CICLO
À Glória de Grahame


“She was born to be bad, to be kissed, to make trouble”, assim a apresentaram os cartazes de HUMAN DESIRE (Fritz Lang, 1954), e assim é recordada Gloria Grahame (1923-1981), uma das mais emblemáticas femme fatale do cinema dos anos 50 e do film noir americano.
Nascida em Los Angeles, Grahame construiu desde muito jovem a sua carreira, começando pelo teatro até ser contratada pela MGM. Segundo os relatos, a MGM nunca soube em que papéis a integrar, e só na RKO descobriram o seu valor. Alcançou visibilidade com Frank Capra em IT’S A WONDERFUL LIFE (1946) e foi realmente descoberta em CROSSFIRE (Edward Dmytryk, 1947), onde os escassos nove minutos em que aparece lhe valeram a nomeação para o Oscar de melhor atriz secundária, bem como a atenção de Nicholas Ray, com quem casaria e cuja turbulenta relação teve o seu ajuste de contas em IN A LONELY PLACE (muito provavelmente o seu melhor papel, ao lado de Humphrey Bogart). Fritz Lang, de quem foi uma das mais assombrosas atrizes com participações em HUMAN DESIRE e THE BIG HEAT, ajudou à identificação de Grahame com o film noir. O Ciclo que agora apresentamos demonstrará, todavia, que Gloria Grahame foi também extraordinária numa diversidade de papéis principais ou secundários interpretados em tantos outros registos e de tão incontornáveis realizadores como Cecil B. DeMille (THE GREATEST SHOW ON EARTH, 1952), Vincente Minnelli (THE BAD AND THE BEAUTIFUL, 1952 e THE COBWEB, 1955) e Elia Kazan (MAN ON A TIGHTROPE, 1953).
À época, Fritz Lang disse que Grahame, “representa a femme fatale dos dias de hoje e, enquanto este tipo de mulher se transforma de acordo com o tempo, o seu poder sobre os homens provém da combinação entre uma natureza calculista e um corpo glamoroso”. O seu talento mede-se, no entanto, pela naturalidade da sua representação, dotada de uma prodigiosa ambiguidade e de uma sexualidade latente que se pressente tão “real” nas personagens que encarnou como nela mesma, aspeto aliás evidenciado pelo conhecimento que temos sobre o carácter trágico da sua vida pessoal. Do seu poder e da sua tão conturbadamente humana presença nos ecrãs a melhor descrição talvez se encontre numa recente e curiosa menção do músico Will Oldham (Palace Music, Bonnie “Prince” Billy), recolhida nos Cahiers, para quem Grahame é “um fio condutor de emoções, que começa onde? Humphrey Bogart e Nicholas Ray (…) e o amor, e o desejo, e o incesto, e a traição, e o medo, e a cólera, e ela foi tudo isso”.
 
 
24/01/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo À Glória de Grahame

The Bad and the Beautiful
Cativos do Mal
de Vincente Minnelli
Estados Unidos, 1952 - 116 min
 
24/01/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo À Glória de Grahame

The Cobweb
Paixões sem Freio
de Vincente Minnelli
Estados Unidos, 1955 - 123 min
25/01/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo À Glória de Grahame

Human Desire
Desejo Humano
de Fritz Lang
Estados Unidos, 1954 - 90 min
26/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo À Glória de Grahame

Not As a Stranger
Médico e Só Médico
de Stanley Kramer
Estados Unidos, 1955 - 136 min
27/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo À Glória de Grahame

Odds Against Tomorrow
Homens no Escuro
de Robert Wise
Estados Unidos, 1959 - 95 min
24/01/2023, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
À Glória de Grahame
The Bad and the Beautiful
Cativos do Mal
de Vincente Minnelli
com Kirk Douglas, Lana Turner, Dick Powell, Gloria Grahame, Barry Sullivan
Estados Unidos, 1952 - 116 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um dos mais espantosos retratos que Hollywood fez de si própria. Com SUNSET BOULEVARD, THE BAD AND THE BEAUTIFUL “abre” um novo género, o dos filmes de crítica interna ao sistema, aproveitando a perda de poder dos estúdios. O argumento de Charles Schnee ganhou um dos cinco Oscars do filme, indo outro para Gloria Grahame como melhor atriz secundária. Um realizador, uma atriz e um argumentista evocam as suas vidas com um tirânico produtor de cinema, retrato disfarçado de Irving Thalberg.

