16/09/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Monique Rutler – “Isto Vai Mudar!”
Cinemagazine Nº 13, 40, 51 [Excertos] | Solo De Violino
com a presença de Monique Rutler
Cinemagazine Nº 13, 40, 51 [Excertos]
de Fernando Matos Silva
Portugal, 1989-90 – 9 min
Solo De Violino
de Monique Rutler
com Fernanda Lapa, André Gago, Vítor Santos
Portugal, Brasil, 1990 – 100 min
duração total da projeção: 109 min | M/12
Antes de Mário Barroso ter feito ORDEM MORAL, antes de Agustina Bessa-Luís ter escrito Doidos e Amantes, foi Monique Rutler (com os coargumentistas Gonsalves Preto e Cesário Borga) que escavaram a infame história de Adelaide Coelho da Cunha. Filha do fundador do Diário de Notícias, Adelaide teve a ousadia de – em 1918 – deixar o marido e o filho por um homem mais novo, ainda para mais um “subalterno”, o seu chauffeur. Para manter a honra da família, o marido (e então diretor do referido jornal) fez de tudo para declarar a sua mulher louca (arranjando pareceres das grandes sumidades da época, Egas Moniz e Júlio de Matos). Adelaide não se calou nem se rendeu e o escândalo rebentou nos jornais. A partir dos muitos artigos, folhetins, brochuras e livretes que foram publicados nesse início de século, Monique Rutler constrói um filme de época feminista, protagonizado magistralmente por Fernanda Lapa. SOLO DE VIOLINO é o mais ambicioso dos filmes de Monique Rutler, aquele que melhor expõe o seu posicionamento político e aquele de que a realizadora mais se orgulha. A abrir a sessão apresentam-se excertos de três episódios do programa Cinemagazine onde se acompanha o projeto na fase de escrita, rodagem e pós-produção.
16/09/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Monique Rutler – “Isto Vai Mudar!”
L’Invitation au Voyage | Nathalie Granger
Filmes de Realizadoras escolhidas por Monique Rutler
L’Invitation au Voyage
de Germaine Dulac
com Emma Gynt, Raymond Dubreuil,
Robert Mirfeuil, Paul Lorbert
França, 1927 – 36 min
Nathalie Granger
Nathalie Granger
de Marguerite Duras
com Lucia Bosé, Jeanne Moreau, Gérard Depardieu
França, 1972 – 73 min
duração total da projeção: 109 min
legendados eletronicamente em português | M/12
Germaine Dulac foi uma forte personalidade, feminista militante, organizadora de cineclubes e presença marcante do cinema francês “de vanguarda” dos anos 20. Como todos os cineastas de vanguarda, buscou um cinema puro, feito apenas de ritmo, da concatenação das imagens, que se associam e, eventualmente, se dissociam. L’INVITATION AU VOYAGE transpõe de modo não convencional o célebre poema homónimo de Baudelaire. Baseado num argumento original de Antonin Artaud, com uma narrativa indireta e onírica – um filme de viagens interiores. Em contradição e complemento, a vida ao ralenti de NATHALIE GRANGER, onde se retrata uma tarde na vida de duas mulheres, fechadas em casa e em silêncio. Uma delas, Isabelle Granger, está preocupada com o comportamento violento da filha Nathalie. Do mundo exterior surgem ecos via rádio (a presença de um par de assassinos na região) e, mais tarde, um vendedor de máquinas de lavar. Na singularidade narrativa de Duras, sobressaem uma poderosa impressão de um tempo suspenso e uma angústia contida. Um dos mais belos e secretos filmes de Duras.
17/09/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Monique Rutler – “Isto Vai Mudar!”
O Aborto não é um Crime | Nascer: A Grande Agressão
com a presença de Fernando Matos Silva, João Matos Silva e Maria Antónia Palla (a confirmar)
O Aborto não é um Crime
de Cinequipa
com Maria Antónia Palla, Maria Belo
Portugal, 1976 – 55 min
Nascer: A Grande Agressão
de Monique Rutler
Portugal, 1982 – 26 min
duração total da projeção: 81 min | M/12
Talvez nenhum outro filme tenha mexido tanto com os alicerces da nova sociedade democrática pós-25 de Abril como O ABORTO NÃO É UM CRIME. Parte da série Nome Mulher, com autoria das jornalistas Maria Antónia Palla e Antónia de Sousa, o filme foi realizado pela Cinequipa para a RTP tendo sido exibido a 4 de fevereiro de 1976 pelas 22h00. O número de queixas que começaram a chegar nos dias seguintes foi astronómico. Os setores mais conservadores da sociedade insurgiram-se perante um filme que não só falava abertamente do aborto, como mostrava imagens explícitas de uma interrupção de gravidez (deve-se a Monique Rutler a coragem dessas imagens – segundo conta a lenda, o operador desmaiou e foi a realizadora que pegou na câmara e terminou a filmagem do procedimento). Houve uma queixa ao Ministério Público, todos os elementos da Cinequipa foram chamados a interrogatório e Maria Antónia Palla, que dava a cara na abertura e no fecho do programa, foi acusada de incitamento ao crime e prática ilegal de medicina – a jornalista seria ilibada de todas as acusações em 1979. A polémica em torno do filme gerou um intenso debate na sociedade portuguesa que deu força à campanha que defendia a realização do referendo à Despenalização do Aborto. A fechar a sessão, apresenta-se um outro programa de televisão realizado por Monique Rutler, da série Viagem Através do Homem, que igualmente gerou grande polémica, uma vez que foi censurado pela direção de programas da RTP pelo seu retrato cru da sociedade portuguesa. Trata, igualmente, das questões da natalidade e do planeamento familiar. NASCER: A GRANDE AGRESSÃO é exibido pela primeira vez na Cinemateca, em cópia de 16mm. O ABORTO NÃO É UM CRIME é exibido em nova cópia digital onde se apresenta o “final alternativo” da versão para cinema, produzida em 1977.
