CICLO
Double Bill


À letra seria “Sessão Dupla”, mas a designação desta também nova rubrica regular de programação para 2015, todos os sábados a partir das 15h30, é mesmo no original: “Double Bill”, uma sessão para dois filmes concebida com uma lógica única (e de bilhete único). A “tradição” vem dos anos trinta americanos da Grande Depressão e foi uma prática até mais ou menos aos sessenta. O exercício, aqui e agora, é o de trazer para dentro deste “modelo”, a lógica última da programação de cinema, estabelecer pontes entre filmes, pô-los em diálogo, propor rimas, uma montagem, mais ou menos declarados. Os primeiros double bill de 2015 juntam Carpenter e Pollet (THE THING e LE HORLA), Wiseman e Moullet (WELFARE e LA COMÉDIE AU TRAVAIL), Godard e Kramer (LE PETIT SOLDAT e THE EDGE), Tourneur e Lynch (STARS IN MY CROWN e BLUE VELVET).

 
10/01/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

THE THING | LE HORLA
duração total da sessão dupla: 146 min | M/12
 
17/01/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

WELFARE | LA COMÉDIE DU TRAVAIL
duração total da sessão dupla: 255 min | M/12
24/01/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

LE PETIT SOLDAT | THE EDGE
duração total da sessão dupla: 181 min | M/12
31/01/2015, 15h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Double Bill

STARS IN MY CROWN | BLUE VELVET
duração total da sessão dupla: 209 min | M/16
10/01/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
THE THING | LE HORLA
duração total da sessão dupla: 146 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

THE THING
Veio do Outro Mundo
de John Carpenter
com Kurt Russell, A. Wilford Brimley, Richard Dysart, Richard Masur, Donald Moffat
Estados Unidos, 1982 – 108 min / legendado eletronicamente em português
LE HORLA
de Jean-Daniel Pollet
com Laurent Terzieff
França, 1966 – 38 min / legendado eletronicamente em português
 

O primeiro double bill de 2015 junta Carpenter e Pollet. Nova versão do filme de Hawks-Nyby, THE THING FROM ANOTHER WORLD, para o qual John Carpenter trouxe a panóplia da tecnologia moderna para os sofisticados efeitos especiais, o “nec plus ultra” do género até então. A versão de Carpenter é mais fiel à história original Who Goes There de John W. Campbell, sobre o combate de um grupo de cientistas contra um extraterrestre mutante numa estação polar. LE HORLA transpõe livremente uma novela fantástica de Maupassant (primeiro publicada como Lettre d’un Fou e depois Le Horla, em 1885/86), em que um jovem, belo e vulnerável homem, única personagem do filme, é visitado pela loucura numa solitária casa à beira mar. Dois filmes sobre “a coisa”, a coisa inimaginável, isto é, sem imagem possível de fixar.
 

17/01/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
WELFARE | LA COMÉDIE DU TRAVAIL
duração total da sessão dupla: 255 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

WELFARE
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 1975 – 167 min / legendado eletronicamente em português
LA COMÉDIE DU TRAVAIL
de Luc Moullet

com Roland Blanche, Sabine Haudepin, Henri Deus, Antonietta Pizzorno
França, 1987 – 88 min / legendado eletronicamente em português

WELFARE revela a natureza e a complexidade do sistema social norte-americano através de um conjunto de sequências que ilustram a diversidade de problemas que dele fazem parte: desemprego, divórcio, questões médicas e de alojamento, abandono infantil, apoio aos idosos, etc. Wiseman traça o retrato de um centro de assistência social, mostrando como os trabalhadores do sistema e os seus utentes enfrentam uma luta diária para se enquadrar nas leis governamentais que os regem. Um olhar acutilante sobre uma instituição americana, que é um dos mais importantes filmes de Wiseman deste período. Fazendo jus ao seu título, LA COMÉDIE DU TRAVAIL é uma comédia sobre o absurdo da situação do trabalho na Europa de fins do século XX, girando à volta das intrincadas relações entre o desemprego e o sistema de subsídios para o desemprego. Uma funcionária da Agência Nacional para o Emprego apaixona-se por um desempregado profissional, um homem que consegue desenrascar-se para viver eternamente do magro subsídio de desemprego. A mulher quer que o homem consiga um trabalho, custe o que custar.
 

24/01/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
LE PETIT SOLDAT | THE EDGE
duração total da sessão dupla: 181 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

LE PETIT SOLDAT
O Soldado das Sombras
de Jean-Luc Godard

com Michel Subor, Anna Karina, Henri-Jacques Huet
França, 1960 – 79 min / legendado em português
THE EDGE
de Robert Kramer
com Jack Rader, Tom Griffin, Howard Loeb Babeuf, Robert Kramer
Estados Unidos, 1967 – 102 min / legendado eletronicamente em português

Um desertor francês alista-se num grupo de extrema-direita suíço, do qual mais tarde tenta fugir por amor de uma mulher. Esta é a sinopse de LE PETIT SOLDAT, um dos mais polémicos filmes de Godard, acusado à época de "fascismo" por parte da esquerda oficial e proibido em França durante três anos, devido às muitas alusões à Guerra da Argélia, então no auge (nomeadamente uma longa e célebre cena de tortura). Sempre que Anna Karina (no seu primeiro encontro com Godard) entra em cena rouba toda a luz à sua volta. THE EDGE foi o filme que projetou o nome de Robert Kramer (trata-se da sua segunda longa-metragem), e é uma ficção sobre as lutas políticas dos anos sessenta, muito precisamente as lutas políticas americanas, sobretudo o combate à Guerra do Vietname. O filme situa-se num grupo de intelectuais e militantes políticos de Nova Iorque. Um deles quer assassinar o presidente dos Estados Unidos, mas o grupo opõe-se a esta ideia.
 

31/01/2015, 15h30 | Sala Luís de Pina
Double Bill
STARS IN MY CROWN | BLUE VELVET
duração total da sessão dupla: 209 min | M/16
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

STARS IN MY CROWN
de Jacques Tourneur
com Joel McCrea, Ellen Drew, Dean Stockwell, Juano Hernandez, Dean Stockwell
Estados Unidos, 1950 – 89 min / legendado em português
BLUE VELVET
Veludo Azul
de David Lynch
com Kyle MacLachlan, Isabella Rossellini, Dennis Hopper, Laura Dern, Dean Stockwell
Estados Unidos, 1986 – 120 min / legendado em português

STARS IN MY CROWN é, talvez, o mais belo e perfeito exemplo daquilo a que se chama “Americana” (evocação nostálgica do passado dos EUA) no cinema. É também o mais pessoal dos filmes de Jacques Tourneur, que, para o dirigir, aceitou um salário simbólico. Praticamente sem história, STARS IN MY CROWN é uma coleção de vinhetas da vida numa pequena cidade no interior dos EUA no século XIX, que retrata sentimentos e emoções e tem como ponto de partida a vida de uma criança com o seu pai, pregador, na vila que os adotou, onde o tranquilo deslizar do tempo é por vezes quebrado pelo drama (a tentativa de linchamento pelo KKK). Sob a atmosfera idílica de uma comunidade rural esconde-se o crime, o vício e a paranoia, num filme que subverte os estereótipos do “filme negro”, BLUE VELVET. David Lynch leva-nos numa viagem iniciática por um mundo sinistro, a partir da estranha descoberta de uma orelha humana num jardim. Viagem através da luz, viagem através da sombra, num filme pleno de cenas memoráveis. BLUE VELVET ou o outro lado do espelho da Americana, com o mesmo protagonista de Tourneur, Dean Stockwell.