CICLO
In Memoriam Stanley Donen


Falecido a 21 de fevereiro deste ano, é impossível falar do musical e, por extensão, do cinema norte-americano sem falar de Stanley Donen. Grande responsável por ter transformado um género de cinema (filmes com “números cantados”) num género intrinsecamente cinematográfico, o musical, aos olhos de Donen, deixou de ser uma performance cantada e coreografada, em cima de um palco filmado, para se confundir com o movimento da própria vida: isto é, com danças e músicas a surgir de qualquer lugar reconhecidamente realista e elevando-o, depois, para uma dimensão irreal, fantasista, ou simplesmente apaixonada, onde são os sentimentos que determinam a verdadeira ordem do dia a dia e as personagens deixam de obedecer às regras e constrangimentos de um argumento para seguir, por outro lado, aquilo que a fantasia do próprio filme lhes promete para as suas vidas. Melhor exemplo não existirá do que um dos filmes mais celebrados da história do cinema: SINGIN' IN THE RAIN (1952), onde um grupo de atores do cinema mudo, atirado para o desemprego, apodera-se das possibilidades do som e da cor para impor a música e a dança como nova regra de expressão para a vida e para o novo cinema que surge nas salas. Essa histórica colaboração com Gene Kelly, outro nome fundamental do musical norte-americano, tinha sido antecedida por outro clássico: ON THE TOWN (1949), onde Hollywood leva as suas estrelas (entre as quais Gene Kelly e Frank Sinatra) para as ruas de Nova Iorque, fazendo com que a cidade fosse ocupada pela magia e pelo potencial que o musical oferecia às nossas vidas. Donen faria outros trabalhos com Kelly antes de começar a assinar sozinho as suas coreografias e a realização dos seus filmes, ocupando as ruas de Paris com FUNNY FACE (1957), inesquecível musical com Audrey Hepburn e Fred Astaire, ou noutros filmes, a partir da década de 60, em que a música dá lugar ao romance e à aventura, como CHARADE (1963), com Cary Grant e Hepburn, e TWO FOR THE ROAD (1967), com Albert Finney (também recentemente falecido, a 7 de fevereiro) e Hepburn, de novo. A Cinemateca exibe, em sua homenagem (fruto de uma retrospetiva realizada em maio de 2012 e de sessões regulares de alguns dos seus filmes), algumas das suas obras que menos exibições tiveram, na carreira do realizador, nas nossas salas.
 
 
08/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam Stanley Donen

Charade
Charada
de Stanley Donen
Estados Unidos, 1963 - 107 min
 
08/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam Stanley Donen
Charade
Charada
de Stanley Donen
com Cary Grant, Audrey Hepburn, Walter Matthau, James Coburn, George Kennedy
Estados Unidos, 1963 - 107 min
legendado eletronicamente em português | M/6
Um fabuloso “divertimento”, diretamente inspirado em Hitchcock, a quem vai mesmo buscar o seu ator de eleição, Cary Grant, num irresistível jogo de simulações e romance ao lado de Audrey Hepburn, e que é também um notável exercício de suspense, não indigno do mestre, pelo que o filme ficou conhecido como “the best Hitchcock movie that Hitchcock never made”. Um grande sucesso de Donen.