CICLO
Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro


“Interiormente ele estava cheio de imagens.”
“Estamos separados do passado não por um abismo, mas pela situação que mudou.”
 
dos diálogos dos filmes “O Ataque do Presente ao Tempo que Resta” e
 “DESPEDIDA DE ONTEM”
 
Uma retrospetiva da vastíssima obra cinematográfica de Alexander Kluge, organizada em colaboração com a Casa do Cinema Manoel de Oliveira (que acolherá em simultâneo uma instalação inédita constituída por vários excertos de filmes intitulada A Política dos Sentimentos), e em diálogo com Kluge e com a sua equipa. Alexander Kluge (n. 1932) é um dos mais importantes nomes do cinema contemporâneo, que, desde os anos cinquenta, tem desenvolvido uma obra multidisciplinar que atravessa as áreas da literatura, da filosofia e do cinema, culminando numa intensa produção de programas para televisão. Se nos anos 1950 é muito próximo da Escola de Frankfurt e da Teoria Crítica dos sociólogos e filósofos Max Horkheimer, Theodor Adorno ou Jürgen Habermas, é no início dos anos sessenta que se inicia no cinema, algum tempo depois de uma breve experiência enquanto assistente de Fritz Lang. Impulsionador e um dos principais signatários do Manifesto de Oberhausen (1962), Kluge afirma-se como um dos expoentes do Novo Cinema Alemão e como o seu grande “teórico”. Com os seus colegas realizará em 1978 o importante filme coletivo A ALEMANHA NO OUTONO.
Entre as várias longas-metragens que realizou encontramos obras com grande expressão pública como “despedida de ontem” (1966) ou “OS ARTISTAS SOB A CÚPULA DE CIRCO: PERPLEXOS” (1968), a que se somarão outros marcos na obra do cineasta como “O PODER DOS SENTIMENTOS” (1983), filme muito fragmentado que realiza poucos anos antes da transição para a televisão. Com uma profunda crença no trabalho coletivo e com uma vontade de produzir uma “revolução” a partir de dentro, é quando funda a sua própria produtora de televisão – a DCTP – que Kluge acelera o seu ritmo de produção, realizando, desde os anos oitenta até hoje, centenas de programas.
Nesta retrospetiva muito abrangente, que atravessará as várias fases da sua obra, incluindo os trabalhos mais recentes (excluímos ORPHEA, que teve estreia recente em Portugal), revela-se como há temas e questões que dominam todo o seu “cinema impuro”, atravessado pela heterogeneidade, e que parte de fotografias, pinturas, textos, outros filmes, entre muitos outros materiais. Um cinema fragmentário assente numa reciclagem constante de imagens e sons, que o cineasta monta de modo único em obras fílmicas e “programas” destinados aos mais diversos contextos: cinema, televisão, exposições, edições. Entre os seus temas de eleição destaca-se a reflexão sobre o passado histórico da Alemanha, na sua articulação com a contemporaneidade, em que a Segunda Guerra Mundial e o Terceiro Reich, e a questão do que os poderia ter evitado se assumem como cruciais. O bombardeamento da cidade de Halberstadt em 1945, que testemunha enquanto criança marcará toda a sua produção futura. Atento às grandes questões históricas e ao papel dos “sentimentos”, Kluge dedica grande importância às personagens femininas, que dominam tantas óperas que cita cem cessar, mas também um “cinema dialético” (entendido sempre aqui num sentido amplo) que oscila em permanência entre realidade e ficção.
Entre a gravidade dos temas que trata e uma vertente mais lúdica, o que Kluge no fundo nos propõe são novas formas de imaginar e pensar as relações entre passado, presente e futuro através de um trabalho singular sobre as memórias e materiais, com o intuito de, como escreve num dos seus ensaios mais famosos, “ser possível apresentar a realidade como a ficção histórica que é”.
 Ávido colecionador de pequenas histórias em grande parte inspiradas em factos reais, o cinema permite-lhe ainda devolver importância à oralidade, que pratica em tantas entrevistas que convocam uma multitude de temporalidades. Mas é também ao cinema que dedica várias das suas mais fulgurantes produções, que frequentemente se expandem por múltiplos ecrãs. Todos os filmes serão apresentados em cópias digitais. A retrospetiva será introduzida por uma conversa com Alexander Kluge (por videoconferência) e com Vincent Pauval.
 
28/07/2021, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Der Mit den Bildern Tanzt
“Dançando com as Imagens”
de Alexander Kluge
Alemanha, 2017 - 90 min
28/07/2021, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

K Comme “Kairosfilm” | Alle Gefühle Glauben an Einen Glücklichen Ausgang – Über Alexander
duração total da projeção: 110 min | M/12
29/07/2021, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Im Sturm der Zeit
“Na Tempestade do Tempo”
duração total da projeção: 76 min | M/12
30/07/2021, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Happy Lamento
de Alexander Kluge
Alemanha, 2018 - 90 min
 
31/07/2021, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Auf des Messers Schneide: 1929
“No Fio da Navalha: 1929”
de Alexander Kluge
Alemanha, 2020 - 83 min
 
28/07/2021, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Em colaboração com a Casa do Cinema Manoel de Oliveira/Fundação de Serralves
Der Mit den Bildern Tanzt
“Dançando com as Imagens”
de Alexander Kluge
com Alexander Kluge, Anselm Kiefer
Alemanha, 2017 - 90 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um imenso diálogo de Kluge com (e sobre) Anselm Kiefer, um dos mais importantes pintores contemporâneos. Estas entrevistas para a televisão são lendárias pois, ao longo dos anos, os dois encontraram-se várias vezes e tiveram extensas discussões. Com um entusiasmo cativante falam sobre a carreira de Kiefer e a sua maneira de trabalhar, sobre fontes de inspiração e materiais, sobre mitos e sobre a História. Um retrato dialógico de um grande artista que apresentamos aqui numa versão de uma hora e meia (existindo uma versão com cerca de cinco horas de duração). Primeira exibição na Cinemateca.

