CICLO
Que Farei Eu com Esta Espada?


Em agosto, com os dias longos a apelar a desfrutar do cinema ao ar livre, continuam as sessões de cinema na esplanada da Cinemateca (com horário antecipado para as 21h30), mas haverá também mais uma sessão ao final do dia na sala M. Félix Ribeiro. Ambas as sessões serão exclusivamente preenchidas com filmes programados no âmbito dos quatro eixos do Ciclo “Que Farei Eu com Esta Espada?” dedicado aos 50 anos do 25 de Abril, iniciado em janeiro e que se prolongará até ao final de 2024.
 
Liberdade. Sempre no espírito da celebração de Abril de 1974, a liberdade corre em agosto ao lado dos demais subprogramas de 2024, “Que Farei Eu com Esta Espada?”: são seis propostas a ver, ou na Esplanada ou no escuro da sala M. Félix Ribeiro, combinando as linhas, várias, que têm tecido o programa feito de fugas para a liberdade, pulsões de liberdade, criatividade artística vanguardista. A constelação de agosto agrupa a corrente de Cocteau com Renoir e o beijo pioneiro de Edison, e ainda Godard, Fassbinder, mas também a irrisão de Billy Wilder e, noutra vertente, o realismo de Ken Loach.
 
Revolução. Para agosto, mais um punhado de filmes que refletem sobre a revolução e as inspirações revolucionárias, vindos de várias partes do mundo. De Cuba, o filme único (em vários sentidos) que é DE CIERTA MANERA, de Sara Gómez; do Reino Unido, um semi-clássico sobre as revoltas juvenis e estudantis (no mesmo ano do Maio de 68 no outro lado da Mancha), o IF… de Lindsay Anderson. Em CEDDO, o senegalês Ousmane Sembène criava um pequeno escândalo ao propor que a islamização do continente africano equivaleu a uma operação colonizadora tão profunda como a dos europeus ou mais ainda. Do México, um olhar romântico (e “pacificador”) sobre a revolução mexicana, o fabuloso ENAMORADA de Emilio Fernández, obra de génio com a genial Maria Félix no zénite da sua glória. Do Chile, o tríptico (que na Cinemateca nunca tinha passado integralmente) com que Patricio Guzmán examinou a sociedade chilena durante o curto tempo de Salvador Allende no poder. Do Canadá, 24 HEURES OU PLUS, o mais polémico filme de Gilles Groulx sobre o sentimento do Québec e dos francófonos face ao domínio da maioria anglófona. De França, LES AMANTS RÉGULIERS, a meditação mais completa de Philippe Garrel sobre Maio de 68, uma meditação diferida e dorida mas com uma capacidade espantosa de fazer reviver o sentido das possibilidades da juventude da época.
 
Comunidade.  A aventura comanda o núcleo das comunidades projetadas, em agosto, no ramo do programa “Que Farei Eu com Esta Espada?” dedicado à organização no coletivo, à união por traços comuns. Em modo Robin dos Bosques, na versão de Michael Curtiz e William Keighley, com Errol Flynn e Olivia de Havilland; revisitando a ímpar Americana de Ford que retrata Lincoln dando-lhe a figura de Henry Fonda; mergulhando numa família do bairro de Watts, no sul de Los Angeles, no registo  “L.A. Rebellion” de Billy Woodberry; seguindo a sensibilidade do olhar de Kinuyo Tanaka num retrato das comunidades marginalizadas de mulheres japonesas no pós-Guerra; revisitando a experiência revolucionária da comunidade piscatória algarvia da Meia Praia, filmada por Cunha Telles depois de 1974; seguindo viagem com as vistas Lumière que agregaram comunidades dispersas pelo mundo, formando uma comunidade de cinema.
 
Futuro. No mês de agosto, o eixo do Futuro apresenta sete filmes em torno da ideia de “recomeço”, partindo para isso da mui frequente situação-tipo: a saída da prisão (quase sempre cadeias de facto, por vezes cadeias psicológicas). Depois de um longo enclausuramento, estes sete homens têm um mundo de possibilidades à sua disposição. Mas não serão elas apenas aparentes? É sequer possível começar de novo? Não será a nostalgia do passado a mais segura das prisões?
 
 
01/08/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

Le Sang d’un Poète
de Jean Cocteau
França, 1930 - 55 min
 
01/08/2024, 21h30 | Esplanada
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

Young Mr. Lincoln
A Grande Esperança
de John Ford
Estados Unidos, 1939 - 100 min
02/08/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

De Cierta Manera
de Sara Gómez
Cuba, 1977 - 78 min
02/08/2024, 21h30 | Esplanada
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

The Lusty Men
Idílio Selvagem
de Nicholas Ray
Estados Unidos, 1953 - 110 min
03/08/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

The Kiss | Le Déjeuner sur L’herbe
01/08/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
Le Sang d’un Poète
de Jean Cocteau
com Enrique Rivero, Pauline Carton, Odette Talazac
França, 1930 - 55 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Liberdade
Das primeiras incursões de Cocteau no cinema, LE SANG D’UN POÈTE contém elementos autobiográficos que voltam em várias das suas obras e algumas das suas obsessões, como os espelhos e a passagem para “o outro lado”. Cocteau é um dos grandes poetas do século XX, qualidade que se estende aos seus filmes, de uma muito peculiar carga poética. LE SANG D’UN POÈTE viria a ser o primeiro título da “Trilogia de Orfeu” também composta por ORPHÉE (1950) e LE TESTAMENT D’ORPHÉE (1959). A apresentar em cópia digital.

