30/10/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Para uns sinal de uma possível inflexão, para outros aprofundamento e apogeu da curta obra de Reis ou do par Reis/Cordeiro, ROSA DE AREIA pode bem ser exemplo do potencial de redescoberta que muito cinema português encerra. Se a história da receção deste filme não foi muito diferente do que aconteceu com os títulos precedentes dos mesmos autores, o seu destino a prazo foi certamente mais ingrato, com essa exclusão do circuito de distribuição e o olvido que sobre ele foi caindo. A obra é uma peregrinação por Portugal, como lugar de mito e como lugar mítico, peregrinação também entre o “crepúsculo inicial da História” e a “aurora final”, num círculo que é, como a rosa de areia, uma das metáforas mais constantes dela. Denotando, em múltiplos momentos, o fulgor instintivo das obras anteriores, este foi o gesto cinematográfico mais extremo da dupla, em que todos os elos (por ocasionais ou ilusórios que fossem) de uma ordem narrativa e de significação tradicional eram à partida eliminados, para se ir ainda mais longe no trabalho das formas e nas relações-oposições de sentido que no seu seio se desenvolviam. João Bénard da Costa falou dele como “um filme sobre o ar e os sonhos, as flores e as árvores, o fogo e pedra, o céu e a montanha, a luz e o som”, e não hesitou em chamar-lhe “uma das grandes obras fundadoras e fundamentais que o cinema já nos deu”. Estando (como toda a obra dos autores e como a generalidade do cinema português analógico) preservado no suporte de 35mm original, é agora exibido, tendo em conta o contexto em questão, em cópia digital.
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