CICLO
Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano


No cinema clássico mexicano, que se estende dos anos 30 aos anos 50 e é conhecido no México como a idade de ouro, o realizador mais conhecido, pelo menos fora do país, é Emilio Fernández, dito “El Indio” (1904-86), que também foi ator, função em que fez várias incursões a Hollywood. Mas entre os outros nomes deste cinema, feito em moldes industriais e excelentes condições técnicas, sobressai o de Roberto Gavaldón (1909-86), ativo de 1936 a 1977, autor de quarenta e um filmes, entre os quais avultam diversos clássicos da idade de ouro dos estúdios mexicanos em que, paralelamente às comédias, predominavam os melodramas e os filmes ligados à posse e à conquista da terra. São exemplos LA OTRA, LA DIOSA ARRODILLADA, LA ESCONDIDA, para citarmos alguns dos seus filmes mais conhecidos, que se tornaram clássicos. Paralelamente à sua alta qualidade artesanal (fotografia e cenários nada devem ao que se fazia de melhor na Europa e nos Estados Unidos, pode-se inclusive dizer que o cinema mexicano praticamente criou um estilo específico de fotografia), o cinema mexicano clássico desenvolveu uma dramaturgia original, que não recusa as situações mais extravagantes, mas reserva sempre surpresas ao espectador, que muitas vezes pensa prever as próximas peripécias da ação e é surpreendido por elementos inteiramente imprevistos. Esta conjunção entre uma alta qualidade técnica e uma inegável originalidade narrativa, a que se acrescenta a mistura entre uma conceção hollywoodesca de cinema e personagens que em nada se parecem às de Hollywood, dão uma identidade única a este cinema, que não se limitou ao mercado mexicano, foi exportado para diversas regiões do mundo. Depois de três filmes em que foi assistente de realização ou correalizador, entre os quais uma adaptação de O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, Gavaldón impõe de imediato o seu nome com o primeiro filme que assina sozinho, o drama camponês LA BARRACA (1945). A partir daí realiza um ou dois filmes por ano durante cerca de quinze anos, antes de abrandar o ritmo da sua produção nos anos 60. Na sua produção destacam-se, entre outros, LA OTRA, história de duas gémeas rivais, LA DIOSA ARRODILLADA, que leva a um ponto extremo as extravagâncias dos melodramas mexicanos, EN LA PALMA DE TU MANO, história de um astrólogo desonesto, ou DESEADA, mais um melodrama, em que uma irmã se sacrifica pela outra. Nestes filmes, sobre amores impossíveis e tragédias que nada consegue evitar, Gavaldón colaborou frequentemente com o grande diretor de fotografia Alex Philips e com as grandes vedetas do cinema mexicano da época - Dolores del Río, María Félix, Pedro Armendáriz e Arturo de Córdova -, todas elas especializadas num certo tipo de papel: mulher sofisticada ou impulsiva, camponês oprimido, grande neurótico. Os melhores elementos de uma cinematografia extremamente original reúnem-se nos filmes deste importante realizador, de que a Cinemateca Portuguesa, ao longo dos anos, só apresentou quatro filmes. Esta falha será reparada com este Ciclo em que poderemos descobrir ou redescobrir vinte e dois filmes de um dos grandes realizadores do período clássico e não apenas no âmbito do cinema mexicano.
 
 
12/09/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano

La Diosa Arrodillada
A Deusa Ajoelhada
de Roberto Gavaldón
México, 1947 - 107 min
 
13/09/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano

El Rebozo De Soledad
de Roberto Gavaldón
México, 1962 - 111 min
15/09/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano

Camelia
Camélia
de Roberto Gavaldón
México, 1954 - 110 min
16/09/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano

Rayando El Sol
de Roberto Gavaldón
México, 1946 - 93 min
17/09/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano

La Diosa Arrodillada
A Deusa Ajoelhada
de Roberto Gavaldón
México, 1947 - 107 min
12/09/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano
La Diosa Arrodillada
A Deusa Ajoelhada
de Roberto Gavaldón
com María Félix, Arturo de Córdova, Charito Granados
México, 1947 - 107 min
legendado eletronicamente em português | M/12
María Félix noutra das suas personagens excessivas, possessivas, dominadoras, destruidoras, mas que acaba por se deixar prender pelo amor. Um homem e uma mulher encontram-se e amam-se sem revelar quem são um ao outro. Da parte dela há um calculismo que acaba por ser vencido pelo amor. Da parte dele, o dilema entre a paixão e a família. Um amor condenado a perder-se. Dela ficará apenas a estátua da “deusa ajoelhada”. Um extraordinário melodrama, que contraria todos os clichés previsíveis, e bem merece o adjetivo de “barroco”.


A sessão repete no dia 17 às 15h30, na Sala M. Félix Ribeiro

consulte a FOLHA da CINEMATECA aqui
13/09/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano
El Rebozo De Soledad
de Roberto Gavaldón
com Arturo de Córdova, Estela Inda, Pedro Armendáriz
México, 1962 - 111 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um médico citadino muda-se para uma região rural do interior do México. A partir daqui, Gavaldón, num filme em estrutura episódica, constrói uma reflexão sobre os contrastes inerentes à sociedade mexicana no seu todo, à clivagem entre a cultura urbana e a cultura rural, ao lugar de homens e mulheres em cada um dos dois polos. Sem maniqueísmos, mas também sem contemplações. A fotografia é do grande operador Gabriel Figueroa, que estamos mais habituados a ver com Emilio Fernández do que com Gavaldón.

A sessão repete no dia 26 às 19h00, na Sala M. Félix Ribeiro

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15/09/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano
Camelia
Camélia
de Roberto Gavaldón
com María Félix, Jorge Mistral, Carlos Navarro
México, 1954 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Uma variação sobre a Dama das Camélias, trazida para o coração do melodrama mexicano: aqui o homem é um toureiro, e a mulher (María Félix, mais fatalista do que nunca) é uma atriz de passado duvidoso, possivelmente ex-prostituta. Tudo é exacerbado a um ponto máximo, de tal forma que até os mais fervorosos comentadores de Gavaldón admitem que se trata de um exagero “over the top” que deixa pelo caminho qualquer réstia de plausibilidade. Ao mesmo tempo, tal descrição deixa água na boca.

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16/09/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano
Rayando El Sol
de Roberto Gavaldón
com Pedro Armendáriz, Maria Luisa Zea, David Silva
México, 1946 - 93 min
legendado eletronicamente em português | M/12
De 1946, o mesmo ano de LA OTRA e EL SOCIO, um dos filmes de Gavaldón mais esquecidos. Mais um melodrama rural com triângulo amoroso, e todo o folclore da vida nas haciendas. Tido como uma derivação daquela via do melodrama que teve em Emilio Fernández o principal expoente, certamente guarda boas surpresas.

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17/09/2025, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Roberto Gavaldón, O Outro Mexicano
La Diosa Arrodillada
A Deusa Ajoelhada
de Roberto Gavaldón
com María Félix, Arturo de Córdova, Charito Granados
México, 1947 - 107 min
legendado eletronicamente em português | M/12
María Félix noutra das suas personagens excessivas, possessivas, dominadoras, destruidoras, mas que acaba por se deixar prender pelo amor. Um homem e uma mulher encontram-se e amam-se sem revelar quem são um ao outro. Da parte dela há um calculismo que acaba por ser vencido pelo amor. Da parte dele, o dilema entre a paixão e a família. Um amor condenado a perder-se. Dela ficará apenas a estátua da “deusa ajoelhada”. Um extraordinário melodrama, que contraria todos os clichés previsíveis, e bem merece o adjetivo de “barroco”.

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