21/01/2015, 14h00 | Sala Luís de Pina
Pedro Costa | Realizador Convidado
TRI PESNI O LENINE | LISTEN TO BRITAIN | THE SILENT VILLAGE
duração total da projeção: 117 min | M/12

TRI PESNI O LENINE
"Três Canções sobre Lenine"
de Dziga Vertov
URSS, 1934 – 61 min / mudo, intertítulos em russo, legendados eletronicamente em português – versão sonora
LISTEN TO BRITAIN
de Humphrey Jennings, Stewart McAllister
Reino Unido, 1942 – 20 min / legendado em português
THE SILENT VILLAGE
de Humphrey Jennings
Reino Unido, 1943 – 36 min / legendado eletronicamente em português

Em 1922, Vertov, no auge do fervor revolucionário, inaugurou a famosa série dos Kino-Pravda (vinte e três "jornais de atualidades", estreados entre 1922 e 1925). "Captar a vida tal como ela é", "agarrá-la de improviso", "ignorar os atores", "recusar os estúdios". Mas este programa, a que Maiakovski também aderiu, começou a ser combatido pelo Partido precisamente no ano fatídico de 1926, o ano em que Estaline confirmou o seu poder e em que Trotsky e Kamenev foram expulsos do Comité Central. Vertov procurou alguma liberdade na Ucrânia mas não mais o largaram as acusações de formalismo. “TRÊS CANÇÕES SOBRE LENINE” foi o apogeu e o fim da sua carreira. Deram-lhe a Ordem da Bandeira Vermelha, mas impuseram-lhe o ostracismo. Se uniu o cinema à rádio e o olhar ao ouvido, como alguns disseram, não o deixaram mais nem ver nem ouvir. Ficou um grande clássico do cinema, mas também um filme maldito. Vertov fez igualmente uma versão muda, em 1935, para poder projetar o filme nas vilas e aldeias onde o sonoro ainda não tinha chegado. Nela, havia novos episódios e alterações de montagem. Essa versão foi proibida e durante muito tempo considerou-se perdida. Reapareceu depois do fim da URSS (a Cinemateca exibiu-a pela primeira vez em 1993). A sessão prossegue com dois filmes de Humphrey Jennings (1907-1950), um dos mais relevantes cineastas europeus do seu tempo. Esteve ligado ao movimento surrealista e notabilizou-se na realização de documentários, tendo integrado a unidade de produção cinematográfica dos correios ingleses (GPO-General Post Office) em 1934. LISTEN TO BRITAIN é um dos melhores exemplos do tipo de montagem associativa praticado por Jennings (que nesta obra credita mesmo como correalizador o seu montador habitual, Stewart McAllister). Sem comentário em off, é a própria sucessão estruturada de imagens e sobretudo de sons que produz uma evocação extraordinariamente poética da vida quotidiana no Reino Unido durante a II Guerra, procurando mostrar, subtilmente, como a luta na retaguarda inglesa se fazia praticando um quotidiano o mais “normal” possível. Filme de propaganda composto como de reconstituição dramática (o aniquilamento da população da aldeia checa de Lidice, depois da recusa em denunciar o autor do atentado que que matou Reinhard Heydrich, é recriado numa pequena aldeia mineira do País de Gales, com os seus habitantes como protagonistas), THE SILENT VILLAGE foi produzido feito pela Crown Film Unit e assinado por Jennings. “Entre tudo o que o filme tem de notável, chamaríamos a atenção para a verdadeiramente extraordinária encenação ‘incorpórea’ do nazismo: apenas uma voz que tanto vem da telefonia (uma telefonia que quase jurávamos que Jennings foi buscar a Lang) como dos altifalantes montados nos carros de combate alemães, enquadrados em planos de ângulos surpreendentes, em absoluto e desumano contraste com a história de humanidade acossada que essa mesma voz desencadeia” (Luís Miguel Oliveira). THE SILENT VILLAGE é apresentado em cópia digital.

21/01/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
No Meu Cinema – João Bénard da Costa
RIO BRAVO
Rio Bravo
de Howard Hawks
com John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan
Estados Unidos, 1959 - 141 min
legendado em espanhol | M/12
A projeção é antecedida e sucedida pelas apresentações e comentários de João Bénard da Costa filmados por Margarida Gil para a série da RTP “No Meu Cinema”.

