CICLO
A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste


Organizada no ano em que se comemora o 30º aniversário da queda do Muro de Berlim, a retrospetiva “Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste” aponta para a vitalidade da produção cinematográfica na República Democrática Alemã entre 1946 e 1991, sobretudo a cargo dos estúdios DEFA – Deutsche Film-Aktiengesellschaft, a prolífica produtora estatal criada pouco depois do final da Segunda Guerra Mundial, que permaneceu em atividade durante mais de quatro décadas.
A produção da DEFA e, mais genericamente, da Alemanha Oriental, tem sido revisitada com alguma regularidade pela programação da Cinemateca, tendo-se em 2009 assinalado os 20 anos da queda do Muro com o Ciclo “Os Mil Rostos de Berlim”. Este é sem dúvida um programa muito ambicioso e abrangente que, embora centrado no documentário, inclui filmes de outros registos. É também um programa que estabelece interessantes ligações com o "Cinema de Weimar", mostrado no mês de setembro, em que se exibiu um filme mudo de  Gerhard Lamprecht, cineasta conhecido pelas suas representações cinematográficas de Berlim, que reencontramos vinte anos depois, em 1946, a filmar numa cidade em ruínas (IRGENDWO IN BERLIN, a longa-metragem de abertura).
Como escreveu Agnès Wildenstein, que desenhou esta retrospetiva: “A DEFA foi fundada ainda antes da RDA, em 1946, e permaneceu em atividade até 1991, tendo produzido centenas de filmes de ficção e documentários. Muitos cineastas talentosos criaram uma obra significativa que merece ser redescoberta e reavaliada, permitindo-nos compreender melhor um momento emocionante da história contemporânea do cinema com uma perspetiva atual. Naquela espécie de prisão a céu aberto, engendraram um espaço de liberdade cinematográfica. Esta retrospetiva tem como objetivo mostrar a abundância de formas e temas nas produções cinematográficas da Alemanha Oriental entre 1946 e 1990, principalmente da DEFA, censuradas ou não: filmes de propaganda e proibidos, ficções e documentários, curtas e longas, realizados por várias gerações de cineastas, incluindo Gerhard Lamprecht, Karl Gass, Konrad Weiss, Winfried Junge, Gerhard Klein, Jürgen Böttcher, Gitta Nickel, Volker Koepp, Andreas Voigt, Helke Misselwitz e Thomas Heise, entre outros, sem esquecer um dos seus melhores diretores de fotografia, Thomas Plenert.”
A apresentar pela primeira vez na Cinemateca (à exceção de IRGENDWO IN BERLIN, PAULE IN CONCERT e, naturalmente, NUIT ET BROUILLARD, que nesta ocasião se mostra numa inédita versão da DEFA), os filmes deste Ciclo são exibidos maioritariamente em película. A retrospetiva conta com as presenças de Ralf Schenk (historiador de cinema e diretor da Fundação DEFA) e dos cineastas Thomas Heise, Volker Koepp, Andreas Voigt e Helke Misselwitz.
A colaboração com o Doclisboa estende-se a uma sessão de curtas-metragens da cineasta de origem libanesa Jocelyne Saab (1948-2019), a quem o Doclisboa dedica este ano a sua retrospetiva de autor. Destacamos a apresentação de LES FEMMES PALESTENIENNES (1974), filme a apresentar em estreia mundial numa nova cópia produzida pelo centro de conservação da Cinemateca propositadamente para a retrospetiva.
 
 
25/10/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste

Der Schwarze Kasten
“A Caixa Negra”
de Johann Feindt, Tamara Trampe
Alemanha, 1992 - 92 min
 
25/10/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste

Todeslager Sachsenhausen | Nuit et Brouillard (“Versão DEFA”) | Memento
duração total da projeção: 88 min
26/10/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste

Berlin Heute | Berlin um Die Ecke
duração total da projeção: 112 min
26/10/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste

Eisenzeit
“A Idade do Ferro”
de Thomas Heise
Alemanha, 1991 - 86 min
25/10/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste
Der Schwarze Kasten
“A Caixa Negra”
de Johann Feindt, Tamara Trampe
Alemanha, 1992 - 92 min
legendado eletronicamente em inglês e português | M/12
A Stasi / The Stasi
Um dos mais importantes documentários assinados por Tamara Trampe e Johann Feindt, assente numa entrevista com Jochen Girke, psicólogo nascido em 1949 e agente aposentado da Stasi (polícia secreta da República Democrática Alemã), filmada entre março de 1990 e junho de 1991. Durante a sua permanência na Stasi, Girke formou interrogadores e informadores. Revelando como a aplicação do seu conhecimento científico teve efeitos devastadores, o filme inclui ainda conversas com os pais, um professor, uma antiga namorada e a esposa, pessoas que com ele partilharam a sua vida. A apresentar em cópia digital.
 
