CICLO
In Memoriam Maria José Branco (1951-2025)


Maria José Branco foi uma das personalidades mais fortes e mais livres do cinema português dos últimos quarenta anos, responsável pelos cenários de mais de cinquenta filmes portugueses e franceses, e também pelo guarda-roupa de muitos outros, num total de mais de setenta filmes. Nascida em Lisboa, estudou na Escola Superior de Artes Decorativas Ricardo Espírito Santo e durante uma estadia em Londres, que ela dizia ter-lhe aberto para sempre os olhos para horizontes mais vastos, frequentou o London College of Furniture. Estreou-se naquela que foi uma das grandes aventuras do cinema português, FRANCISCA (1981), em que Manoel de Oliveira marcou de modo definitivo a sua posição singular no cinema. Neste filme Maria José Branco foi assistente de António Casimiro, numa rodagem feita em condições artesanais, num ambiente onde havia cumplicidade e em que todos acreditavam que colaboravam num filme excecional. Este foi o único trabalho de Maria José Branco como assistente. No ano seguinte é responsável pelos cenários das cenas rodadas em Portugal de O ESTADO DAS COISAS/DER STAND DER DINGE, de Wim Wenders, cuja produção foi organizada de imprevisto durante uma estadia do realizador em Portugal e resultou num dos seus filmes mais apreciados. A partir de então o nome de Maria José Branco está intimamente ligado ao cinema mais ambicioso feito em Portugal, o que a levou a trabalhar com realizadores de várias gerações: Manoel de Oliveira (LE SOULIER DE SATIN, MON CAS, VALE ABRAÃO, PARTY), Pedro Costa (CASA DE LAVA, OSSOS), Fernando Lopes, João Mário Grilo, João Canijo, Teresa Villaverde, Margarida Gil, Carlos Saboga, Bruno de Almeida, Raquel Freire, Gabriel Abrantes. Além de Wim Wenders, colaborou com diversos outros realizadores não portugueses: Raúl Ruiz, em alguns dos seus filmes mais radicais (LA VILLE DES PIRATES, POINT DE FUITE, A ILHA DO TESOURO), André Téchiné (LES INNOCENTS, LES TEMPS QUI CHANGENT), Jacques Doillon, Eugène Green, Gaël Morel. Gostava de liberdade e tinha o gosto pela aventura, o que a levou a propor, à distância, os seus serviços a um realizador indiano, de cuja existência tomara conhecimento pela Internet. Depois de ler o currículo dela, ele aceitou a sua presença profissional no set e foi assim que Maria José Branco colaborou, não creditada, em KUTTY SRANK: THE SAILOR OF HEARTS (2009), de Shaji N. Karun, que considerou uma experiência feliz. Para ela, a aventura da rodagem, com os seus imprevistos e as suas cumplicidades, era tão importante quanto o resultado, nos mais de setenta filmes em que trabalhou ao longo de quarenta anos. Maria José Branco não pôde trabalhar nos seus últimos três anos de vida, mas para ela estar privada da aventura do cinema era estar privada de um elemento essencial da vida.
 
 
17/04/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam Maria José Branco (1951-2025)

Mon Cas
O Meu Caso
de Manoel de Oliveira
França, Portugal, 1986 - 88 min
 
21/04/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo In Memoriam Maria José Branco (1951-2025)

O Delfim
de Fernando Lopes
Portugal, 2001 - 83 min
23/04/2025, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam Maria José Branco (1951-2025)

Les Innocents
A Culpa dos Inocentes
de André Téchiné
França, 1987 - 97 min
17/04/2025, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam Maria José Branco (1951-2025)
Mon Cas
O Meu Caso
de Manoel de Oliveira
com Bulle Ogier, Luís Miguel Cintra, Axel Bougousslavsky, Fred Personne
França, Portugal, 1986 - 88 min
versão original falada em francês, com legendas eletrónicas em português | M/12
Sessão com apresentação
Baseado em José Régio (O Meu Caso), Samuel Beckett (Pour En Finir et Autres Foirades) e na Bíblia (Livro de Job), o filme, falado em francês, pertence à mesma vertente de OS CANIBAIS, que Oliveira realizou a seguir. No centro de tudo, está a representação, com a peça O Meu Caso de Régio mostrada sob três ângulos: em palco, em montagem acelerada e retomada, com toda a banda sonora, em marcha-atrás. Segue-se um quadro crepuscular da civilização moderna, sobre trechos do Livro de Job, terminando com uma recriação de Piero Della Francesca. Cenários de Maria José Branco.

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21/04/2025, 19h30 | Sala Luís de Pina
In Memoriam Maria José Branco (1951-2025)
O Delfim
de Fernando Lopes
com Rogério Samora, Alexandra Lencastre, Rui Morrison, Miguel Guilherme
Portugal, 2001 - 83 min
M/12
Fernando Lopes filmou a adaptação do romance de José Cardoso Pires a partir do argumento escrito por Vasco Pulido Valente, dando a Rogério Samora e a Alexandra Lencastre dois dos seus melhores papéis em cinema: Portugal, finais dos anos 60, Tomás Palma Bravo, o Delfim, senhor da Lagoa, da Gafeira e marido de Maria das Mercês, “é o herdeiro de um mundo em decomposição”. À volta da sua personagem, o retrato da agonia lenta do país salazarista em plena Guerra Colonial. A direção de arte do filme coube a Maria José Branco.

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23/04/2025, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam Maria José Branco (1951-2025)
Les Innocents
A Culpa dos Inocentes
de André Téchiné
com Jean-Claude Brialy, Sandrine Bonnaire, Simon de La Brosse, Abdellatif Kechiche
França, 1987 - 97 min
legendado em português | M/16
LES INNOCENTS é um filme admiravelmente construído. Situado em Toulon, no litoral mediterrânico, o filme tece uma complexa teia de relações entre os personagens: uma jovem vinda do norte de França, o seu irmão surdo-mudo, um maestro de meia-idade e duas figuras ligadas ao maestro: o seu jovem amante árabe e o seu filho, ligado a grupos de extrema-direita. Uma história trágica, notavelmente realizada e interpretada. Cenários de Maria José Branco.

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