CICLO
Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]


Na revisita dos géneros clássicos que temos proposto regularmente, chega agora a vez da ficção científica. Género com pergaminhos nesta Cinemateca, que mereceu, em 1984, um ciclo que é hoje dos mais lembrados dessa época, pelo pioneirismo, pela qualidade e pela extensão. A ideia desta revisita não é uma repetição desse ciclo, nem possível nem desejável – quanto mais não seja pelo simples facto de haver, desde então, praticamente mais quarenta anos de “história do cinema”, e particularmente do cinema de ficção científica. Mas a ambição de traçar um relato relevante da história do género levou-nos a dividir o ciclo em duas metades para um total de cerca de cinquenta títulos, dos absolutos primórdios (Méliès) à época contemporânea (o filme mais recente que contamos apresentar, na segunda parte do ciclo, é AD ASTRA de James Gray). Para lidar, com um mínimo de coerência, com esta amplitude cronológica, era preciso dividir o ciclo em dois, e encontrar um ponto de charneira. Arbitrariamente, mas procurando o ponto menos arbitrário possível. Encontrámo-lo no ano de 1968, o ano em que se estreou um dos filmes mais decisivos do género, ponto culminante do que estava para trás e marco inevitável a ter em consideração em tudo o que se fez posteriormente: o ano da estreia de 2001: A SPACE ODYSSEY, de Stanley Kubrick. Estreia que antecedeu, em pouco mais de um ano, um momento marcante da história da humanidade, a chegada à Lua em 1969, e respetivas imagens televisivas, que terão significado, para os espectadores da época, uma espécie de concretização daquilo que a ficção científica antecipou. Entre 1968 e 1969, entre 2001 e a Apollo 11, a forma do ser humano pensar o seu lugar no universo terá mudado alguma coisa, mas certamente que muito mudou na forma de o cinema de ficção científca se pensar a si próprio.
Esta primeira parte, “antes de 2001”, acompanha as décadas formadoras do género, nas suas múltiplas declinações e possibilidades, entre títulos muito conhecidos e outros que serão uma descoberta para a generalidade dos espectadores. Encontramos, nesta fase, autores consagrados a dedicarem-se à “fc” (Fritz Lang e o seu FRAU IM MOND, que até inventou a contagem decrescente décadas depois adotada pela NASA, é um exemplo por excelência), mas o género era ainda, maioritariamente, um território do espectáculo e da invenção visual, aproveitando o facto de, entre todos os géneros clássicos, ser certamente aquele em que os códigos eram mais fluídos, menos institucionalizados a priori, o que também permitiu o florescimento de inúmeros “subgenéros” e de interpretações deles muito ligadas a cada momento histórico (de que é um exemplo perfeito a “fc” dos anos 50, muito marcada pela memória da II Guerra, das bombas atómicas, e da Guerra Fria). Por outro lado, também convém insistir nessa questão histórica; porque se associa demasiadas vezes a “fc” a uma forma de escapismo puro (que o género também foi, e nalguns casos sobretudo foi), quando a virtude do género sempre foi uma profunda ligação ao momento vivido em cada época histórica, o facto de os filmes de “fc” inventarem mundos futuros e/ou alternativos para, no fundo, nos falarem, e nos revelarem, o mundo presente e/ou o mundo real. É assim que a viagem desta primeira parte do ciclo, por entre toda a sua invenção, toda a sua fantasia, por vezes (já) alguma “metafísica”, daquilo que nos fala realmente é das primeiras seis ou sete décadas do século XX.
 
02/06/2022, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]

Le Voyage dans la Lune | Aelita
duração total da projeção: 100 min
07/06/2022, 18h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]

Frau im Mond
A Mulher na Lua
de Fritz Lang
Alemanha, 1929 - 190 min
08/06/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]

Ikarie XB-1
de Jindrich Polak
Checoslováquia, 1963 - 87 min
 
08/06/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]

The Lost World
O Mundo Perdido
de Harry O. Hoyt
Estados Unidos, 1925 - 104 min
 
14/06/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]

Things to Come
A Vida Futura
de William Cameron Menzies
Reino Unido, 1936 - 92 min
02/06/2022, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]
Le Voyage dans la Lune | Aelita
duração total da projeção: 100 min
mudos, com legendagem eletrónica em português | M/12
com acompanhamento ao piano por Filipe Raposo
LE VOYAGE DANS LA LUNE
de Georges Méliès
com Georges Méliès
França, 1902 - 16 min

AELITA
de Jakov Protazanov
com Yuliya Solntseva, Nicolai Tseretelli, Valentina Kuindji
URSS, 1924 – 84 min

