CICLO
Sessão de Antecipação Doclisboa’24: Retrospetiva Paul Leduc


Como habitualmente, a Cinemateca apresenta uma sessão que antecipa a retrospetiva que coorganiza com o festival Doclisboa (e que decorrerá entre 17 e 27 de outubro deste ano). A primeira retrospetiva europeia de Paul Leduc (1942-2020), um mestre do cinema independente mexicano, dá continuidade à linhagem artística e política de anteriores programas de colaboração entre o Doclisboa e a Cinemateca Portuguesa dedicados à América Latina (Luis Ospina em 2018, Carlos Reichenbach em 2022). O crítico e programador Boris Nelepo (habitual colaborador do Doclisboa para as secções retrospetivas) assina o texto que se segue sobre Paul Leduc e sobre o filme escolhido para esta sessão de antecipação da retrospetiva (¿CÓMO VES?). 
 
Uma Dança para a Música do Tempo–Retrospetiva Paul Leduc
Nascido no seio de uma família militante comunista na Cidade do México, Leduc estudou inicialmente arquitetura na Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) antes de ir para França, para a escola de cinema IDHEC, onde teve a oportunidade de conhecer Jean Rouch e a sua obra. Depois de regressar a casa, Leduc participou ativamente no movimento cineclubista, escreveu crítica cinematográfica e, em 1968, foi cofundador do Cine 70, um grupo que produzia curtas-metragens para o Comité Olímpico Mexicano.
A sua primeira longa-metragem, REED: MÉXICO INSURGENTE (1970), baseada no relato de John Reed sobre a revolução mexicana, é considerada um dos filmes-
-chave do novo cinema mexicano. Amos Vogel, em Film as Subversive Art, chamou a Leduc “um ícone da renovação, e o seu filme um sinal de esperança para muitos cineastas, e um exemplo precoce do cinema pós-moderno”. O seu outro sucesso “biográfico” é FRIDA, NATURALEZA VIVA (1983), um retrato impressionista não linear de Kahlo.
Glauber Rocha foi um importante cúmplice de Leduc, que discutiu com ele sobre como encontrar uma linguagem cinematográfica apropriada para retratar a cultura latino-americana. Numa entrevista, explicou-se assim: “O México tinha mais a ver com o que emergia de um criador como Juan Rulfo, um escritor do silêncio, do deserto, dos vales secos. O ritmo é muito diferente nos países onde existem civilizações indígenas, a música demonstra-o”.
Enquanto os seus documentários se tornaram tratados essenciais sobre temas como a exploração dos povos indígenas Otomi (ETNOCIDIO. NOTAS SOBRE LA REGIÓN DEL MEZQUITAL, 1976) ou a guerra civil em Salvador (HISTORIAS PROHIBIDAS DE PULGARCITO, 1980), nas suas obras de ficção tratou a colonização mesoamericana sob a forma de filmes musicais experimentais: BARROCO (1989), LATINO BAR (1990) e DOLLAR MAMBO (1993). A cartografia da obra de Leduc inclui Venezuela, Cuba, Argentina, Panamá e leva-o à sua última longa-metragem, EL COBRADOR: IN GOD WE TRUST (2007), em grande parte filmado no Brasil e inspirado nos contos de Rubem Fonseca e nas canções de Tom Zé. Uma precisão matemática, uma coreografia de olhares humanos, a ausência de diálogos, a dança e a irreconciliabilidade política tornaram-se os elementos essenciais da linguagem cinematográfica que Paul Leduc procurou durante toda a sua vida.
 
 
05/07/2024, 22h00 | Esplanada
Ciclo Sessão de Antecipação Doclisboa’24: Retrospetiva Paul Leduc

¿Cómo Ves?
de Paul Leduc
México, 1986 - 75 min
 
05/07/2024, 22h00 | Esplanada
Sessão de Antecipação Doclisboa’24: Retrospetiva Paul Leduc

Com o apoio do FICUNAM e da Embaixada do México em Lisboa
¿Cómo Ves?
de Paul Leduc
com Roberto Sosa, Blanca Guerra, Cecilia Toussaint, Tito Vasconcelos
México, 1986 - 75 min
legendado em português | M/12
Sessão com apresentação

A sessão terá início não às 21h45, como anunciado no nosso programa mensal, mas às 22h00.

Apresentamos as nossas desculpas por qualquer inconveniente causado por esta alteração.
Paul Leduc, uma das figuras de proa do cinema independente mexicano, dedicou dois anos à rodagem de CON LA MÚSICA POR DENTRO (1984-1985), uma série documental para televisão sobre músicos da Cidade do México. Acabou por trazer essa experiência, a atmosfera e alguns dos participantes para a sua quinta longa-metragem. Dedicada de forma pungente ao Fundo Monetário Internacional e rodado no Ano Mundial da Juventude, é um retrato de carácter quase documental sobre a vida dos jovens num dos bairros mais pobres da cidade, um quase gueto. Não há protagonistas, trata-se de um retrato de uma comunidade, um fresco de micro-histórias, por vezes abstratas, que de uma forma quase irreconhecível se inspiram nos textos de vários escritores, incluindo alguns autores seminais como José Agustín e José Revueltas. Estes fragmentos são colados por atuações ao vivo de bandas de rock e músicos como El Tri ou Rockdrigo, que morreu antes de o filme estar terminado. Curiosamente, na memória e no imaginário colectivo mexicano, ¿CÓMO VES? continua a ser um filme de culto exemplar precisamente sobre o rock underground, enquanto no universo de Leduc coexistem todos os tipos de música, seja mambo, bolero ranchero ou son cubano. Independentemente dos géneros, é a música que consola. A exibir em cópia digital. Primeira apresentação na Cinemateca.

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