CICLO
Que Farei Eu com Esta Espada?


Depois da interrupção de abril e maio com uma programação reforçada dedicada aos 50 anos do 25 de Abril, prosseguimos o programa lançado em janeiro pela Cinemateca para acompanhar essas comemorações ao longo de 2024 com mais uma vintena de filmes distribuídos pelos quatro eixos temáticos desta celebração: Liberdade, Revolução, Comunidade e Futuro.


Liberdade

O eixo liberdade regressa em junho com Chaplin e a liberdade de movimentos do vagabundo Charlot (uma sessão que cruza a programação Júnior) e do andarilho Robert Kramer, num filme americano anterior à incursão portuguesa que, na sua obra, acompanhou a revolução de 1974; com a liberdade experimental de Marcel Duchamp, Man Ray, Maya Deren, Kenneth Anger e o olhar livre de Peter von Bagh no filme-montagem SOCIALISMO.


Revolução

Mais seis abordagens cinematográficas de temas revolucionários. Duas visões americanas da revolução russa de 1917, as de Cecil B. DeMille e Warren Beatty, separadas por mais de cinco décadas. O filme em que Koji Wakamatsu analisa, com secura e frieza, o harakiri dos movimentos revolucionários japoneses das décadas de 1960 e 1970. LE VENT D’EST, um dos melhores filmes saídos da “oficina” do Grupo Dziga Vertov. O imenso LA COMMUNE, reconstituição por Peter Watkins da história da Comuna de Paris em 1871. E PINK NARCISSUS, um clássico do cinema queer, livre, provocador, uma revolução em si mesmo.


Comunidade

Em junho reunimos comunidades rurais cuja solidariedade se revela essencial em plena Grande Depressão; comunidades cinematográficas que se fundem com as comunidades agrícolas que documentam (as produções Ogawa, no Japão), ou uma comunidade lisboeta confrontada com um momento de grande transformação. Mas também comunidades cinéfilas, como a retratada por Louis Skorecki, com os seus códigos e regras tão próprias. Todas elas comunidades que, face aos momentos de grande provação, revelam como a cooperação é o único caminho para fazer face ao futuro.
 

Futuro

Em junho, o eixo Futuro organiza-se em torno da noção de “destino”. Ora pelas vias da ficção científica, ora pelos inexplicáveis efeitos da fantasia, ora pela cinefilia, ora ainda pela violência do recalque, somos levados a adivinhar o futuro a partir da reescrita do passado: desde a funesta memória de infância de LA JETÉE até aos jogos de verdade de Fassbinder, passando pela leitura da sina como tropo cinematográfico.
 
 
04/06/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

The Volga Boatman
O Barqueiro do Volga
de Cecil B. DeMille
Estados Unidos, 1926 - 133 min
 
04/06/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

Our Daily Bread
O Pão Nosso de Cada Dia
de King Vidor
Estados Unidos, 1934 - 73 min
05/06/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

La Jetée | Beyond The Time Barrier
duração total da projeção: 102 min
07/06/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

Le Vent d’Est
de Grupo Dziga Vertov
França, 1970 - 92 min
08/06/2024, 15h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

La Commune
de Peter Watkins
França, 2000 - 347 min
04/06/2024, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
The Volga Boatman
O Barqueiro do Volga
de Cecil B. DeMille
com William Boyd, Elinor Fair, Robert Edeson, Victor Varconi
Estados Unidos, 1926 - 133 min
mudo, intertítulos em inglês, legendados eletronicamente em português | M/12
Revolução

Com acompanhamento ao piano por Daniel Bruno Schvetz
Um filme em que a revolução bolchevista serve de pano de fundo para aventuras romanescas e românticas, desta vez a história de uma aristocrata que se apaixona por um camponês. Surpreendentemente para um filme cujo realizador viria a ser um campeão do anticomunismo e ativo colaborador da “caça às bruxas” do período maccarthysta, THE VOLGA BOATMAN não assume uma posição antagónica em relação à revolução e, no desenlace, a aristocracia e o proletariado acabam por se unir: “O sangue da velha Rússia é necessário para construir a nova Rússia”. DeMille explicou o facto dizendo que quis fazer um filme “sobre a pequena minoria de homens que ousam levantar a cabeça sob o jugo da opressão” e que em 1925 “o comunismo russo ainda não se revelara como uma tirania pior do que a que tinha substituído”. O filme é magnificamente encenado e marcado por um forte erotismo.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA aqui
04/06/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
Our Daily Bread
O Pão Nosso de Cada Dia
de King Vidor
com Karen Morley, Tom Keene, Barbara Pepper, John Qualen
Estados Unidos, 1934 - 73 min
legendado em português | M/12
Comunidade
OUR DAILY BREAD é um dos mais impressivos retratos dos tempos da Depressão dos anos trinta nos Estados Unidos, contando a história de um casal de citadinos atingidos pela crise que regressa ao campo, formando uma comunidade agrícola com outras pessoas na mesma situação, união que culmina na construção da conduta de água para a plantação, um extraordinário momento de cinema. Como escreveu João Bénard da Costa, “Espantoso coral, assente em meia dúzia de temas de grande simplicidade (a soli­dariedade entre os homens, o acordo com os elementos primordiais – e acentue-se o papel da água – o bem e o mal), OUR DAILY BREAD é o filme dum homem que não duvida e cujo universo plástico desposa perfeitamente a elementaridade das suas convicções. É um admirável ato de fé, em que tudo está certo porque tudo encontra adequação: os homens entre si, os homens com a natureza, e a linguagem de Vidor com o universo que propõe.”

