CICLO
Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer


Bernard Eisenschitz é um dos maiores historiadores contemporâneos, além de ser também crítico, programador e tradutor. Presença habitual na Cinemateca, coube-lhe inaugurar a rubrica “Histórias do Cinema”, com a apresentação da obra de Chaplin em 2011. Entre muitas outras colaborações, apresentou também regularmente sessões no âmbito do programa “O Cinema À Volta de Cinco Artes, Cinco Artes à Volta do Cinema”, organizadas no contexto do Festival Temps d’Images entre 2003 e 2014. Colaborador de diversas revistas (Cahiers du Cinéma, Trafic, Présence du Cinéma, Cineteca, Cinématographe) e fundador e editor de Cinéma, em 2001, Eisenschitz é autor de vários livros e coordenador de diversos catálogos (sobre Ernst Lubitsch, Frank Tashlin, Humphrey Bogart, o cinema soviético, MAN HUNT de Fritz Lang) tendo assinado obras de referência sobre Nicolas Ray (Roman américain, les vies de Nicolas Ray) e Fritz Lang (Fritz Lang au Travail). O catálogo da Cinemateca sobre Robert Kramer é composto essencialmente por uma longa entrevista sua ao realizador. Em 2014, Eisenschitz publicou uma nova edição dos escritos de Henri Langlois, fundador da Cinemateca Francesa, que incluía vários textos inéditos. Trabalhou ainda, em 2001, num novo restauro de L’ATALANTE de Jean Vigo, e tem participado como ator em vários filmes, com pequenos papeis ou figurações.
Carl Th. Dreyer (1889-1968) é unanimemente reconhecido como um dos mais altos nomes da arte cinematográfica, autor de uma obra singular e decisiva. Os seus grandes clássicos são programados com frequência na Cinemateca. Dreyer começou por trabalhar como argumentista no seu país natal, a Dinamarca, antes de realizar o seu primeiro filme, PRÄESIDENTEN, em 1918. A sua carreira seguiu um curso regular nos anos vinte, década em que assinou várias obras, culminando com LA PASSION DE JEANNE D’ARC, realizada em França, que dispensa todos os elementos acessórios para “se concentrar no interior da alma de Joana d’Arc” (palavras do realizador). Depois de VAMPYR (1932), o seu primeiro filme sonoro, a carreira de Dreyer conhece uma pausa de onze anos, até à realização de VREDENS DAG. A seguir, durante doze anos, Dreyer realiza diversas curtas-metragens, até acabar a sua carreira com dois filmes insuperáveis: ORDET, em 1955, seguido nove anos mais tarde por GERTRUD. Dreyer teve muitos projetos que ficaram por concretizar, entre eles aquele que mais acarinhou e sobre o qual trabalhou durante mais de vinte anos, JESUS DE NAZARÉ. Bernard Eisenschitz escolheu três dos filmes mais célebres de Dreyer (VREDENS DAG, ORDET e GERTRUD), além do seu segundo filme, PRÄSTÄNKAN, e do raro DIE GEZEICHNETEN, que será apresentado em cópia restaurada. Aquando da integral Dreyer organizada pela Cinemateca em 2007, João Bénard da Costa observou que “o legado de Dreyer, nos seus filmes, está para além de qualquer resenha descritiva”.
Como rubrica regular de programação, as “Histórias do Cinema” assentam, na ideia de um binómio para cinco tardes, em torno de cinco filmes (ou em cinco sessões com número variável de obras projetadas): dum lado, um investigador de cinema – historiador, crítico, ensaísta, podendo também tratar-se de realizador ou técnico, por exemplo, de outro, um autor ou um tema histórico abordado pelo primeiro. O investigador discorre e conversa sobre um tema numa sequência de encontros, que são antes de mais pensados como uma experiência cumulativa.

 

sessões-conferência | apresentadas e comentadas por Bernard Eisenschitz, em inglês

 

INFORMAÇÃO SOBRE AS SESSÕES E VENDA ANTECIPADA DE BILHETES
Para esta rubrica, a Cinemateca propõe um regime de venda de bilhetes específico, fazendo um preço especial e dando prioridade a quem deseje seguir o conjunto das sessões. Assim, quem deseje seguir todas as sessões (venda exclusiva para a totalidade das sessões, máximo de duas coleções por pessoa) poderá comprar antecipadamente a sua entrada pelo preço global de € 22 (Estudantes, Cartão Jovem, Maiores de 65 anos, Reformados: € 12 – Amigos da Cinemateca, Estudantes Cinema, Desempregados: € 10) entre 26 e 31 de outubro. Os lugares que não tenham sido vendidos serão depois disponibilizados através do normal sistema de venda no próprio dia de cada sessão, no horário de bilheteira habitual e de acordo com o preço específico destas sessões, € 5 (Estudantes, Cartão Jovem, Maiores de 65 anos, Reformados: € 3 – Amigos da Cinemateca, Estudantes Cinema, Desempregados: € 2,60).
 