25/10/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste
Todeslager Sachsenhausen | Nuit et Brouillard (“Versão DEFA”) | Memento
duração total da projeção: 88 min
Kaddish, uma Prece pelos Mortos / Kaddish, a Prayer to the Dead
TODESLAGER SACHSENHAUSEN
“Campo de Morte Sachsenhausen”
de Richard Brandt
Alemanha, 1946 – 40 min
NUIT ET BROUILLARD (“versão DEFA”)
Noite e Nevoeiro
de Alain Resnais
França, 1956 – 32 min
MEMENTO
de Karlheinz Mund
RDA, 1966 – 16 min
legendado eletronicamente em inglês e português | M/12 

TODESLAGER SACHSENHAUSEN é o primeiro documentário da DEFA sobre os campos de concentração e o Holocausto, tratando-se de uma encomenda da administração militar soviética em Berlim no âmbito dos preparativos para o julgamento de Sachsenhausen. TODESLAGER SACHSENHAUSEN explica o papel do terror na ascensão de Hitler ao poder e a terrível máquina de extermínio empregue neste campo perto de Berlim. O filme inclui comentários de um antigo funcionário do campo, interrogado pelos oficiais soviéticos. O segundo filme da sessão é NUIT ET BROUILLARD, o conhecido filme de Alain Resnais sobre o qual Edgardo Cozarinsky escreveu que era "o único filme justo sobre o grande horror do século XX: menos o extermínio de um povo do que o programa e administração postos em funcionamento para o executar.” NUIT ET BROUILLARD descreve o funcionamento da máquina concentracionária, apoiando-se no texto de Jean Cayrol, resistente francês deportado para Mauthausen. Exibimo-lo numa versão raríssima, em que a banda de imagem original é acompanhada por um comentário alemão resultante de uma longa batalha de tradução do texto de Cayrol para alemão conduzida pela DEFA, que se opunha à versão da RFA, cuja tradução coube a Paul Celan. Uma imensa curiosidade histórica, cuja exibição só é autorizada com a sua devida contextualização. A encerrar a sessão, MEMENTO, filme que espelha o longo historial da comunidade judaica em Berlim a partir do cemitério judaico em Berlin-Weissensee, o segundo maior da Europa.
 
26/10/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste
Berlin Heute | Berlin um Die Ecke
duração total da projeção: 112 min
Histórias de Berlim 2 / Berlin Stories 2
BERLIN HEUTE
“Berlim Hoje”
de Joaquim Hadaschik
RDA, 1966 – 29 min
BERLIN UM DIE ECKE
“Berlim à Esquina”
de Gerhard Klein
com Dieter Mann, Monika Gabriel, Erwin Geschonneck, Hans Hardt-Hardtloff
RDA, 1965/1990 – 83 min
legendado eletronicamente em inglês e português | M/12 

Em “BERLIM HOJE”, Berlim Oriental é apresentada como uma cidade internacional e moderna. Além das atrações turísticas e da vida quotidiana, o filme mostra a parada militar para o Dia do Trabalhador, a 1 de maio, assim como as celebrações do 20º aniversário do Partido de Unidade Socialista. BERLIN UM DIE ECKE foi filmado em meados dos anos sessenta também em Berlim Oriental, revelando-se como o quarto título da “série de Berlim”, de Gerhard Klein (e do coargumentista Wolfgang Kohlhaase). Esta é uma ficção construída em torno de dois amigos que integram uma equipa jovem de uma metalurgia, entrando em choque com os trabalhadores mais velhos. Acusado de retratar o conflito intergeracional como intransponível e de distorcer e exagerar os problemas nas operações de produção, o filme foi banido enquanto “desonesto e antissocialista” e apenas concluído e estreado em 1990.
 
26/10/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
A Cinemateca com o Doclisboa: Ascensão e Queda do Muro – O Cinema da Alemanha de Leste
Eisenzeit
“A Idade do Ferro”
de Thomas Heise
Alemanha, 1991 - 86 min
legendado eletronicamente em inglês e português | M/12
A Idade do Ferro / The Iron Age
Em 1981 Thomas Heise planeava realizar um filme na cidade de Eisenhüttenstadt (na altura Stalinstadt), anunciada como “primeira cidade socialista em solo germânico”. No seu projeto nunca concretizado queria acompanhar a vida de vários jovens: Anka, Mario, Karsten, Frank e Tilo. Dez anos depois, já após a reunificação alemã, decide procurar o que resistiu no que caracterizou como “uma história da RDA”. Quatro dos protagonistas do filme anterior mudaram-se para Berlim, dois enforcaram-se nos últimos dias da RDA. Só Anka ficou em Eisenhüttenstadt. A apresentar em cópia digital.