LE VOYAGE DANS LA LUNE, um dos filmes mais conhecidos de Georges Méliès é considerado o primeiro filme de ficção científica, é uma deliciosa féerie muito livremente inspirada no popular romance de Jules Verne. Trucagens ingénuas e maravilhosas num primitivo incontornável na história do cinema. Primeiro filme de ficção científica soviético, grande êxito, mas alvo de críticas por parte do regime, AELITA é um dos raros exemplos de construtivismo no cinema, à maneira de Meyerhold nos extraordinários cenários e figurinos (de autoria, respetivamente, de Sergei Kozlovsky e Alexandre Exter). Como tantas obras de ficção científica, o filme também é uma fábula política: chegado a Marte, um engenheiro soviético apaixona-se pela rainha Aelita. Mas quando tenta fomentar uma revolta dos escravos, é traído por ela. Um dos pontos altos do cinema mudo soviético e do filme de ficção científica de modo geral. AELITA é exibido em cópia digital.

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de LE VOYAGE DANS LA LUNE aqui

consulte a FOLHA DA CINEMATECA de AELITA aqui
07/06/2022, 18h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]
Frau im Mond
A Mulher na Lua
de Fritz Lang
com Gerda Maurus, Willy Fritsch, Kirsten Heilberg
Alemanha, 1929 - 190 min
mudo, com intertítulos em português | M/12
Devido a um impedimento de saúde do pianista Daniel Schvetz, não vamos poder ter acompanhamento musical, como estava anunciado.
Uma expedição à Lua, em 1929, em busca de ouro, com fabulosos cenários, numa história de amor, de cobiça, de luta contra o destino e de fracasso, como todos os filmes de Lang. Ao fim da aventura, só restarão um homem e uma mulher, novos Adão e Eva num mundo deserto. FRAU IM MOND tem a curiosidade de ter sido também o primeiro grande filme de ficção científica feito com rigor. Foi o último título mudo de Lang. “Obcecado pela exatidão documental, Lang quer imagens visionárias, não uma utopia fantasiosa. Ao imbróglio e ao ritmo da vida moderna, já presentes em SPIONE, junta-se aqui a sua paixão pela técnica moderna e futurista” (Bernard Eisenschitz). Um tesouro da Cinemateca, restituído, no ano 2000, à sumptuosidade de origem, numa versão restaurada a partir de uma cópia em nitrato de época conservada no nosso arquivo. 

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08/06/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]
Ikarie XB-1
de Jindrich Polak
com Zdenek Stepanek, Radovan Lukavsky, Dana Medricka
Checoslováquia, 1963 - 87 min
legendado em inglês e eletronicamente em português / M/12
O mais impressionante de IKARIE XB-1 é a quantidade de pontos de contacto (visuais e não apenas narrativos) com o 2001 de Kubrick, estreado cinco anos mais tarde, dando-se hoje por adquirido que este foi um filme que Kubrick estudou quando preparava o seu. Baseado numa história do autor polaco Stanislaw Lem sobre uma nave à procura de um planeta misterioso, o filme de Jindrich Polak é uma obra de ficção científica minuciosa (nos décors, por exemplo) mas em perfeita articulação com o carácter metafísico e interiorizado de muita da “fc” da Europa oriental.

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08/06/2022, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]
The Lost World
O Mundo Perdido
de Harry O. Hoyt
com Bessie Love, Wallace Beery, Lewis Stone, Lloyd Hughes
Estados Unidos, 1925 - 104 min
mudo, intertítulos em inglês e legendado eltronicamente em português | M/12
com acompanhamento ao piano por João Paulo Esteves da Silva
Versão muda de uma adaptação do romance de Arthur Conan Doyle, notável pelos efeitos especiais que recriam monstros pré-históricos em animação stop motion. O filme de Hoyt em que brilham os dinossauros (teve dois remakes, em 1960 e em 1997) é tido como um percursor de KING KONG quer pela estrutura narrativa quer pelos efeitos especiais de Willis O’Brien. A exibir em cópia digital.

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14/06/2022, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros: A Ficção Científica [I Parte]
Things to Come
A Vida Futura
de William Cameron Menzies
com Raymond Massey, Ralph Richardson, Margaretta Scott
Reino Unido, 1936 - 92 min
legendado em português | M/12
O mais célebre filme de ficção científica britânico, com argumento de H.G. Wells adaptando uma história sua. THINGS TO COME destaca-se pela sua extraordinária conceção cenográfica, ainda hoje tão impressionante como era nos anos trinta. A história, distópica, passa-se num tempo em que a humanidade foi forçada a viver em cidades subterrâneas.

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