CICLO
In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos


Evocamos três realizadores, três vultos do panorama cinematográfico internacional, desaparecidos durante os últimos meses.
Milos Forman (1932-2018) cravou o seu nome na história do cinema checo e do cinema americano. Fez, com Ivan Passer, Vera Chytilova e outros, parte da geração que, nos anos sessenta, na senda dos “cinemas novos” e das “novas vagas” que explodiram um pouco por todo o mundo, revitalizou o cinema checo. Os seus filmes desse período, colhidos no quotidiano e nalguns casos com uma tonalidade quase documental, observavam com fino humor, e em crítica “oblíqua” (pois que a crítica “vertical” dificilmente ultrapassaria a censura), as contradições e as frustrações da sociedade checoslovaca. Em 1967 foi longe demais – HORI, MA PANENKO (“O BAILE DOS BOMBEIROS”) foi proibido, o que o levou a pensar em emigrar; decisão facilitada pela invasão soviética de 1968, que o apanhou em Paris. Forman já não regressou ao país natal, e fixou-se nos EUA, onde o esperava uma consagração mundial que chegou relativamente depressa, com o monumental sucesso de ONE FLEW OVER THE CUCKOO’S NEST, em 1975. Depois vieram, entre outros, AMADEUS, e os filmes do final dos anos noventa (THE PEOPLE VS LARRY FLYNT, MAN ON THE MOON), ácidas observações da “sociedade do espetáculo” americana. Recordamo-lo com títulos pouco vistos: dois filmes do período checo, e três filmes da fase inicial do seu período americano, nos anos setenta.
Ermanno Olmi (1931-2018) transportou durante décadas, assumidamente, o testemunho do neorrealismo italiano. A sua obra não se resume a isso, mas a forma como obstinadamente se colocou junto das tradições populares, filmando “em nome do povo italiano”, frequentemente trabalhando com atores amadores (como no caso de L’ALBERTO DEGLI ZOCCOLI, porventura o seu título mais célebre), faz dele um importantíssimo intérprete dessa tradição, que atravessou décadas do cinema italiano a cavar um caminho muito próprio e muito pessoal. Paralelamente, sempre se reivindicou um cineasta católico, interessado e preocupado em refletir sobre a vivência da fé, nos seus aspectos mais quotidianos como nos mais “metafísicos”. Foi nesse caminho, aliás, que a sua obra se concluiu, com VEDETE, SONO UNO DI VOI, o último filme que nos deixou e a sua única longa-metragem que nos faltava exibir (a Cinemateca, em colaboração com a Festa do Cinema Italiano, dedicou-lhe uma retrospetiva em 2012).
Finalmente, Nelson Pereira dos Santos (1928-2018).  Dez anos mais velho do que a generalidade dos cineastas que viriam a compor a geração do cinema novo brasileiro, foi para eles uma espécie de farol, ou de explorador a indicar um caminho. Os seus filmes dos anos cinquenta, sobretudo o díptico sobre o Rio de Janeiro (RIO 40 GRAUS e RIO ZONA NORTE), marcaram uma rutura no panorama do cinema brasileiro então vigente, com o seu aguçado realismo e o seu interesse pelas classes populares. Com VIDAS SECAS, em 1963, adaptando Graciliano Ramos, encontrou a explosão do cinema novo brasileiro, cujos cineastas já o tinham “adotado” como uma espécie de irmão mais velho. A sua vasta obra (Nelson filmou até 2012) talvez tenha sido, daí em diante, algo irregular, mas nunca perdeu a mordacidade da sua relação crítica com a cultura brasileira e com o espírito “nacional” do país – como se vê também noutro dos filmes do programa, o controverso COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS.
 