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01/08/2024, 21h30 | Esplanada
Que Farei Eu com Esta Espada?
Young Mr. Lincoln
A Grande Esperança
de John Ford
com Henry Fonda, Alice Brady, Marjorie Weaver, Donald Meek, Ward Bond
Estados Unidos, 1939 - 100 min
legendado em português | M/12
Comunidade
Inspirando-se num episódio da vida de Abraham Lincoln no começo da sua carreira de advogado, John Ford dirige um dos filmes maiores da sua obra e um dos mais pessoais. Para muitos, é mesmo a sua obra-prima absoluta. Eisenstein referiu-se a YOUNG MR. LINCOLN como o filme que gostaria de ter feito. O retrato mítico de Lincoln assenta numa narrativa de descoberta e ascensão do jovem Lincoln, na qual a política emerge como a arte do indivíduo em ligação estreita com a sua comunidade.

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02/08/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
De Cierta Manera
de Sara Gómez
com Mario Balmaseda, Yolanda Cuellar
Cuba, 1977 - 78 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Revolução

Lamentamos informar que não haverá legendagem em português. O filme, falado em castelhano, será exibido com legendas em inglês. Na segunda passagem deste filme – terça-feira, dia 20 de agosto às 21h30 na esplanada - , a cópia terá legendas em inglês, e legendas eletrónicas em português.
Um filme, e uma realizadora, muito singulares no panorama do cinema cubano de inspiração revolucionária. Sara Gómez foi a única mulher cineasta cubana da sua geração, e DE CIERTA MANERA devia ter sido apenas a sua primeira longa-metragem. Mas Gómez morreu súbita e precocemente, com apenas 31 anos, em 1974, sem ter concluído o filme, que depois foi terminado por colaboradores seus e estreado postumamente em 1977. O filme mistura brilhantemente a ficção (a relação entre uma professora primária e um motorista de autocarro) e um estilo documental de ataque à realidade, para um exame dos bairros suburbanos de Havana e da relação entre as condições “objetivas” (isto é, materiais) da Revolução e as condições “subjetivas” (as mentalidades), num olhar crítico e transversal sobre a sociedade cubana no princípio dos anos 1970. A exibir em cópia digital. Primeira apresentação na Cinemateca.

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02/08/2024, 21h30 | Esplanada
Que Farei Eu com Esta Espada?
The Lusty Men
Idílio Selvagem
de Nicholas Ray
com Robert Mitchum, Susan Hayward, Arthur Kennedy, Arthur Hunnicutt
Estados Unidos, 1953 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Futuro
THE LUSTY MEN é uma espécie de western moderno, cuja ação é situada na época da rodagem. Mitchum é uma ex-vedeta de rodeos, que inicia um cowboy nesta atividade. Atraído pela mulher deste, morre ao participar num último rodeo. Um dos mais belos filmes de Ray e um dos grandes papéis de Mitchum, na pele de um homem que tenta voltar ao passado para conquistar o futuro, mas fracassa, pois “you can’t go home again”.

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03/08/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
The Kiss | Le Déjeuner sur L’herbe
Liberdade
THE KISS
de William Heise (catálogo Thomas Edison)
com May Irwin, John C. Rice
Estados Unidos, 1896 – 1 min, mudo / sem intertítulos

Le Déjeuner sur L’herbe
de Jean Renoir
com Paul Meurisse, Catherine Rouvel, Fernand Sardou
França, 1959 – 93 min / legendado eletronicamente em português
duração total da projeção: 94 min | M/12

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de LE DÉJENEUR SUR L´HERBE, aqui









consulte a FOLHA DA CINEMATECA de THE KISS, aqui




No princípio era o comboio, saídas de fábrica, vistas Lumière, prestidigitações Méliès. Depois foi o beijo: tão lenda e realidade como os motivos e filmes pioneiros anteriores, THE KISS é o primeiro beijo filmado da História do cinema. Trata-se da encenação do beijo da cena final do musical The Widow Jones, em abril de 1896, nos estúdios Edison, entre May Irwin e John C. Rice. O catálogo Edison anunciava-o assim – “Prepararam-se para se beijarem, começaram a beijar-se, e beijaram-se e beijaram-se de uma maneira tal que a casa vem sempre a baixo.” A publicidade seria enganosa mas a “anatomia de um beijo” que o New York World reportou indicava, e visionária, que “a ideia do beijo cinetoscópico tem possibilidades ilimitadas”. LE DÉJEUNER SUR L’HERBE é dos filmes mais livres de Jean Renoir, na linha impressionista de PARTIE DE CAMPAGNE, com piquenique e vendaval, chamando à colação um cientista que acredita numa cura para a paixão e pondo, sobretudo, em cena, a natureza e a natureza humana. Um filme espantosamente jovem, um canto à vida e à natureza no ritmo rápido de um bailado. A apresentar em cópias digitais.