 
02/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer

Prästänkan
“O Quarto Casamento da Senhora Margarida”
de Carl Th. Dreyer
Suécia, 1920 - 83 min
 
03/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer

Die Gezeichneten
“Amai-vos uns aos Outros”
de Carl Th. Dreyer
Alemanha, 1921 - 106 min
04/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer

Vredens Dag
Dia de Cólera
de Carl Th. Dreyer
Dinamarca, 1943 - 105 min
05/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer

Ordet
A Palavra
de Carl Th. Dreyer
Dinamarca, 1955 - 125 min
06/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer

Gertrud
Gertrud
de Carl Th. Dreyer
Dinamarca, 1964 - 116 min
02/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer
Prästänkan
“O Quarto Casamento da Senhora Margarida”
de Carl Th. Dreyer
com Hildur Carlberg, Einar Rod, Greta Almoroth, Olav Auskrust
Suécia, 1920 - 83 min
mudo, intertítulos em sueco, traduzidos eletronicamente em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Bernard Eisenschitz, em inglês

Filmado para a Svensk Filmindustri e tendo por tema a Lei e a sua violação, “O QUARTO CASAMENTO DA SENHORA MARGARIDA” (que mais fielmente é possível traduzir como “A VIÚVA DO PASTOR”) integra um tom de comédia inusual na obra de Dreyer. Mas, como noutras obras depois dele e como já antes acontecera, por exemplo em “O PRESIDENTE” (1918), Dreyer filma percursos de sacrifício que vão ao encontro da morte.

03/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer
Die Gezeichneten
“Amai-vos uns aos Outros”
de Carl Th. Dreyer
com Polina Piekowska, Wladimir Gaidarov, Torleiff Reiss
Alemanha, 1921 - 106 min
mudo, intertítulos em inglês e dinamarquês traduzidos eletronicamente em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Bernard Eisenschitz, em inglês

“AMAI-VOS UNS AOS OUTROS” (também conhecido como “OS ESTIGMATIZADOS”) foi um dos dois filmes rodados por Dreyer em Berlim nos inícios dos anos vinte (o segundo foi MIKAËL) e retrata um pogrom judeu na Rússia de 1905, a partir da adaptação de um romance de Aage Madelung, com atores russos, dinamarqueses, alemães e noruegueses. A minúcia reconstitutiva e o uso do grande plano marcam este filme onde se combina o estilo de representação do teatro russo de Stanislavsky com o do teatro alemão herdeiro do expressionismo. A apresentar em cópia restaurada.

04/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer
Vredens Dag
Dia de Cólera
de Carl Th. Dreyer
com Thorkild Roose, Lisbeth Movin, Sigrid Neiiendam
Dinamarca, 1943 - 105 min
legendado em espanhol | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Bernard Eisenschitz, em inglês

Realizado em plena guerra, este filme marca o regresso de Dreyer à realização de longas-metragens depois de um silêncio de mais de dez anos, desde VAMPYR, de 1932. VREDENS DAG (também conhecido pelo título DIES IRAE), em que passam ecos da pintura flamenga, reconstitui um processo de feitiçaria no século XVII, no qual não poucos viram uma alusão à situação da Dinamarca ocupada. Mas, independentemente disso, no estilo severo que caracteriza o realizador, trata-se de uma obra-prima da arte da encenação cinematográfica, "suficientemente realista para evitar a abstração deliberada e suficientemente estilizada para ser uma arquitetura dramática, que reparte com precisão as massas de luz", nas palavras de André Bazin.

05/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer
Ordet
A Palavra
de Carl Th. Dreyer
com Henrik Maalberg, Emil Haas, Prebben Lendorf Rye
Dinamarca, 1955 - 125 min
legendado eletronicamente em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Bernard Eisenschitz, em inglês

ORDET é, talvez, a obra cinematográfica que melhor põe em cena a questão da fé, construída inteiramente à volta da interrogação: A palavra (Ordet) pode chegar até Deus e Este responder-lhe? O crente, como Dreyer, diz que sim e ORDET (o filme) é a sua expressão. Sobre este filme, José Régio escreveu que era “uma apologia da fé levada ao extremo limite.”

06/11/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Bernard Eisenschitz / Carl Th. Dreyer
Gertrud
Gertrud
de Carl Th. Dreyer
com Nina Pens Rode, Bendt Rothe, Ebe Rode, Baard Owe, Axel Strobye
Dinamarca, 1964 - 116 min
legendado em espanhol | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Bernard Eisenschitz, em inglês

Gertrud assume a “total solidão em nome do amor”. O último filme de Carl Th. Dreyer, em que o cinema (como essa mulher, Gertrud), de forma única e irrepetível parece paralisar, cristalizar, deixando no interior das suas imagens todo o movimento, a força e o fogo da palavra. Um filme tão absoluto que só apetece dizer: “este sim, é o mais belo filme de todos os tempos”.