em três sessões, sendo uma delas mais curta do que o habitual.
 
03/12/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Tokyo Monogatari | Samma no Aji
duração total da projeção: 274 min | M/12
 
10/12/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Tarachime | Video Letter
duração total da projeção: 118 min | M/12
17/12/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Sans Soleil | Stalker
duração total da projeção: 268 min | M/12
03/12/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Tokyo Monogatari | Samma no Aji
duração total da projeção: 274 min | M/12
Devido a restrições levantadas pelo detentor de direitos não poderemos exibir TOKYO-GA, de Wim Wenders. Em sua substituição mostraremos SAMMA NO AJI / O GOSTO DO SAKÉ (1962), de Yasujiro Ozu, em “double bill” com o primeiro filme da sessão, TOKYO MONOGATARI (1953), também de Ozu. Lamentamos este imprevisto.

Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
TOKYO MONOGATARI 
Viagem a Tóquio
de Yasujiro Ozu
com Chishu Ryu, Chieko Higashiyama, Setsuko Hara
Japão, 1953 – 135 min / legendado em português
SAMMA NO AJI
O Gosto do Saké
de Yasujiro Ozu
com Shima Iwashita, Shinichiro Ikami, Chishu Ryu
Japão, 1962 – 112 min / legendado eletronicamente em português

Conhecido em inglês como Tokyo Story, este foi o filme através do qual os espectadores ocidentais descobriram tardiamente o cinema de Ozu, em meados dos anos setenta. Um casal idoso vai visitar os filhos em Tóquio, mas estes não têm tempo para lhes dar atenção. É o pretexto para Ozu abordar o tema central do seu cinema na fase final da sua obra, a dissolução de uma família, a separação dos membros que a compõem, a resignação diante daquilo que muda. Um momento sublime de cinema, um cineasta no apogeu da sua arte. SAMMA NO AJI foi o último filme de Ozu e é uma nova variação sobre uma história de separação familiar em reflexão nostálgica sobre o começo do “Inverno da vida”. É também a sua celebração e a despedida ao “gosto do saké”, onde cabe toda a memória do passado e dos “bons tempos”. Profundamente comovente, SAMMA NO AJI é um dos mais perfeitos filmes de Ozu, aquele onde a depuração do seu estilo atinge níveis supremos. Simples e sublime.
10/12/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Tarachime | Video Letter
duração total da projeção: 118 min | M/12
A sessão decorre sem intervalo
TARACHIME
de Naomi Kawase
França, Japão, 2006 – 43 min / legendado eletronicamente em português
VIDEO LETTER
de Shuntaro Tanikawa, Shuji Terayama
Japão, 1983 – 75 min / legendado eletronicamente em português

Uma sessão que explora uma vertente mais íntima do cinema japonês contemporâneo e a sua dimensão epistolar. De Naomi Kawase, cineasta que, na tradição de grandes mestres do cinema nipónico como Yasujiro Ozu, tem desenvolvido um cinema da contemplação atento às variações do mundo natural e aos seus elementos, apresentamos um filme circunscrito ao seu círculo familiar mais próximo, dado que em TARACHIME retrata simultaneamente o nascimento do seu filho e a avó de 92 anos. O ciclo da vida é igualmente evocado em VIDEO LETTER, uma compilação de cartas-vídeo trocadas entre os realizadores e poetas Shuji Terayama e Shuntaro Tanikawa, que precede a morte de Terayama. Filme pioneiro de um género, dado que anos mais tarde serão vários os cineastas a trocar este tipo de “correspondência” (Kawase fá-lo-á com Hirokazu Koreeda), na sua vertente de “home video”, VIDEO LETTER é atravessado por uma profunda nostalgia e por uma reflexão filosófica sobre o mundo e as coisas. Explorando a tecnologia vídeo disponível nos anos oitenta, tal como o fará também Chris Marker em SANS SOLEIL, é uma obra atravessada por uma inegável modernidade.  
17/12/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Sans Soleil | Stalker
duração total da projeção: 268 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
SANS SOLEIL
de Chris Marker
com Florence Delay, Arielle Dombasle, Riyoko Ikeda, Charlotte Kerr, Kim Novak, James Stewart
França, 1983 – 100 min / legendado eletronicamente em português
STALKER
Stalker
de Andrei Tarkovski
com Alexandre Kaidanovski, Anatoli Solonitsine, Nikolai Grinko
URSS, 1979 – 168 min / legendado eletronicamente em português

Uma mulher narra os pensamentos de um viajante em SANS SOLEIL, baseado nas cartas de Sandor Krasna e construído como uma travessia do olhar pelo mundo, em que a realidade é evocada através da palavra. O Japão, Cabo Verde e a Guiné Bissau são os principais lugares visitados por tal viajante que atravessa o tempo. SANS SOLEIL é, juntamente com LA JETÉE, um dos filmes mais influentes e radicais da obra de Chris Marker, um conto e uma viagem contados em imagens fixas. Para Andrei Tarkovski, o "stalker" é o guia que leva o "viajante" pelos labirintos que conduzem à "zona", onde se encontra a câmara de todos os desejos, e a viagem é a iniciação de cada um. O movimento é tudo, a busca é o que importa. O que se procura não é mais do que a Utopia que se esfuma quando nos abeiramos dela, mas toda a busca está condenada ao fracasso. É o que parece dizer Tarkovski em STALKER, um dos seus filmes mais importantes, adaptado de uma novela dos irmãos Arcadi e Boris Strugatsky, uma ficção científica entre a parábola e a meditação filosófica. Se é conhecido o fascínio de Marker pelo Japão, ou pela ideia de “zona” de Tarkovski, esta sessão conduz a questão da viagem para um contexto mais abrangente, que ultrapassa em muito o Japão.