CICLO
Allan Dwan (Parte I)


Allan Dwan tem a fama de ser um dos mais prolíficos cineastas que alguma vez viveram e, com os cerca de 1600 títulos que algumas fontes lhe creditam, um potencial recordista em número total de filmes realizados. Grande parte desses filmes, uma esmagadora maioria, foi feita nos anos iniciais da década de 1910, época em que Dwan começou a dirigir filmes de uma bobina e, segundo as suas próprias contas, os fazia ao ritmo de três por semana. Formado em engenharia, e com especialização nas artes e técnicas da eletricidade, a sua entrada no cinema, naqueles anos em que tudo estava por inventar e descobrir, foi feita por esse prisma, a do homem a quem competia inventar soluções para os problemas técnicos que a rodagem dos filmes ia descobrindo. Também por isso, foi um dos pioneiros da indústria cinematográfica americana, que ele próprio ajudou a estabelecer, por exemplo durante o seu trabalho com David Wark Griffith (foi Dwan quem inventou uma forma de pôr as câmaras de DWG a “flutuar” sobre os gigantescos cenários de INTOLERANCE, entre outras proezas). O seu trabalho como realizador, cruzando diversas décadas, faz um percurso por todo o classicismo americano, começa aliás antes dele, num período pré-clássico, e termina no momento em que esse edifício clássico começava a desmoronar-se (o seu último filme THE MOST DANGEROUS MAN ALIVE, estreou em 1961, apesar de ter sido rodado em 1958, assim apropriadamente criando um número redondo – cinquenta anos – entre os primeiros filmes de Dwan, feitos em 1911, e o seu filme final). Polivalente e eclético, Dwan tocou todos os géneros – do musical ao filme de guerra, do melodrama ao noir, do western à comédia, com o mesmo pragmatismo, a mesma inteligência, a mesma modéstia de artesão, as mesmas elegância e imaginação na invenção de ideias visuais e narrativas. Esteve esquecido durante demasiados anos, arrumado como “relíquia” de outros tempos, curiosidade “arqueológica”. Nem ele próprio, realizador de uma estirpe que só existiu nas gerações pioneiras, acreditava em qualquer espécie de “posteridade” para o seu trabalho. Mas, nas últimas décadas, várias gerações de críticos e historiadores redescobriram e colocaram no seu devido lugar a obra de um homem que, se nos anos vinte foi um dos realizadores da primeira linha de Hollywood, especialmente apreciado por algumas das maiores vedetas da altura, como Gloria Swanson ou Douglas Fairbanks, passou das décadas finais, a partir dos anos quarenta, ao serviço de produtores independentes, trabalhando em low budget e série B, ambiente em que reencontrou, de certa forma, a liberdade e a desenvoltura da prática de realizador naqueles anos de formação da indústria que foi o tempo em que se iniciou.
A aproximação a esta obra imensa está forçosamente condenada a ser lacunar. Impossível pensar numa “integral Dwan”, até pela quantidade de filmes perdidos ou de circulação muito restrita, ou impossíveis de localizar. O Ciclo que propomos para os meses de dezembro e janeiro será, em princípio, a mais extensa retrospetiva da obra de Dwan realizada em qualquer parte do mundo, com cerca de sessenta títulos, representativos de todas as fases do seu trabalho. Nunca se viu tanto Dwan junto, e a oportunidade de mergulhar, em extensão, nesta obra, é uma proposta irrecusável para qualquer cinéfilo digno desse nome. Será publicada uma pequena edição sobre Allan Dwan na ocasião, a primeira de uma nova coleção da Cinemateca de cadernos de apoio a ciclos de autores estrangeiros ou temas do cinema internacional.
 
 
13/12/2021, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Allan Dwan (Parte I)

The Wild Blue Yonder
de Allan Dwan
Estados Unidos, 1951 - 98 min
 
14/12/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Allan Dwan (Parte I)

Montana Belle
Flor Bravia
de Allan Dwan
Estados Unidos, 1952 - 81 min
14/12/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Allan Dwan (Parte I)

Manhandled
Escravizada
de Allan Dwan
Estados Unidos, 1924 - 58 min
15/12/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Allan Dwan (Parte I)

Tide of Empire
Gesto Fidalgo
de Allan Dwan
Estados Unidos, 1929 - 71 min
15/12/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Allan Dwan (Parte I)

