CICLO
Do Outro Lado do Espelho


A  passagem para o outro lado do espelho, seja ele representado como um mundo abstrato e onírico, como acontece em LE SANG D’UN POÈTE, de Jean Cocteau, seja uma representação do inferno e do reino dos mortos, como em ORPHÉE, ou seja ainda uma realidade como a descrita pelo grande clássico da literatura de Lewis Carroll, tantas vezes adaptado ao cinema, é sempre uma viagem para um mundo paralelo.
O filme que assombra e está na base deste Ciclo é uma dessas versões de Alice, tantas vezes visto e revisto em criança, filme mudo projetado em Super8, que tão magicamente retratava a passagem de Alice para o outro lado do espelho. Não está cá este filme, mas está a versão da Disney, em que Alice contempla o seu reflexo na água. Por outro lado, também não está a primeira longa-metragem produzida por esses mesmos estúdios, mas está o BRANCA DE NEVE de João César Monteiro.
Entre “clássicos” e algumas raridades – vários títulos de cariz mais experimental, em que se inclui um núcleo de filmes de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, inéditos na Cinemateca –, este programa composto por vinte e sete sessões, mas necessariamente muito incompleto, dada a extensão e o poder deste motivo, dá conta de múltiplas aceções e de usos do espelho no cinema, objeto que funciona como metáfora do próprio cinema, simultaneamente pelos espelhos que presidem à constituição de toda a câmara de filmar e pelos mundos paralelos que criam, reflexos do nosso próprio mundo, que estilhaçam ou desmultiplicam.
Se a imagem cinematográfica e a imagem especular podem ser confundidas, não é a mesma coisa pensar a realidade e o seu reflexo. A perturbação que se sente diante dessa imagem invertida é fonte de tantas histórias fantásticas e de uma inquietante estranheza, de tantos regressos ao passado e de saltos no espaço e no tempo, como provam estes e muitos outros filmes em que os espelhos e as superfícies espelhadas, nas suas múltiplas aceções, têm um papel essencial.
 
16/08/2022, 21h45 | Esplanada
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

Peggy Sue Got Married
Peggy Sue Casou-se
de Francis Ford Coppola
Estados Unidos, 1986 - 103 min
 
17/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

Ein Lichtspiel Schwarz-Weiss-Grau | La Glace à Trois Faces | Six et Demi Onze
duração total de projeção: 116 minutos | M/12
 
18/08/2022, 21h45 | Esplanada
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

The Woman in the Window
Suprema Decisão
de Fritz Lang
Estados Unidos, 1944 - 100 min
19/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

The Picture of Dorian Gray
O Retrato de Dorian Gray
de Albert Lewin
Estados Unidos, 1945 - 110 min
20/08/2022, 21h45 | Esplanada
Ciclo Do Outro Lado do Espelho

The Lady in the Lake
A Dama do Lago
de Robert Montgomery
Estados Unidos, 1947 - 101 min
16/08/2022, 21h45 | Esplanada
Do Outro Lado do Espelho
Peggy Sue Got Married
Peggy Sue Casou-se
de Francis Ford Coppola
com Kathleen Turner, Nicolas Cage, Barry Miller, Catherine Hicks
Estados Unidos, 1986 - 103 min
legendado em português | M/12
Kathleen Turner é Peggy Sue, uma mulher de 40 e poucos anos que, à beira do divórcio, faz uma viagem no tempo regressando aos anos 60 e aos tempos de juventude para poder decidir se voltaria a dar os mesmos passos, e a casar com o mesmo homem. Um conto moderno imbuído de romantismo em que Coppola usa a ironia e o humor para contrariar a nostalgia de uma impossibilidade de regresso à adolescência. As sequências da abertura e do final revelam como tudo se trata de um jogo de espelhos em que mesmo estes são simulacros (os espelhos reais dão lugar a falsos reflexos construídos com recurso a duplos).

