A  selva e a vida selvagem invadem os sábados de outubro na Rua Barata Salgueiro. O mês não evoca as liberdades da vida animal nem o calor dos trópicos, mas os filmes têm esse poder de nos transportar para outras realidades, outras latitudes, outros valores e visões do mundo. Grande parte das escolhas do mês são valores seguros do cinema, mas trazem consigo as marcas do seu tempo e representações do mundo muito discutíveis – colonialismo, etnocentrismo, racismo e patriarcado. E isso parecendo mau é bom, porque provoca a discussão, mostra de onde viemos, as coisas boas e más do passado e sobretudo aquilo que não deve ser repetido, como, por exemplo, a censura bem-pensante e a ignorância.
Começamos com uma compilação de seis curtas-metragens de animação dos estúdios Aardman. Os nossos conhecidos WALLACE & GROMIT são os mestres de cerimónia que abrem e fecham a compilação, mas as verdadeiras surpresas – umas selvagens, outras nem tanto – estão no miolo. Apenas duas palavras mágicas: Creatures Comforts, ou mal traduzido, os “Confortos do Zoo”. Desses “confortos”, pulamos de liana para a selva de Tarzan. Esta personagem nascida nos livros do escritor norte americano Edgar Rice Burroughs teve várias encarnações na tela, mas a mais célebre e duradoura é a do nadador Johnny Weissmuller, que vestiu a pele do herói em doze filmes. Escolhemos a aventura de 1939, TARZAN ENCONTRA UM FILHO!, porque gostamos de famílias e esta tem o atrativo suplementar de viver de tanga.
Da selva africana pulamos para a selva asiática d’O LIVRO DA SELVA. Com esta divertidíssima animação da Disney vamos conhecer as aventuras de Mowgli, uma espécie de Tarzan adotado por lobos, ou melhor uma inspiração para o Tarzan, que nasceu depois e que à falta de lobos em África foi criado por macacos. O último salto de liana faz-se para um clássico dos anos 30, KING KONG. O lendário gorila gigante que se perde de amores pela atriz Fay Wray e luta pela vida no topo do Empire State Building, numa das cenas más icónicas da história do cinema e dos efeitos especiais. Já não de liana, mas de caiaque, vamos até à oficina FILMar O MUNDO COM OLHOS DE VER, que tem como ponto de partida o histórico documentário NANOOK, O ESQUIMÓ (que completou este ano 100 anos de existência) para nos fazer pensar sobre o que queremos dizer quando pegamos numa câmara para filmar a vida como ela é.