Um dos mais famosos westerns de sempre, e a obra-prima de Howard Hawks, que o fez em resposta a HIGH NOON de Zinnemann. Um grupo de homens com uma missão a cumprir é o tema geral dos filmes de aventuras de Hawks, neste caso a de manter a ordem numa pequena cidade, e levar a julgamento um assassino. Mas é também, como todos os filmes do realizador, uma fabulosa variação sobre a “guerra dos sexos”, com um fabuloso duelo verbal entre Wayne e Angie Dickinson. “E como, de cada vez que se vê RIO BRAVO, como de cada vez que se lê a Recherche, há sempre uma sequência – ou um plano – que parece mais central” (JBC).

21/01/2015, 16h00 | Sala Luís de Pina
Pedro Costa | Realizador Convidado
BLACK AND TAN | SHAKE!: OTIS AT MONTEREY | RIGHT ON!
duração total da projeção: 116 min | M/12

BLACK AND TAN
de Dudley Murphy
com Duke Ellington, Arthur Whetsol, Fredi Washington, Lovejoy
Estados Unidos, 1929 – 19 minutos / sem legendas
SHAKE!: OTIS AT MONTEREY
de D. A. Pennebaker
com Otis Redding, Booker T. & the M.G.s, Steve Cropper
Estados Unidos, 1986 – 19 minutos / sem legendas
RIGHT ON!
de Herbert Danska
com The Original Last Poets (Gylan Kain, Felipe Luciano, David Nelson)
Estados Unidos, 1970 – 78 min / sem legendas

No princípio do cinema sonoro, Duke Ellington obtinha o seu primeiro papel no cinema sob a sua própria alcunha, “Duke”, o que atesta a popularidade que já alcançara como músico. Desta parábola sobre o reconhecimento da cultura afro-americana inteiramente protagonizado por negros – e contemporânea do bem mais célebre HALLELUJAH, de King Vidor – destaca-se o número musical final: o magnífico sapateado sobre um chão de espelhos. Mostrado na Cinemateca no Centenário de Duke Ellington em 1999, BLACK AND TAN é uma preciosidade. SHAKE!: OTIS AT MONTEREY é um registo da mítica “performance” de Otis Redding no Monterey Pop Festival a 17 de junho de 1967, que contou uma das mais famosas interpretações “Shake” por parte do “rei do soul”. Um festival que estaria na origem do filme MONTEREY POP (Pennebaker, 1968), e que para além da presença de Otis Redding correspondeu à primeira apresentação nos Estados Unidos de Jimi Hendrix. RIGHT ON! acompanha os The Last Poets na sua poesia revolucionária e performances musicais pelos telhados do Harlem, em Nova Iorque. Percursores da revolução da cultura musical e uma das grandes influências do hip-hop, o filme que os retrata surge assim como um convincente testemunho do sentimento da comunidade negra através do contributo de tantos poetas e músicos que emergiram do African-American Civil Rights Movement e do Black Nationalist Movement no final da década de sessenta. RIGHT ON! foi descrito pelos seu produtor Woodie King, Jr., como “o primeiro filme inteiramente negro”, “não fazendo quaisquer concessões em termos de linguagem ou simbolismo para com as audiências brancas. “Poetry is black” é um das frases que mais sobressai da sua fortíssima banda sonora. Os dois últimos filmes são primeiras exibições na Cinemateca.

21/01/2015, 18h30 | Sala Luís de Pina
Foco no Arquivo
COLEÇÃO COLONIAL DA CINEMATECA: CAMPO, CONTRACAMPO, FORA DE CAMPO
duração total da sessão: 84 min | M/12
sessão apresentada por Maria do Carmo Piçarra (CECS), Sofia Sampaio (CRIA), Paulo Cunha (CEIS XX), Joana Pimentel (CP-MC)

STREETS OF EARLY SORROW
Caminhos para a Angústia
de Graham Parker, Faria de Almeida
com Lionel Ngokani, Olivia Farjeon
Reino Unido, 1963 – 8 min / sem diálogos
MONANGAMBÉE
de Sarah Maldoror
com Mohamed Zinet
Argélia, 1968 – 15 min / falado em francês, sem legendas
UM SAFARI FOTOGRÁFICO NAS COUTADAS DA SAFRIQUE
de Faria de Almeida
Portugal, 1972 – 11 min
LE PORTUGAL D’OUTRE MER DANS LE MONDE D’AUJOURD’HUI
de Jean Leduc
Portugal, 1971 – 50 min / falado em francês, sem legendas

