CICLO
Double Bill


As “sessões duplas” na Cinemateca (dois filmes, uma sessão, um bilhete único), voltam em outubro com propostas para as matinés dos primeiros três sábados do mês. Em cada uma delas, um grande clássico “emparelha” com títulos mais recentes ou contemporâneos: duas obras-primas, SUNRISE, de Murnau, e YOKIHI, de Mizoguchi, e um mítico filme da Hollywood clássica, CASABLANCA, de Michael Curtiz. A “canção de dois humanos” de Murnau chama os humanos e as canções de ONE FROM THE HEART, de Coppola. CASABLANCA, o filme que promete, pelo menos, Paris, As Times Goes By, é mostrado com um singular filme “de tempos de guerra”, LA FRANCE, de Serge Bozon. A (re)visão de YOKIHI é proposta a par do mais recente filme de Hou Hsiao-Hsien, A ASSASSINA, onde se lembra que, cantando a sua tristeza, um azulão dançou até à morte.
 
01/10/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Sunrise | One From the Heart
duração total da projeção: 195 min | M/12
 
08/10/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

La France | Casablanca
duração total da projeção: 204 min | M/12
15/10/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Cìkè Niè Yǐnniáng / The Assassin | Yokihi
duração total da projeção: 196 min | M/12
01/10/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Sunrise | One From the Heart
duração total da projeção: 195 min | M/12
SUNRISE é acompanhado ao piano por Filipe Raposo

entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
SUNRISE
Aurora
de Friedrich W. Murnau
com Janet Gaynor, George O’Brien, Margaret Livingstone
Estados Unidos, 1927 – 95 min / mudo, intertítulos em inglês, legendados em português
ONE FROM THE HEART
Do Fundo do Coração
de Francis Ford Coppola
com Frederic Forrest, Teri Garr, Raul Julia, Nastassja Kinski
Estados Unidos, 1982 – 100 min / legendado em português

Considerado por muitos como “o mais belo filme de sempre”, SUNRISE também é um exemplo do importante contributo dos realizadores e técnicos alemães para o cinema americano. Seguindo a história de um camponês que, seduzido por uma vamp da cidade, tenta matar a mulher, antes de se reconciliar com ela durante uma viagem à dita cidade, os extraordinários cenários do filme constroem uma cidade moderna, cheia de luzes e de montras, “a” cidade moderna enquanto tal. Um dos pontos culminantes de toda a História do cinema, assombrado pelo Mal, SUNRISE tem por subtítulo “A Song of Two Humans”. Coppola propôs-se reinventar o musical numa “feérie” romântica, numa Las Vegas de estúdio e com grandes inovações técnicas: ONE FROM THE HEART. Aqui tentou fazer nascer a sua companhia, a Zoetrope, e aqui se afundou economicamente o realizador, mesmo que o filme tenha ficado como uma das obras mais decisivas dos anos oitenta. O filme é também indissociável da melancolia da banda musical de Tom Waits, e do tilintar da moeda caída ao chão que se ouve numa das canções
08/10/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
La France | Casablanca
duração total da projeção: 204 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
LA FRANCE
de Serge Bozon
com Sylvie Testud, Pascal Gréggory, Guillaume Verdier, François Négret, Laurent Talon, Pierre Léon, Benjamin Esdraffo, Guillaume Depardieu
França, 2007 – 102 min / legendado eletronicamente em português
CASABLANCA
Casablanca
de Michael Curtiz
com Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Claude Rains, Paul Henreid, Peter Lorre, Sidney Greenstreet
Estados Unidos, 1943 – 102 min / legendado eletronicamente em português

LA FRANCE é o terceiro filme realizado por Serge Bozon, ator e ex-crítico de cinema, com argumento dele e Axelle Ropert e canções de Fugu (Mehdi Zannad) e Benjamin Esdraffo. A história é a de uma rapariga que se disfarça de homem para integrar um regimento de soldados franceses que combatem nas terríveis trincheiras da Primeira Guerra Mundial, para procurar o marido, soldado na frente, depois de dele receber uma carta de separação. Mergulhada numa luz fantasiosa de cores nubladas, que dão “uma sensação de aquário” (Bozon), a ação é “interrompida” por canções de registo pop tocadas em instrumentos antigos e gravadas em direto. Um filme de extraordinária singularidade. CASABLANCA é um dos mais famosos filmes de sempre, o que deu Ingrid Bergman Humphrey Bogart por par e a todos a ideia de “para sempre, Paris”. São eles o casal que um dia por lá se perdeu no começo da Segunda Guerra e se reencontra fugazmente em Casablanca, a encruzilhada dos que procuram alcançar a liberdade. “Se Casablanca já é um prodígio de concisão e de ‘timing’ durante o primeiro quarto de hora (em que somos apresentados a todos quantos não arriscam muito a pele ou a arriscam mas não mexem na nossa), o filme só ‘pega fogo’ quando Ingrid Bergman entra no Rick’s Bar e Sam para de tocar e olha para ela. Nunca o olhar de Ingrid foi tão desarmado, tão quente, tão húmido como quando pediu que ele tocasse (não ‘again’ mas simplesmente tocasse) o As Time Goes By. Nunca o olhar de Bogart foi tão cerrado, tão frio, tão seco, como quando, ouvindo a música e não vendo Ingrid, disse: ‘Sam, I thought I told you never to play...’” (João Bénard da Costa). 
15/10/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Cìkè Niè Yǐnniáng / The Assassin | Yokihi
duração total da projeção: 196 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
CÌKÈ NIÈ YǏNNIÁNG / THE ASSASSIN
A Assassina
de Hou Hsiao-Hsien
com Chang Chen, Shu Qi, Zhou Yun, Tsumabuki Satoshi 
Taiwan, China, Hong Kong, França, 2015 – 105 min / legendado em português
YOKIHI
“A Imperatriz Yang Kwei Fei”
de Kenji Mizoguchi
com Machiko Kyo, Masayuki Mori, So Yamamura
Japão, 1955 – 91 min / legendado em português

A ASSASSINA é o mais recente filme de Hou Hsiao-Hsien, baseado numa história de artes marciais, considerada central da tradição chinesa e da ficção “wuxia”. A ação é ambientada na China do século VIII, e protagonizada pela jovem, bela e exímia assassina de governantes corruptos cuja mestra decide pôr à prova quando a vê vacilar num momento de execução (“O caminho da espada não tem compaixão”; “A tua destreza é incomparável mas a tua mente é refém dos sentimentos humanos”), levando-a a ter de escolher entre a eficácia do gelo e a gravidade das emoções. Aparentemente distante do que é imediatamente reconhecível no cinema de Hsiao-Hsien, A ASSASSINA é também uma invulgar aproximação ao género das artes marciais. Prodigioso trabalho de mise-en-scène, plástico, sobre o uso cor, é menos um filme de ação do que contemplativo. YOKIHI, adaptação de uma história chinesa situada no século VIII, durante a dinastia Tang, é um dos mais célebres títulos de Mizoguchi, o único não ambientado no Japão, e o seu primeiro filme a cores. E essas cores são fabulosas, resultam de um dos mais impressionantes trabalhos com a cor no cinema, num filme em que Machiko Kyo dá corpo a um genial retrato feminino, sobre um shakespeariano fundo de lutas de poder e intrigas políticas. Um assombro. A ASSASSINA é uma primeira exibição na Cinemateca.