CICLO
Double Bill


Nos sábados à tarde de novembro, nas habituais sessões duplas (dois filmes, um bilhete único), estarão em diálogo Yasujiro Ozu e Jean-Daniel Pollet (O GOSTO DO SAKÉ e DIEU SAIT QUOI); Truffaut e Toback (TIREZ SUR LE PIANISTE e FINGERS); Ingmar Bergman e Mário Peixoto (MÓNICA E O DESEJO e LIMITE); e R. W. Fassbinder e Djibril Diop Mambéty (O DIREITO DO MAIS FORTE À LIBERDADE e HYÈNES). Os “raccords” são muitos e variados. À poética dos objetos e do mundo dos dois primeiros, sucede-se o excesso das personagens que protagonizam os filmes de Truffaut e Toback, a modernidade sob o signo da água dos filmes do terceiro sábado do mês, e os muito atuais O DIREITO DO MAIS FORTE À LIBERDADE e HYÈNES.

 
07/11/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Samma No Aji | Dieu Sait Quoi
duração total da projeção: 202 min | M/12
 
14/11/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Tirez Sur le Pianiste | Fingers
duração total da projeção: 162 min | M/12
21/11/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Sommaren Med Monika | U Samogo Sinevo Moria
duração total da projeção: 158 min | M/12
28/11/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Faustrecht der Freiheit | Hyènes
duração total da projeção: 232 min | M/16
07/11/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Samma No Aji | Dieu Sait Quoi
duração total da projeção: 202 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

SAMMA NO AJI
O Gosto do Saké
de Yasujiro Ozu
com Shima Iwashita, Shinichiro Ikami, Chishu Ryu
Japão, 1962 – 112 min / legendado eletronicamente em português
DIEU SAIT QUOI
de Jean-Daniel Pollet
com Michael Lonsdale (voz)
França, 1993 – 88 minutos / legendado eletronicamente em português

Diretamente inspirado na poesia de Francis Ponge, em DIEU SAIT QUOI Jean-Daniel Pollet procura penetrar no “mundo mudo” de que fala um escritor obcecado com os objetos e com as relações entre as palavras e as coisas. Assumindo a intensidade deste produtivo diálogo, DIEU SAIT QUOI é também o corolário do próprio cinema de Pollet, convocando para o seu interior imagens do mítico MÉDITERRANÉE, que o cineasta realizou trinta anos antes, e a continuidade de um projeto assente na procura de “planos-signos”. A natureza, as pedras ou o mar, mas também as quatro estações do ano, conquistam aqui uma “qualidade de presença” única. SAMMA NO AJI foi o último filme de Yasujiro Ozu e é uma nova variação sobre uma história de separação familiar em reflexão nostálgica sobre o começo do "inverno da vida". É também a sua celebração e a despedida ao "gosto do saké", onde cabe toda a memória do passado e dos "bons tempos". Profundamente comovente, SAMMA NO AJI é um dos mais perfeitos filmes de Ozu, aquele onde a depuração do seu estilo atinge níveis supremos e onde o mundo é retratado de modo exemplar. Simples e sublime.
 

14/11/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Tirez Sur le Pianiste | Fingers
duração total da projeção: 162 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

TIREZ SUR LE PIANISTE
Disparem sobre o Pianista
de François Truffaut
com Charles Aznavour, Marie Dubois, Nicole Berger, Albert Rémy, Bobby Lapointe
França, 1960 – 80 minutos / legendado em português
FINGERS
Melodia para Um Assassino
de James Toback
com Harvey Keitel, Tisa Farrow, Jim Brown, Michael Seldes
Estados Unidos, 1978 – 86 min / legendado em português

Na sua segunda longa-metragem, Truffaut adotou um tom totalmente diferente de LES QUATRE CENTS COUPS, o seu filme de estreia, o que parece ter desconcertado o público à época. Embora situado num contexto totalmente francês, TIREZ SUR LE PIANISTE é uma homenagem ao filme negro americano, de que Truffaut era grande apreciador, porém com elementos de humor que não fazem parte daquele género. Charles Aznavour é o célebre pianista que, envolvido em esquemas obscuros, enceta um percurso assumidamente descendente. Em FINGERS, primeira longa-metragem de James Toback, o jovem Harvey Keitel é um músico disfuncional aspirante a pianista enredado entre as ligações do pai à máfia e as perturbações da mãe e consumido pelas obsessões e paranoias, que o levam a perder toda a noção de realidade. Tomando Nova Iorque como cenário, Toback constrói um filme cru, cuja crueza se reflete na estrutura abrupta de FINGERS e que Quentin Tarantino classificaria como pertencente ao género nova-iorquino dos “psicodramas de losers”. O próprio François Truffaut citaria Jean Cocteau a propósito de FINGERS, “Tudo o que não é cru é meramente decorativo”.
 