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05/06/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
La Jetée | Beyond The Time Barrier
duração total da projeção: 102 min
legendados eletronicamente em português | M/12
Futuro
LA JETÉE
de Chris Marker
França, 1962 – 28 min

BEYOND THE TIME BARRIER
de Edgar G. Ulmer
com Robert Clarke, Darlene Tompkins, Vladimir Sokoloff
EUA, 1960 – 74 min

Na sequência de uma 3ª Guerra Mundial, um homem é mantido prisioneiro e submetido aos efeitos de uma viagem no tempo para a época do pré-guerra, em busca de uma solução para o destino da humanidade. LA JETÉE é um marco no cinema de ficção-científica e um dos mais originais e complexos foto-filmes da História do cinema. As cerca de 200 de fotografias que o compõem têm a capacidade de revelar os tempos (passados, presentes e futuros) de uma geração que assiste à própria morte. Juntamente com a obra-prima de Chris Marker, um dos últimos filmes de Edgar G. Ulmer, uma incursão na ficção-científica barata (pouco mais de cem mil dólares custou o filme) mas altamente representativa dos sentimentos da Guerra Fria. Um piloto da Força Aérea americana, ao regressar de uma experiência com um novo avião supersónico, encontra a sua base transformada numa cidade subterrânea e distópica: é que por alguma razão misteriosa quando quebrou a barreira do som também viajou no tempo, e está agora no ano… 2024. A exibir em cópias digitais.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de LA JETÉE aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de BEYOND THE TIME BARRIER aqui
 
07/06/2024, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
Le Vent d’Est
de Grupo Dziga Vertov
com Anne Wiazemsky, Gian Maria Volonté
França, 1970 - 92 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
Revolução
Um dos mais complexos – e para vários comentadores, o melhor – de entre os filmes produzidos pelo Grupo Dziga Vertov. Há quem defenda que é o filme ideal para perceber as ideias de Godard e Gorin quanto à “destruição da linguagem burguesa” do cinema. O cinema, o cinema hollywoodiano industrial e os seus pilares (como os géneros, particularmente o western), é explicitamente criticado e decomposto, a partir de uma sustentação teórica encontrada no marxismo. Também o podemos ver, atenuando um pouco o seu carácter político mais moralista, como um objeto extraordinariamente livre e criativo (por exemplo na relação imagem/som) que opera um traço de união entre os últimos Godards em nome próprio (WEEKEND, LA CHINOISE, ONE PLUS ONE) e a dimensão mais profunda da reflexão do Grupo Dziga Vertov. A exibir em cópia digital.

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08/06/2024, 15h30 | Sala Luís de Pina
Que Farei Eu com Esta Espada?
La Commune
de Peter Watkins
França, 2000 - 347 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Revolução

A sessão decorre com um intervalo de 30 minutos a meio da projeção
O último filme de Peter Watkins (e o único que realizou em França) é um regresso ao simulacro histórico que tantas vezes cultivou ao longo da sua obra. Se a situação identificada são os acontecimentos na Comuna de Paris em 1871, fulcrais na História do socialismo europeu, e que Watkins “reconstituiu”, todo o século seguinte está contido no filme, a partir de diálogos que referem acontecimentos posteriores e aludem a dispositivos tecnológicos (como a televisão e os media em geral) longe de estarem inventados no século XIX. O culminar perfeito – se Watkins, como tudo indica, não voltar a filmar – para uma obra obcecada com o trabalho de reflexão histórica e com os modos (técnicos e conceptuais) da sua representação.

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