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24/01/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
À Glória de Grahame
The Cobweb
Paixões sem Freio
de Vincente Minnelli
com Richard Widmark, Lauren Bacall, Charles Boyer, Lillian Gish, Gloria Grahame
Estados Unidos, 1955 - 123 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M/12
Um notável melodrama de Vincente Minnelli. THE COBWEB, exemplo perfeito do melodrama psicológico (tudo decorre, inclusivamente, numa instituição psiquiátrica), dá-nos Minnelli no auge da sua maestria, com um filme que tem ainda a peculiaridade de reunir “velhas” e novas glórias de Hollywood (Boyer, Lillian Gish, Richard Widmark, Gloria Grahame) e nomes emergentes da nova geração do Actors’ Studio, como Susan Strasberg.

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25/01/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
À Glória de Grahame
Human Desire
Desejo Humano
de Fritz Lang
com Glenn Ford, Gloria Grahame, Broderick Crawford, Edgar Buchanan
Estados Unidos, 1954 - 90 min
legendado eletronicamente m português | M/12
Segunda incursão de Fritz Lang no cinema de Jean Renoir, adaptando o mesmo romance de Zola que fora a fonte do realizador francês para LA BÊTE HUMAINE. As aproximações e diferenças na obra dos dois mestres do cinema são ainda mais visíveis do que em LA CHIENNE/SCARLET STREET, com a paixão e simpatia de Renoir pelas personagens e a frieza analítica de Lang, sobre as pulsões e a repressão dos instintos humanos. Glenn Ford e Gloria Grahame, dirigidos por Lang no ano anterior em THE BIG HEAT, são novamente fabulosos.

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26/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
À Glória de Grahame
Not As a Stranger
Médico e Só Médico
de Stanley Kramer
com Olivia De Havilland, Robert Mitchum, Frank Sinatra, Gloria Grahame, Broderick Crawford
Estados Unidos, 1955 - 136 min
legendado eletronicamente em português | M/12
A partir de um popular romance romântico de Morton Thompson, o filme segue um grupo de estudantes de medicina no percurso que os leva da escola aos estágios em hospitais. A personagem de Mitchum é a de um médico ambicioso, exclusivamente dedicado ao trabalho, que casa por conveniência com uma mulher mais velha (personagem interpretada por Olivia De Havilland). A Gloria Grahame e a Frank Sinatra cabem os papéis secundários.

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27/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
À Glória de Grahame
Odds Against Tomorrow
Homens no Escuro
de Robert Wise
com Harry Belafonte, Robert Ryan, Shelley Winters, Ed Begley, Gloria Grahame
Estados Unidos, 1959 - 95 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Entre os film noirs assinados por Robert Wise (montador de CITIZEN KANE na sua primeira fase na RKO), ODDS AGAINST TOMORROW é dos que ficou mais na sombra (por isso será também um dos papéis menos conhecidos de Gloria Grahame). Produzido e realizado por Wise para a HarBel Productions, é um projeto que se deve à sua estrela, Harry Belafonte, que garantiu o argumento do blacklisted Abraham Polonsky (sob pseudónimo). A história segue a preparação do assalto a um banco por um trio para o qual são aliciadas as personagens de Belafonte (um músico vulnerável a dívidas de jogo, pai de família) e Ryan (um veterano de guerra envelhecido e sem trabalho, desconfortável com o facto de viver graças ao trabalho da mulher). A animosidade da dupla é crucial, por ela passando o fundo racista que se alia ao ambiente opressivo da Guerra Fria, filmado em exteriores em Nova Iorque e em Hudson. O registo elegíaco alastra à narrativa, que termina com uma soberba e mortífera sequência final.

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