CICLO
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras


Chegamos ao fim deste Ciclo iniciado em novembro, com algumas dessas sessões em segundas passagens, quatro filmes particularmente marginais e um de Glauber Rocha, em que ele é inegavelmente influenciado por este cinema de que foi inimigo. Como observou o crítico Inácio Araújo, num texto que sintetizamos: “Os filmes deste ciclo não caracterizam um estilo, nem uma corrente. Eles são, no entanto, um documento amplo sobre uma época e um estado de espírito. Estávamos no coração da ditadura. Entrávamos numa noite tenebrosa, da qual não se vislumbrava a saída Era uma situação bastante contraditória para quem aprendera a acreditar no Cinema Novo e havia feito na cabeça uma mistura de Freud com Marx, Nietszche e Artaud, irmãos Campos e Oswald de Andrade. Havia toda uma moral se transformando e a gente ia se transformando com ela, com paus e pedras, mas lá ia. Será que é desse choque que nasce esse cinema ‘underground’, ‘marginal’ ou ‘de invenção’ ou o nome que se queira dar? Pode ser. Algum tempo antes, Rogério Sganzerla, premonitoriamente, lembrava com o seu BANDIDO DA LUZ VERMELHA que não podia fazer nada, avacalhava. Mas avacalhava com jeito. Este cinema não veio para explicar, talvez tenha vindo para confundir. Deleitava-se em construir um país secreto – às vezes abjeto, não raro cheio de humor – que parecia nascer daquelas imagens e estabelecer elos que permitiam às pessoas manter-se à tona no meio da borrasca”. Salvo os títulos já exibidos em novembro e à exceção do filme de Glauber Rocha, tratam-se de primeiras exibições na Cinemateca.

 
19/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Jardim de Guerra
de Neville Duarte d’Almeida
Brasil, 1968 - 100 min
 
19/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Viagem ao Fim do Mundo
de Fernando Coni Campos
Brasil, 1967 - 95 min
20/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Contestação | Orgia ou O Homem Que Deu Cria
duração total da sessão: 100 min
20/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Sem Essa, Aranha
de Rogério Sganzerla
Brasil, 1970 - 102 min
21/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Sagrada Família
de Sylvio Lanna
Brasil, 1970 - 85 min
19/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Jardim de Guerra
de Neville Duarte d’Almeida
com Joel Barcelos, Glauce Rocha, Nelson Pereira dos Santos
Brasil, 1968 - 100 min

Obra de estreia de Neville Duarte d’Almeida, JARDIM DE GUERRA foi retalhado pela censura do regime militar brasileiro. Filme político não convencional (“o mundo vai ser feliz quando o último capitalista for enforcado nas tripas do último estalinista”), o filme faz-nos seguir, pelo Rio de Janeiro, um jovem aparentemente leviano, que aceita cumprir uma misteriosa missão. “O filme é o resultado da rigorosa formação cinéfila do realizador e das suas economias do período em que foi empregado de mesa em Nova Iorque. Neville absorveu bem o ideograma godardiano a o pôs em prática num estilo bastante pessoal” (Remier Lion).

19/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Viagem ao Fim do Mundo
de Fernando Coni Campos
com Karim Rodriguesa, Annil Malvil, Talula Campos
Brasil, 1967 - 95 min

Realizado no Rio de Janeiro, este filme é considerado por alguns como um dos precursores do underground local. “A sobreposição de vários níveis de enunciação e de várias formas de linguagem contemporânea destroem paulatinamente a ideia de uma narrativa mesmo uma narrativa sofisticada. O filme começa com o encontro casual, numa banca de jornais, de um livro de Machado de Assis e prossegue incorporando fascismo, consumo, misticismo, pobreza…” (Hernani Heffner). Na banda sonora, alguns clássicos de Caetano Veloso do período Tropicalista.

20/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Contestação | Orgia ou O Homem Que Deu Cria
duração total da sessão: 100 min

CONTESTAÇÃO
ORGIA OU O HOMEM QUE DEU CRIA
com Pedro Paulo Rangel, Ozualdo Candeias, Janira Santiago
de João Silvério Trevisan
Brasil, 1969 e 1970 – 10 e 90 min

ORGIA OU O HOMEM QUE DEU CRIA é um filme alegórico, sem começo, meio e fim, de absoluto nonsense, em que um grupo de personagens se junta ao acaso, com a intenção de achar o lugar onde se encontra o Brasil. Acabam por chegar a um cemitério, “onde tudo se fixa na inversão carnavalesca de tipos conhecidos do cinema brasileiro” (Guiomar Ramos): um camponês mata o pai, um travesti declama Oswald de Andrade, um cangaceiro está grávido. A abrir a sessão, a curta-metragem de estreia do realizador.
 

20/12/2012, 22h00 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Sem Essa, Aranha
de Rogério Sganzerla
com Jorge Loredo, Helena Ignez, Maria Gladys
Brasil, 1970 - 102 min

Terceira longa-metragem do realizador, produzida por Júlio Bressane, SEM ESSA, ARANHA radicaliza a proposta de O BANDIDO DA LUZ VERMELHA. O protagonista é um banqueiro desonesto e Sganzerla confiou o papel a Jorge Loredo, que criara para a televisão uma personagem cómica chamado Zé Bonitinho, caricatura do galã plebeu. O localmente célebre Zé Bonitinho “se mistura tão bem ao Aranha do filme que parece uma invenção do próprio Rogério” (Remier Lion). Ameaçado de ser preso, o realizador teve de fugir à pressa para Paris com o negativo do filme.

21/12/2012, 19h30 | Sala Luís de Pina
O Cinema Marginal Brasileiro e as suas Fronteiras

Em parceria com a Cinemateca Brasileira e com o apoio da Embaixada do Brasil em Portugal
Sagrada Família
de Sylvio Lanna
com Paulo César Pereio, Nelson Vaz, Wanda Maria Franqueira
Brasil, 1970 - 85 min

O montador Geraldo Veloso observou que “SAGRADA FAMÍLIA já pode se prestar a exames arqueológicos de investigadores que se interessem pela pré-história da contracultura brasileira”. A banda sonora, totalmente desconectada da imagem, foi gravada pelo realizador durante experiências que teve com LSD. As imagens começaram a ser registadas em 1969, pela mesma equipa que faria de seguida BANG BANG, de Andrea Tonacci. As semelhanças entre os dois filmes são visíveis a nível da mise en scène, mas SAGRADA FAMÍLIA é menos lúdico e mostra uma família burguesa que troca a cidade pelo campo e perde a noção de classe.