TRI PESNI O LENINE
"Três Canções sobre Lenine"
de Dziga Vertov
URSS, 1934 – 61 min / mudo, intertítulos em russo, legendados eletronicamente em português – versão sonora
LISTEN TO BRITAIN
de Humphrey Jennings, Stewart McAllister
Reino Unido, 1942 – 20 min / legendado em português
THE SILENT VILLAGE
de Humphrey Jennings
Reino Unido, 1943 – 36 min / legendado eletronicamente em português
Em 1922, Vertov, no auge do fervor revolucionário, inaugurou a famosa série dos Kino-Pravda (vinte e três "jornais de atualidades", estreados entre 1922 e 1925). "Captar a vida tal como ela é", "agarrá-la de improviso", "ignorar os atores", "recusar os estúdios". Mas este programa, a que Maiakovski também aderiu, começou a ser combatido pelo Partido precisamente no ano fatídico de 1926, o ano em que Estaline confirmou o seu poder e em que Trotsky e Kamenev foram expulsos do Comité Central. Vertov procurou alguma liberdade na Ucrânia mas não mais o largaram as acusações de formalismo. “TRÊS CANÇÕES SOBRE LENINE” foi o apogeu e o fim da sua carreira. Deram-lhe a Ordem da Bandeira Vermelha, mas impuseram-lhe o ostracismo. Se uniu o cinema à rádio e o olhar ao ouvido, como alguns disseram, não o deixaram mais nem ver nem ouvir. Ficou um grande clássico do cinema, mas também um filme maldito. Vertov fez igualmente uma versão muda, em 1935, para poder projetar o filme nas vilas e aldeias onde o sonoro ainda não tinha chegado. Nela, havia novos episódios e alterações de montagem. Essa versão foi proibida e durante muito tempo considerou-se perdida. Reapareceu depois do fim da URSS (a Cinemateca exibiu-a pela primeira vez em 1993). A sessão prossegue com dois filmes de Humphrey Jennings (1907-1950), um dos mais relevantes cineastas europeus do seu tempo. Esteve ligado ao movimento surrealista e notabilizou-se na realização de documentários, tendo integrado a unidade de produção cinematográfica dos correios ingleses (GPO-General Post Office) em 1934. LISTEN TO BRITAIN é um dos melhores exemplos do tipo de montagem associativa praticado por Jennings (que nesta obra credita mesmo como correalizador o seu montador habitual, Stewart McAllister). Sem comentário em off, é a própria sucessão estruturada de imagens e sobretudo de sons que produz uma evocação extraordinariamente poética da vida quotidiana no Reino Unido durante a II Guerra, procurando mostrar, subtilmente, como a luta na retaguarda inglesa se fazia praticando um quotidiano o mais “normal” possível. Filme de propaganda composto como de reconstituição dramática (o aniquilamento da população da aldeia checa de Lidice, depois da recusa em denunciar o autor do atentado que que matou Reinhard Heydrich, é recriado numa pequena aldeia mineira do País de Gales, com os seus habitantes como protagonistas), THE SILENT VILLAGE foi produzido feito pela Crown Film Unit e assinado por Jennings. “Entre tudo o que o filme tem de notável, chamaríamos a atenção para a verdadeiramente extraordinária encenação ‘incorpórea’ do nazismo: apenas uma voz que tanto vem da telefonia (uma telefonia que quase jurávamos que Jennings foi buscar a Lang) como dos altifalantes montados nos carros de combate alemães, enquadrados em planos de ângulos surpreendentes, em absoluto e desumano contraste com a história de humanidade acossada que essa mesma voz desencadeia” (Luís Miguel Oliveira). THE SILENT VILLAGE é apresentado em cópia digital.