O cinema de Raquel Soeiro de Brito (Elvas, 1925) existe para lá da própria imagem. Está relacionado com a necessidade de termos memória e de sabermos a que território histórico, geográfico e geológico pertencemos. É um cinema de construção de identidades, porque capta o que a paisagem e as suas múltiplas morfologias guardam. Primeira mulher doutorada em Geografia em Portugal, em 1955, com a tese A Ilha de S. Miguel. Estudo geográfico, tinha 30 anos quando o vulcão dos Capelinhos, na ilha do Faial, acordou e provocou um dos maiores acidentes naturais da história contemporânea nacional. Integrada na equipa do geógrafo Orlando Ribeiro, que havia chegado à ilha uma semana depois do início da erupção, haveria de assinar ERUPÇÃO VULCÂNICA DOS CAPELINHOS, ILHA DO FAIAL – AÇORES (1958), que guarda imagens da atividade vulcânica que se estendeu ao longo de mais de um ano. Feito com meios inéditos para a investigação científica, esses registos são, ainda hoje, essenciais para o estudo da vulcanologia e das alterações geográficas da ilha. O FILMar homenageia a realizadora, pioneira do cinema e de um modo de pensar a imagem enquanto elemento de estudo, apresentando uma sessão que navega por paisagens marítimas e terrestes, então pertença de uma ideia de país maior que a sua geografia. A geografia é, assim, possibilidade de entendimento de uma relação com o mar, porque dela se parte para uma leitura de mitos e impressões sobre o que constitui uma identidade coletiva, matéria que temos vindo a reafirmar ao longo das várias sessões públicas deste projeto.