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17/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Do Outro Lado do Espelho
Ein Lichtspiel Schwarz-Weiss-Grau | La Glace à Trois Faces | Six et Demi Onze
duração total de projeção: 116 minutos | M/12
EIN LICHTSPIEL SCHWARZ-WEISS-GRAU
“Jogo de Luz Preto-Branco-Cinzento”
de László Moholy-Nagy
Alemanha, URSS, 1930 – 6 min / mudo, sem intertítulos

LA GLACE À TROIS FACES
de Jean Epstein
com René Ferre, Jeanne Helbling, Suzy Pierson, Olga Day
França, 1927 – 39 min /  mudo, intertítulos em francês, legendados eletronicamente em português

SIX ET DEMI ONZE
de Jean Epstein
com Edmond Van Daële, Suzy Pierson, Nino Constantini
França, 1927 – 85 min / mudo, intertítulos em francês, legendados eletronicamente em português

“JOGO DE LUZ PRETO-BRANCO-CINZENTO” é dos mais conhecidos trabalhos em filme do fotógrafo László Moholy--Nagy, em que a abstração das imagens no jogo de luz proposto tem o referente concreto do Modulador Espaço--Luz, também conhecido como acessório luminoso para um cenário elétrico, escultura motorizada de metal e vidro que produz uma multiplicação de reflexos e perspetivas numa dança de luz no espaço. A sessão prossegue com um díptico formado pelos dois filmes mais importantes do período de vanguarda de Jean Epstein. LA GLACE À TROIS FACES antecipa diversas soluções visuais e narrativas de L’ANNÉE DERNIÈRE À MARIENBAD, para abordar as aventuras de um homem com três mulheres diferentes, misturando o passado e o presente. É um dos pontos culminantes da “vanguarda narrativa”. SIX ET DEMI ONZE (alusão ao formato do negativo de um filme: 6,5 x 11) radicaliza as opções do realizador, com elegantes cenários, sobreposições e o uso de espelhos, para contar a história de uma mulher que tem um caso com o irmão do falecido amante. Os filmes de Epstein serão exibidos em cópias digitais.

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18/08/2022, 21h45 | Esplanada
Do Outro Lado do Espelho
The Woman in the Window
Suprema Decisão
de Fritz Lang
com Edward G. Robinson, Joan Bennett, Raymond Massey, Dan Duryea
Estados Unidos, 1944 - 100 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um dos filmes de que Fritz Lang mais gostava, e o que mais se coloca sob a instância psicanalítica, na manifestação do sonho como reflexo de culpas não assumidas. Todo o filme é uma construção onírica sobre um homem convencional que se deixa envolver nas teias de uma mulher fatal que o conduzem ao crime. É famosa a sequência em que Edward G. Robinson para em frente a uma montra para contemplar um quadro e é surpreendido pelo seu duplo, numa fusão entre retrato e reflexo. Um filme que multiplica os jogos de espelhos que em parte evocam a duplicidade das próprias personagens.

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19/08/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Do Outro Lado do Espelho
The Picture of Dorian Gray
O Retrato de Dorian Gray
de Albert Lewin
com Hurd Hatfield, George Sanders, Angela Lansbury
Estados Unidos, 1945 - 110 min
legendado eletronicamente em português | M/12
A mais famosa adaptação da história de Oscar Wilde, realizada por esse singularíssimo cineasta que foi Albert Lewin. Hurd Hatfield compõe um soberbo Dorian Gray, e George Sanders, no máximo da sua cínica elegância, interpreta Lord Henry. O “retrato” propriamente dito abre o filme e volta, “metamorfoseado” e a cores, para o fechar, numa visão de puro horror. A exibir em cópia digital.

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20/08/2022, 21h45 | Esplanada
Do Outro Lado do Espelho
The Lady in the Lake
A Dama do Lago
de Robert Montgomery
com Robert Montgomery, Audrey Totter, Lloyd Nolan
Estados Unidos, 1947 - 101 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Este célebre filme negro leva ao extremo o princípio da câmara subjetiva. À exceção do prólogo e do epílogo, tudo é visto pelos olhos do protagonista (o célebre detetive privado Philip Marlowe, dos romances de Raymond Chandler), cujo papel é encarnado pelo realizador. Ou seja, o ponto de vista do realizador e o do protagonista é literalmente o mesmo. Como sempre no filme negro, a trama (uma história de desaparecimento, substituição de pessoas e morte) é complexa e pouco clara: tudo se passa na criação do ambiente, na fotografia a preto e branco e no desempenho dos atores. Por ser inteiramente filmado em câmara subjetiva, apenas nos apercebemos do protagonista através dos seus reflexos em espelhos. 

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