A relação do cinema com a obra de Franz Kafka tem uma expressão surpreendentemente reduzida tendo em conta a sua importância literária e se tivermos apenas em linha de conta as adaptações diretas das suas novelas e contos. Para além de três adaptações mais importantes – de O Processo por Orson Welles, de América por Jean-Marie Straub e Danièle Huillet  e de Na Colónia Penal por Raúl Ruiz -, as restantes declinações diretas da sua obra não lograram deixar uma marca forte na memória de cinéfilos ou dos leitores do escritor nascido em Praga (mas cuja língua de criação foi sempre o alemão). Será porventura através de uma influência mais indireta que o singular universo autoral de Kafka “passou” muitas vezes para os ecrãs, onde em tantos filmes teremos visto personagens e situações distintamente “kafkianas” sem que Kafka fosse propriamente creditado como inspiração. A presença dessa influência mais difusa de Kafka no cinema daria certamente para alimentar vários ciclos mais extensos (e eventualmente mais discutíveis nas suas escolhas), mas neste curto programa organizado em colaboração com o Goethe-Institut no âmbito do Kulturfest – Festival de Culturas de Expressão Alemã (que decorre em Lisboa entre os dias 31 de janeiro e 5 de fevereiro no Goethe-Institut e no Cinema São Jorge) optámos por uma revisitação mais restrita do lugar de Kafka no cinema. Para além das obras mencionadas de Welles e de Straub-Huillet (a de Ruiz ficará para posterior apresentação no âmbito do respetivo Ciclo), juntámos-lhe o registo feito por Harun Farocki durante a rodagem de KLASSENVERHÄLTNISSE e também um documentário sobre Kafka que retoma textos seus suscitados pelos filmes de que foi espectador.