17/09/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Monique Rutler – “Isto Vai Mudar!”
Suspense | Street Corner
Filmes de Realizadoras escolhidas por Monique Rutler
Suspense
de Lois Weber
Estados Unidos, 1913 – 10 min
Street Corner
de Muriel Box
com Anne Crawford, Peggy Cummins, Rosamund John
Reino Unido, 1953 – 94 min
duração total da projeção: 104 min
legendados eletronicamente em português | M/12
Florence Lois Weber, a mais prolífica das realizadoras do cinema mudo (com uma obra paralela à de D. W. Griffith), realizou em 1913 a curta-metragem SUSPENSE, o filme que primeiro recorreu ao uso do split screen nos EUA (para dar a ocorrência paralela de eventos ligados pelas linhas telefónicas). Neste pequeno filme (onde Weber é, além de realizadora, argumentista e a protagonista), experimenta--se uma plêiade de soluções visuais desconcertantes, para construir um “filme de cerco” sobre a violação do espaço doméstico. Já Muriel Box foi a mais prolífica das realizadoras inglesas do século XX, tendo realizado treze longas-metragens ao longo das décadas de 1950 e 1960 (além disso, foi uma importante argumentista, sendo a primeira mulher a receber um Oscar na categoria de Melhor Argumento Original). STREET CORNER versa sobre o trabalho e as agruras das mulheres-polícia (Anne Crawford, Rosamund John) na cidade de Chelsea, num filme que claramente se inspira nos policiais de Alfred Hitchcock. Segundo a realizadora, este foi um filme realizado com uma equipa técnica e artística predominantemente feminina e “nunca fui tão feliz e livre numa rodagem”. Os dois filmes são exibidos pela primeira vez na Cinemateca, ambos em cópia digital
18/09/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Monique Rutler – “Isto Vai Mudar!”
Cães que Ladram aos Pássaros | Jogo de Mão
Ambos os filmes são exibidos igualmente no âmbito da apresentação da mostra “Elas Fazem Filmes”, organizada pela associação MUTIM - Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento.
CÃES QUE LADRAM AOS PÁSSAROS
de Leonor Teles
com Vicente Gil, Salvador Gil, Maria Gil, Mariana Gil, António Gil
Portugal, 2019 – 21 min
JOGO DE MÃO
de Monique Rutler
com João Lagarto, Júlio César, São José Lapa, Orlando Costa, Zita Duarte, Teresa Roby, João Calvário, Carlos Wallenstein, Isabel de Castro
Portugal, 1983 – 109 min
duração total da sessão: 130 min | M/12
Segunda das três longas-metragens realizadas até hoje por Monique Rutler, apresentada em competição oficial no Festival de Veneza em 1983, JOGO DE MÃO combina todas as recorrências do cinema da autora com uma experiência narrativa particular (as suas quatro histórias, lançadas pelo jogo de mão dos Robertos) que, entre outros efeitos, lhe permitem ampliar muito o espectro de representação sociológica. Filme sem centro – ou em que o centro é precisamente o de uma certa vivência quotidiana portuguesa, visível ou subterrânea –, é portanto, antes de mais, um exemplo do cinema de observação e dissecação social através do qual Monique Rutler nos olhou, de uma forma ao mesmo tempo solidária e distanciada, ao longo de cerca de uma década. Originalmente subtitulado “Sátira ao Machismo Lusitano”, JOGO DE MÃO é um retrato poliédrico do lugar da mulher num país de homens. O crítico Francisco Ferreira afirmou que se trata do filme que “melhor retratou a condição da mulher portuguesa (…) um filme preciosíssimo, a espaços comovente, demasiado próximo do osso, do que fomos, do que somos, e do que nos constitui como portugueses”. A abrir a sessão, CÃES QUE LADRAM AOS PÁSSAROS, de Leonor Teles.