21/11/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Sommaren Med Monika | U Samogo Sinevo Moria
duração total da projeção: 158 min | M/12
Em virtude de problemas com a cópia de LIMITE, de Mário Peixoto, fomos obrigados a substituir o segundo filme do Double Bill desta sessão. Nesse sentido, MÓNICA E O DESEJO dialoga com À BEIRA DO MAR AZUL, de Boris Barnet.

entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 min

SOMMAREN MED MONIKA
Mónica e o Desejo
de Ingmar Bergman
com Harriet Andersson, Lars Ekborg, Dagmar Ebbesen, Ake Fridell
Suécia, 1952 - 87 min / legendado em português
U SAMOGO SINEVO MORIA
“À Beira do Mar Azul”
de Boris Barnet
com Elena Kuzmina, Lev Sverdlin, Nicolai Kriuchkov
URSS, 1933 – 71 min / legendado em português
 

SOMMAREN MED MONIKA marcou, da forma impressiva, os cineastas da Nouvelle Vague. A sua modernidade continua a ser uma das referências desta obra-prima de Ingmar Bergman, que conta a paixão de dois adolescentes que fogem das respetivas famílias para procurar as ilusões da felicidade pelas ilhas do arquipélago. U SAMOGO SINEVO MORIA é, como a generalidade da obra de Barnet, aparentemente “leve”, de um lirismo magistral, filmado do modo mais livre e menos convencional: dois jovens pescadores de um kholkoze apaixonam-se pela mesma rapariga, tornando-se rivais até um desconcertante final. Uma sequência inesquecível: a “ressurreição” da protagonista. Pouco visto à época, fora da URSS, À BEIRA DO MAR AZUL é hoje unanimemente considerado uma das obras máximas do cinema russo, ou do cinema.
 

28/11/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Faustrecht der Freiheit | Hyènes
duração total da projeção: 232 min | M/16
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

FAUSTRECHT DER FREIHEIT
O Direito do Mais Forte à Liberdade
de Rainer W. Fassbinder
com Rainer W. Fassbinder, Peter Chatel, Ulla Jacobsen, Karlheinz Böhm
Alemanha, 1974 – 122 min / legendado em português
HYÈNES
de Djibril Diop Mambéty
com Ami Diakhate, Djibril Diop Mambéty, Mansour Diop
Senegal, 1995 – 110 min / legendado eletronicamente em português

Um dos filmes mais célebres de Fassbinder, que também desempenha o papel principal. O DIREITO DO MAIS FORTE À LIBERDADE foi um dos filmes que Fasssbinder fez a seguir à descoberta do cinema de Douglas Sirk, cujo universo cinematográfico transpõe de modo muito particular. O tema do filme é, mais uma vez a manipulação dos sentimentos: um proletário, que ganha na lotaria, torna-se amante de um burguês cujos negócios não correm bem. O filme começa como um sonho e acaba em pesadelo: depois de explorado até ao último tostão, o proletário é abandonado, num desenlace nada feliz. Autor de um clássico, TOUKI BOUKI (1973), o senegalês Djibril Diop Mambéty (1945-93) foi uma das figuras mais livres e independentes de todo o cinema africano. Em HYÈNES, adapta para o contexto africano um dos clássicos do teatro europeu do século XX, A Visita da Velha Senhora, de Friedrich Dürenmatt. Uma mulher idosa e próspera (descrita no filme como “tão rica como o Banco Mundial”), outrora seduzida e abandonada, regressa à terra natal. Num cenário de crise, as autoridades locais querem convencê-la a doar o seu dinheiro à aldeia, mas ela impõe uma condição. Uma parábola sobre o poder do dinheiro e as fraquezas de uma comunidade, que se transforma numa tragédia que adquire ressonâncias únicas no contexto Senegalês. É a face do dinheiro, fria e determinada, como refere a música que enquadra O DIREITO DO MAIS FORTE À LIBERDADE, “Tudo e todos têm o seu preço”.