The Gorilla
Gorila
de Allan Dwan
Estados Unidos, 1939 - 66 min
13/12/2021, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Allan Dwan (Parte I)
The Wild Blue Yonder
de Allan Dwan
com Wendell Corey, Vera Ralston, Forrest Tucker, Walter Brennan
Estados Unidos, 1951 - 98 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Dois anos depois do filme sobre IWO JIMA, Dwan voltava a trabalhar, para a Republic, sobre a II Guerra Mundial na frente do Pacífico. Feito com apoio da Marinha e Força Aérea americanas, THE WILD BLUE YONDER centra-se em dois aviadores que estão a aprender o pilotar o B-29 (celebrizado, no fim da guerra, pelas bombas atómicas que fez cair sobre Hiroxima e Nagasaki) enquanto ficam embeiçados pela mesma mulher. Muitas imagens de arquivo pontuam o relato, num tipo de produção rotineira que Dwan fazia com uma perna às costas e com alguma distância - “a única coisa de que gostei nisto foi do B-29 ele próprio”. A exibir em cópia digital.

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14/12/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Allan Dwan (Parte I)
Montana Belle
Flor Bravia
de Allan Dwan
com Jane Russell, George Brent, Scott Brady
Estados Unidos, 1952 - 81 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Rodado em 1948, posto na prateleira durante quatro anos e recuperado em 1952 para capitalizar a popularidade de Jane Russell (era o ano de GENTLEMEN PREFER BLONDES), trata-se de um dos melhores Dwans do período final da sua obra. Em MONTANA BELLE Jane Russell encarna a famosa Belle Starr, e narra-se uma história inspirada no seu envolvimento com o gang dos irmãos Dalton. Um papel à medida de Russell, talvez nunca tão “action woman” como aqui, tão à vontade em tiroteios como nos palcos dos saloons. Ainda, vale frisar, um dos vários westerns de Dwan com protagonistas femininas.

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14/12/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Allan Dwan (Parte I)
Manhandled
Escravizada
de Allan Dwan
com Gloria Swanson, Tom Moore, Lilyan Tashman
Estados Unidos, 1924 - 58 min
mudo, com intertítulos em inglês e legendagem eletrónica em português | M/12
com acompanhamento ao piano por Daniel Schvetz
Para além de Douglas Fairbanks, a outra vedeta de alto coturno nos apogeus de mudo que tinha Dwan como realizador de eleição era Gloria Swanson. Dos vários filmes que fizeram juntos, MANHANDLED era o preferido do cineasta. Por boas razões, porque se trata de um excelente filme, perfeitamente em linha com o que de mais sofisticado se praticava na Hollywood da época, quer em termos de conteúdo sociopolítico (é um filme completamente “proto-feminista”, narrando, entre um tom de comédia mordaz e um tom mais dramático, as agruras de uma mulher num mundo laboral dominado por homens) quer em termos de invenção formal – e aqui, o filme está cheio de achados e ideias brilhantes de mise en scène. Primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópia digital.

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15/12/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Allan Dwan (Parte I)
Tide of Empire
Gesto Fidalgo
de Allan Dwan
com Renée Adorée, Tom Keane, George Fawcett
Estados Unidos, 1929 - 71 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Por motivo de indisponibilidade de cópia a que a Cinemateca é alheia, o filme L'AMOUR À VINGT ANS não poderá ser exibido nas sessões previstas do dia 15 de dezembro, às 15h30, e de dia 23, às 21h30. Em seu lugar, na sessão de dia 15, exibiremos novamente o filme TIDE OF THE EMPIRE de Allan Dwan.
Um western, e tecnicamente um produto híbrido daqueles tempos de transição para o sonoro, com diálogos dados por intertítulos mas uma banda sonora com ruídos e efeitos de som. É um dos filmes preferidos de Dwan nesta fase, que nele muito experimentou em termos de movimentação da câmara e uso de gruas. Uma curiosidade: Buster Keaton apareceu impromptu no plateau e fez umas piruetas para divertir a equipa. A câmara estava a rodar e Dwan não teve dúvidas: “I kept it in”. No filme, a participação espontânea de Keaton foi integrada numa cena de bebedeiras num saloon. Primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópia digital.

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15/12/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Allan Dwan (Parte I)
The Gorilla
Gorila
de Allan Dwan
com Ritz Brothers, Anita Louise, Bela Lugosi
Estados Unidos, 1939 - 66 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Os Ritz Brothers, um grupo de cómicos hoje bastante esquecido, tinham contrato com a Fox, e por mais do que uma vez se pediu a Dwan que tratasse do assunto. Um desses filmes foi THE THREE MUSKETEERS, outro foi, no mesmo ano de 1939, THE GORILLA, uma história policial farsolas que coleciona remissões para a, apesar de tudo já relativamente “encorpada”, tradição do cinema de horror, como a presença de Bela Lugosi. Primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópia digital.

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