CICLO
Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas


Em novembro, para os duplos programas das tardes de sábado (dois filmes, uma sessão, um bilhete único), propomos um mini-Ciclo ao mesmo tempo de género e de autor. De género, porque todos os filmes programados são melodramas, e de autor porque em cada um destes programas duplos há um filme de Raffaello Matarazzo, responsável por alguns dos mais populares filmes do género nos anos cinquenta. O melodrama, em que assistimos às desgraças das personagens, eternas vítimas da fatalidade, para quem a felicidade é sempre inatingível, é um género tão antigo como o cinema. Costuma ser associado aos países latinos ou de ascendência latina, devido ao carácter sentimental e passional. E, de facto, Itália, México e Espanha foram grandes produtores de melodramas, mas não foram poucos os filmes deste género realizados nos Estados Unidos (tão poucos dos chamados “women’s pictures” dos anos quarenta e cinquenta, período em que muitas mulheres não trabalhavam e iam ao cinema à tarde) e países tão diferentes como o Egito, o Japão e a Finlândia produziram inacreditáveis melodramas. A diferença e a distância entre um drama e um melodrama não reside na linha narrativa, mas no tom com que esta é exposta e desenvolvida. Num melodrama, tudo é regido pela fatalidade e por mais que as personagens tentem, não conseguem escapar à teia dos acontecimentos. E nestes filmes a chantagem sentimental com o espectador faz parte das regras do jogo. Muitos grandes cineastas, ou brilhantes artesãos, ilustraram o género. Raffaello Matarazzo, cuja obra é o eixo desta programação, outrora desprezado pela crítica e apreciado apenas “em segundo grau”, acabou por ser reconhecido como um realizador de primeiro plano, ou um mestre menor. Ao lado de quatro dos seus filmes, podemos ver um dos mais célebres filmes de Douglas Sirk, uma obra relativamente pouco vista de Frank Capra, um dos inúmeros melodramas realizados no México e um filme do alucinado e alucinante Teuvo Tulio, uma das grandes “descobertas” da cinefilia internacional dos últimos 10 anos. Dos oito filmes apresentados, três são inéditos na Cinemateca.
 
05/11/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas

Tormento | Magnificent Obsession
duração total da projeção: 203 min | M/12
 
12/11/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas

I Figli di Nessuno | Vértigo
duração total da projeção: 183 min | M/12
19/11/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas

L’angelo Bianco | Forbidden
duração total da projeção: 183 min | M/12
26/11/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas

Catene | Levoton Veri
duração total da projeção: 186 min | M/12
05/11/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas
Tormento | Magnificent Obsession
duração total da projeção: 203 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
TORMENTO
Tortura de Mãe
de Raffaello Matarazzo
com Amedeo Nazzari, Yvonne Sanson, Annibale Betrone
Itália, 1950 – 95 min / legendado eletronicamente em português
MAGNIFICENT OBSESSION
Sublime Expiação
de Douglas Sirk
com Jane Wyman, Rock Hudson, Agnes Moorehead
Estados Unidos, 1954 – 108 min / legendado em português

TORMENTO, que teve um antológico título comercial português, é um descabelado melodrama que mostra a relação de uma madrasta má e da sua enteada, que foge com um homem honesto que acaba preso, o que faz com que a pobre mulher se torne mãe solteira. Matarazzo doseia os temas da inocência, da beleza e da honestidade, confrontadas com a arrogância e com a injustiça. MAGNIFICENT OBSESSION, a “história da ceguinha” que fez de Rock Hudson uma estrela, foi definida por Sirk como “uma maluquice, se alguma vez houve história maluca neste mundo”. Num contexto visual que leva o artifício de Hollywood ao delírio (cores, cenários), Sirk conta a história de amor entre uma cega e um ex-“playboy”, responsável pela morte do marido dela e pela sua cegueira, que se torna médico para curá-la! Agnes Moorehead é uma das amigas da cega. É ver para crer. “Remake” da obra homónima de John Stahl realizada em 1935. Note-se o título comercial português, que transforma a obsessão em expiação. TORMENTO é apresentado em cópia restaurada.
12/11/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas
I Figli di Nessuno | Vértigo
duração total da projeção: 183 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
I FIGLI DI NESSUNO
Filhos de Ninguém
de Raffaello Matarazzo
com Yvonne Sanson, Amadeo Nazzari, Françoise Rosay
Itália, 1951 – 105 min / legendado eletronicamente em português
VÉRTIGO
Vidas Cruzadas
de Antonio Momplet
com María Félix, Emílio Tuero, Lilia Michel
México, 1946 – 78 min / legendado em português