 
12/09/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos

Il Posto
O Emprego
de Ermanno Olmi
Itália, 1961 - 105 min
 
12/09/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos

Vedete, Sono uno di Voi
de Ermanno Olmi
Itália, 2017 - 76 min
13/09/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos

I Fidanzati
Os Noivos
de Ermanno Olmi
Itália, 1963 - 81 min
13/09/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos

Rio Zona Norte
de Nelson Pereira dos Santos
Brasil, 1957 - 90 min | M/12
17/09/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos

Vidas Secas
de Nelson Pereira dos Santos
Brasil, 1963 - 101 min | M/12
12/09/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos
Il Posto
O Emprego
de Ermanno Olmi
com Loredana Detto, Tullio Kezich, Sandro Panseri, Mara Revel
Itália, 1961 - 105 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Ermanno Olmi
Premiado pela crítica no Festival de Veneza, IL POSTO narra a história de dois jovens à procura do primeiro emprego. Um deles, Domenico, entra numa empresa e na sua vida quotidiana, de que faz parte a amizade com uma rapariga que nunca consegue ver porque trabalham em turnos diferentes. Com irónica leveza, Olmi oferece um quadro completo da condição pequeno-burguesa da grande cidade. Um dos grandes “clássicos” de Olmi que, através da história de uma personagem, traça o retrato da sociedade italiana.
 
12/09/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos
Vedete, Sono uno di Voi
de Ermanno Olmi
com Carlo Maria Martini, Ermanno Olmi
Itália, 2017 - 76 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Ermanno Olmi
O último filme de Ermanno Olmi é um documentário centrado na vida e na obra do Cardeal Carlo Maria Martini (1927-2012), durante décadas Arcebispo de Milão, e uma referência no catolicismo progressista italiano. Entre imagens de arquivo e leituras dos escritos de Martini, Olmi constrói uma evocação e uma homenagem, concluindo a sua obra em absoluta fidelidade a alguns dos principais eixos que nortearam a sua vida e o seu trabalho – sempre reivindicando a importância da fé católica e a proximidade com o povo. Era a única longa-metragem de Olmi que nos faltava mostrar nesta Cinemateca.
 
13/09/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos
I Fidanzati
Os Noivos
de Ermanno Olmi
com Carlo Cabrini, Anna Canzi
Itália, 1963 - 81 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Ermanno Olmi
Uma obra despojada, característica do cinema de Olmi, que reduz ao mínimo a dramaturgia, em grande parte feita por uma troca de cartas entre dois noivos. É o afastamento físico entre os dois noivos que faz reflorescer um amor que entrara na rotina, elemento que foi apontado como característico da cultura católica de Olmi. Adotado por Rosselllini e pela crítica francesa, com Godard à cabeça, o filme não conquista grande popularidade em Itália. À época, Piero Bianchi viu neste filme “um êxtase total, uma alegria subtil, uma obra em tom menor, mas rigorosa e profunda.”
 
13/09/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos
Rio Zona Norte
de Nelson Pereira dos Santos
com Grande Otelo, Jece Valadão, Paulo Goulart
Brasil, 1957 - 90 min | M/12
Nelson Pereira dos Santos
Segunda longa-metragem de Nelson Pereira dos Santos, RIO ZONA NORTE relaciona-se diretamente com a primeira, RIO 40 GRAUS (de 1955). É, como esse, um filme profundamente radicado na cultura popular carioca, e num dos seus veículos essenciais, o samba. Conta a história de um sambista que, deixado entre a vida e a morte na sequência de um acidente, luta pelo reconhecimento dos seus direitos sobre as canções que criou. É um dos filmes mais poderosos do cinema brasileiro dos anos cinquenta, e uma espécie de anúncio do “cinema novo” então ainda por vir. Primeira exibição na Cinemateca.
 
17/09/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam – Milos Forman, Ermanno Olmi, Nelson Pereira Dos Santos
Vidas Secas
de Nelson Pereira dos Santos
com Atila Lório, Genivaldo Lima, Gilvan Lima, Maria Ribeiro, Jofre Soares
Brasil, 1963 - 101 min | M/12
Nelson Pereira dos Santos
Baseado no romance homónimo de Graciliano Ramos, VIDAS SECAS acompanha a saga de uma família pressionada pela seca em travessia pelo sertão brasileiro em luta pela sobrevivência. Título fundamental do cinema brasileiro, é o mais conhecido filme de Nelson Pereira dos Santos.