CICLO
In Memoriam Jeanne Moreau


Jeanne Moreau (1928-2017) era um dos últimos grandes símbolos do cinema europeu, um cinema europeu que ela atravessou durante praticamente seis décadas e em vários instantes decisivos. Com uma carreira iniciada no final da década de 1940, e portanto ainda em vigência de uma época clássica – foi atriz de Jacques Becker mas também de alguns baluartes daquela velha guarda francesa para quem a “modernidade” seria tão violenta, como Jean Dréville, Marc Allégret, Henri Decoin, entre outros –, a sua presença trazia já, e desde o início, os indícios e a sugestão de outros tempos, outro cinema, como se ela própria fosse um prenúncio da modernidade. Não admira que tenha sido a chegada dos novos ventos a trazê-la para a primeira linha, definitivamente – como se Louis Malle (primeiro, com ASCENSEUR POUR L’ECHAFAUD e LES AMANTS) e depois Antonioni (com LA NOTTE), Truffaut (com JULES ET JIM), e ainda tantos outros, tivessem reconhecido nela uma atriz capaz de habitar uma ordem de ambivalência essencial a um cinema que doravante se sabia não-inocente e incapaz de proceder a um simulacro de inocência. A disponibilidade de Moreau, que sempre conciliou o cinema “popular” com um cinema artisticamente mais ambicioso, era total, como o atesta ainda a sua colaboração com Marguerite Duras (em NATHALIE GRANGER, arranque da obra cinematográfica da escritora), ou com Orson Welles, ou, mais tarde, com cineastas como Peter Handke, Theo Angelopoulos ou… Manoel de Oliveira, a cujo cinema chegou in extremis, com um pequeno papel em O GEBO E A SOMBRA, derradeira longa-metragem do realizador português.
Evocamo-lo, cerca de um mês depois da sua morte, com aquele que será o seu mais lendário papel, a Catherine do triângulo de JULES ET JIM. E em THE IMMORTAL STORY, de Welles.
 
 
01/09/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo In Memoriam Jeanne Moreau

Jules et Jim
Jules e Jim
de François Truffaut
França, 1962 - 100 min
 
01/09/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
In Memoriam Jeanne Moreau
Jules et Jim
Jules e Jim
de François Truffaut
com Jeanne Moreau, Oskar Werner, Henri Serre
França, 1962 - 100 min
legendado em português | M/16
JULES ET JIM é um título fundamental, não só da Nouvelle Vague mas de toda a obra de Truffaut, que ousou realizar um filme “de época”, o que era absolutamente insólito para o jovem cinema de então, guardando o tema da liberdade sexual, uma das marcas da Nouvelle Vague. Baseado num romance de Henri-Pierre Roché, o filme conta a história da relação triangular entre dois homens e uma mulher, numa construção em espiral, rumo a um final trágico e pacificador. Para Jeanne Moreau, Henri Serre e Oskar Werner bastava este filme como garantia de imortalidade. É nele que Moreau corre, ri e canta Le Tourbillon de la Vie na pele de Catherine. Truffaut sobre Jeanne Moreau: “Ela tem todas as qualidades que se esperam de uma mulher, mais aquelas que se esperam de um homem, sem os inconvenientes de ambos.”