Organizada em colaboração com o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho, esta sessão marca o lançamento de um debate público em que a Cinemateca propõe a criação de uma plataforma de investigação continuada sobre a sua coleção colonial. Ao campo cinematográfico de afirmação propagandista do Lusotropicalismo, em obras como LE PORTUGAL D’OUTRE MER DANS LE MONDE D’AUJOURD’HUI, opõe-se aqui o contracampo de filmes de resistência como CAMINHOS PARA A ANGÚSTIA, que aborda o Massacre de Sharpeville, e MONANGAMBÉE, que fixa o desconhecimento da cultura africana e a brutalidade da polícia portuguesa. UM SAFARI FOTOGRÁFICO NAS COUTADAS DA SAFRIQUE mostra como o Estado Novo se quis impor, através da promoção turística das colónias, como “paraíso perdido”. Após a projeção, Maria do Carmo Piçarra, Sofia Sampaio e Paulo Cunha abordarão a política colonial do Estado Novo tal como imaginada no cinema de propaganda, as reações a essa política em filmes de resistência, e, finalmente, o que ficou “fora de campo”. Joana Pimentel fará uma breve apresentação da coleção colonial entendida em sentido lato. Os primeiros dois títulos são apresentados em cópias vídeo. Primeiras exibições na Cinemateca.
 

21/01/2015, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
No Meu Cinema – João Bénard da Costa
U SAMOGO SINEVO MORIA
“À Beira do Mar Azul”
de Boris Barnet
com Elena Kuzmina, Lev Sverdlin, Nicolai Kriuchkov
URSS, 1933 - 71 min
legendado em português | M/12
A projeção é antecedida e sucedida pelas apresentações e comentários de João Bénard da Costa filmados por Margarida Gil para a série da RTP “No Meu Cinema”.

Este filme é, como a generalidade da obra de Barnet, aparentemente “leve”, de um lirismo magistral, filmado do modo mais livre e menos convencional: dois jovens pescadores de um kholkoze apaixonam-se pela mesma rapariga, tornando-se rivais até um desconcertante final. Uma sequência inesquecível: a “ressurreição” da protagonista. Pouco visto à época, fora da URSS, À BEIRA DO MAR AZUL é hoje unanimemente considerado uma das obras máximas do cinema russo, ou do cinema tout court. “E nunca, a não ser em ORDET de Dreyer, o triunfo dos corpos ressuscitados foi tão físico e tão anímico, tão carne e tão espírito” (JBC).

21/01/2015, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Da coleção de Vítor Ribeiro
SOIS BELLE ET TAIS TOI
A Bela e os Gangsters
de Marc Allégret
com Henri Vidal, Milène Demongeot, Jean-Paul Belmondo, Anne Collette, Alain Delon
França, 1958 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/12

Ao fugir pela terceira vez de um reformatório, Virginie vê-se acidental e inocentemente envolvida com um gangue de ladrões de joias. As coisas complicam-se quando se apaixona pelo polícia que os persegue. Com argumento de Roger Vadim, o filme foi pensado para Brigitte Bardot. Por impossibilidade desta, o papel foi confiado a Milène Demongeot, que teve neste filme a sua estreia como protagonista, numa tentativa de a promover a sex symbol. Jean-Paul Belmondo e Alain Delon fazem os seus primeiros papéis relevantes. Primeira exibição na Cinemateca.

21/01/2015, 22h00 | Sala Luís de Pina
Pedro Costa | Realizador Convidado
TOUTE UNE NUIT
de Chantal Akerman
com Aurore Clément, Samy Szlingerbaum, Natalia Akerman, Simon Zalewski
Bélgica, França, 1982 - 90 min
legendado eletronicamente em português | M/12

TOUTE UNE NUIT segue um conjunto de indivíduos e de casais no desenrolar do seu quotidiano. Através de uma narrativa ficcional fragmentada e de diálogos minimais, Akerman trata alguns dos mais importantes aspectos das relações humanas: a paixão, o humor, a rejeição, etc. Como escreveu Serge Daney “A noite é mais longa que o desejo, a câmara é mais paciente que a noite, a cidade desperta.”