I FIGLI DI NESSUNO tem semelhanças temáticas com SCHIAVA DEL PECATO, pois também aborda o tema da maternidade impossível. Uma mulher solteira apaixonada por um homem, com quem tem um filho, retira-se para um convento depois da mãe do homem ter mandado raptar o filho deles, para impedir o casamento dos dois. Anos depois, o rapaz descobre quem são os seus pais, mas talvez já seja tarde demais. Neste filme, Matarazzo reúne uma dupla de atores, Yvonne Sanson e Amadeo Nazzari, que reinaram no melodrama italiano dos anos cinquenta, ao passo que no papel da mãe do homem, temos a grande Françoise Rosay, vinda do cinema dos anos trinta. É pura e simplesmente impossível conceber um programa de melodramas sem incluir pelo menos um filme mexicano, pois o cinema clássico mexicano realizou alguns dos mais delirantes melodramas de sempre, muitos dos quais tiveram distribuição internacional: VÉRTIGO (a não confundir com outro filme de título idêntico…), protagonizado por María Félix, uma das grandes vedetas deste cinema, é baseado num romance de Pierre Benoît e conta a história de duas mulheres (mãe e filha, naturalmente), apaixonadas pelo mesmo homem. Na opinião de Manuel Cintra Ferreira, “VÉRTIGO tem todos os cordelinhos do melodrama mexicano no seu melhor: paixão assolapada que leva ao crime, conflitos entre o desejo e a moral e é um dos mais interessantes exemplos do género”. I FIGLI DI NESSUNO é uma primeira exibição na Cinemateca.
19/11/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas
L’angelo Bianco | Forbidden
duração total da projeção: 183 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
L’ANGELO BIANCO
O Anjo Branco
de Raffaello Matarazzo
com Amedeo Nazzari, Yvonne Sanson , Enrica Dyrell, Alberto Farnese
Itália, 1955 – 100 min / legendado eletronicamente em português
FORBIDDEN
O Seu Grande Amor
de Frank Capra
com Barbara Stanwyck , Adolphe Menjou, Ralph Bellamy
Estados Unidos, 1932 – 83 min / legendado eletronicamente em português

Em L’ANGELO BIANCO, um dos mais populares melodramas italianos dos anos cinquenta, um engenheiro viúvo encontra, num comboio, uma bailarina quase idêntica à sua mulher. A relação entre ambos acaba em tragédia. O apelido do homem (mas não o nome) e a sua profissão são os mesmos que em L’ULTIMA VIOLENZA, realizado dois anos depois, o que mostra a que ponto os filmes de Matarazzo se respondem. Como observou Adriano Aprà, “estamos aqui em pleno clima fantástico. O duplo papel de Yvonne Sanson não pode deixar de lembrar uma das obras-primas do cinema fantástico, VERTIGO, de Hitchcock… O final do filme é absolutamente surreal”. Embora os apólogos rooseveltianos realizados por Capra nos anos quarenta (IT’S A WONDERFUL LIFE; MEET JOHN DOE) sejam os seus filmes mais célebres, muitos críticos consideram os anos trinta como o melhor período da obra do cineasta, com obras como THE BITTER TEA OF GENERAL YEN, THE MIRACLE WOMAN e IT HAPPENED ONE NIGHT. É a este período que pertence FORBIDDEN, considerado um dos exemplos maiores do melodrama americano da década de trinta, com Barbara Stanwyick na figura de uma mulher apaixonada por um homem com quem não pode casar e com quem vive na sombra do matrimónio legítimo. O filme não é mostrado na Cinemateca desde 2006 e é apresentado em cópia digital.
26/11/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill – Raffaello Matarazzo e outros Melodramas
Catene | Levoton Veri
duração total da projeção: 186 min | M/12
Entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
CATENE
Repudiada
de Raffaello Matarazzo
com Amedeo Nazzari, Yvonne Sanson, Aldo Nicodemi, Roberto Murolo
Itália, 1950 – 95 min / legendada em português | M/12
LEVOTON VERI
“Sangue Inquieto”
de Teuvo Tulio
com Regina Linnanheino, Eiko Katajavuori. Toini Vartiainen
Finlândia, 1946 – 91 min / legendado eletronicamente em português

Um esplêndido melodrama, marcado pelo excesso das situações e sentimentos, a que Matarazzo dá qualquer coisa de comovente e profundamente humano. Nazzari é um homem que se julga traído pela mulher, pelo que mata o rival e é preso. Para o salvar, a mulher presta um falso testemunho. Nestes duplos programas de melodramas, propomos a descoberta de LEVOTON VERI, em que duas irmãs estão apaixonadas pelo mesmo homem. Peter von Bagh observou que “no mundo de Tulio, a paixão é a mais poderosa força vital. As suas imagens têm um brilho sensual fascinante e em obras-primas como LEVOTON VERI novos elementos veem ao de cima: crime, ciúme, extrema decadência. Em cada filme, ele foi mais fundo na histeria, no pânico e na loucura”.