Consulte a FOLHA DA CINEMATECA aqui.
28/07/2021, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Em colaboração com a Casa do Cinema Manoel de Oliveira/Fundação de Serralves
K Comme “Kairosfilm” | Alle Gefühle Glauben an Einen Glücklichen Ausgang – Über Alexander
duração total da projeção: 110 min | M/12
K COMME “KAIROSFILM”
com Alexander Kluge
França, 2018 – 32 min / legendado eletronicamente em português

ALLE GEFÜHLE GLAUBEN AN EINEN GLÜCKLICHEN AUSGANG – ÜBER ALEXANDER
"Todos os Sentimentos Acreditam em Finais FelizesSobre Alexander Kluge"
de Angelika Wittlich
com Alexander Kluge, Edgar Reitz, Hannelore Hoger, Oskar Negt, Jürgen Habermas
Alemanha, 2001 – 78 min / legendado eletronicamente em português

Uma sessão inaugurada por uma impressiva entrevista sobre aspetos importantes da obra de Alexander Kluge em que este nos revela como as “história de base” são as histórias de amor, e a “intensificação” é a chave do seu trabalho. Trata-se de um fragmento de um documentário inacabado, cujo entrevistador é o poeta e documentarista francês Eric Sarner. A sessão prossegue com outro documentário sobre o cineasta realizado por Angelika Wittlich. Nele visita-se Kluge no seu apartamento em Munique, que também acomoda um pequeno estúdio usado para os programas televisivos que produz, ou Kluge lê em voz alta e reconta histórias como a do bombardeamento de Halberstadt, a sua cidade natal. Como ele próprio dirá: "O que não entendemos quando crianças, contemplamos o resto da nossa vida." Primeiras exibições na Cinemateca.

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29/07/2021, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Em colaboração com a Casa do Cinema Manoel de Oliveira/Fundação de Serralves
Im Sturm der Zeit
“Na Tempestade do Tempo”
duração total da projeção: 76 min | M/12
IM STURM DER ZEIT
“Na Tempestade do Tempo”

STURM ÜBER ÄGYPTEN
“Tempestade no Egito”

ICH RIECHE DEN STURM
“Sinto a Tempestade”

WILDE NACHT MIT MOND
“Noite Selvagem, com Lua”

FROHE OSTERN
“Feliz Páscoa”

ALS OFFIZIER UND PHILOSOPH
“Oficial e Filósofo”

NIETZSCHES FRÖHLICHE WISSENSCHAFT
“A Gaia Ciência de Nietzsche
de Alexander Kluge
Alemanha, 2007, 2013, 2013, 2013, 2013, 2005, 2013 – 76 min / legendados eletronicamente em português

Um programa composto por sete curtas-metragens realizadas entre 1985 e 2007. Genericamente intitulado IM STURM DER ZEIT/“NA TEMPESTADE DO TEMPO”, evoca os fantasmas da Segunda Guerra Mundial por meio da contaminação entre factos e ficções: uma história rápida do Reichstag alemão com a sua atribulada história; um “filme-minuto”; Peter Berling, enquanto capitão holandês que transporta escravos no seu barco e medita sobre a alma humana; uma evocação do “Anjo da História” de Walter Benjamin; uma série de acidentes ocorridos na Páscoa, “cujos feriados são demasiado curtos para iniciar uma vida nova e demasiado longos para continuar a vida antiga”. O último segmento revela como, durante muitos anos, Nietzsche partilhou a sua jovem amante russa, Lou Andreas-Salomé, com seu melhor amigo Paul Rée, numa suposta relação com o que terá escrito em Gaia Ciência. Primeiras exibições na Cinemateca.

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30/07/2021, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Em colaboração com a Casa do Cinema Manoel de Oliveira/Fundação de Serralves
Happy Lamento
de Alexander Kluge
com Helge Schneider, Heiner Müller, Galina Antoschewskaja, Peter Berling
Alemanha, 2018 - 90 min
legendado eletronicamente em português | M/12
HAPPY LAMENTO revela bem a liberdade e a radicalidade de Alexander Kluge quando, muitos anos depois da sua última longa-metragem, regressa verdadeiramente ao cinema. Um filme que conta com a participação do artista e realizador filipino Khavn de la Cruz, que coassinará com Kluge a sua última longa para cinema, ORPHEA. Reconhecemos aqui todo o eclético trabalho de montagem, os motivos, e mesmo as imagens e sons de muitas das suas produções anteriores. Como dirá o próprio: “É um filme musical peculiar. O núcleo central tem a ver com a luz elétrica, o circo, a canção ‘Blue Moon’ e as violentas guerras de rua entre gangues de crianças no norte de Manila”. Primeira exibição na Cinemateca.

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31/07/2021, 18h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Alexander Kluge: Por um Cinema Impuro

Em colaboração com a Casa do Cinema Manoel de Oliveira/Fundação de Serralves
Auf des Messers Schneide: 1929
“No Fio da Navalha: 1929”
de Alexander Kluge
com Hans Magnus Enzensberger, Olli Schulz, Alfred Edel
Alemanha, 2020 - 83 min
legendado eletronicamente em português | M/12
1929 é o ano do nascimento de Hans Magnus Enzensberger, importante filósofo alemão e um dos poetas mais próximos de Kluge. Estreado em 2020 na Alemanha, AUF DES MESSERS SCHNEIDE: 1929 tem como protagonistas Enzensberger, mas também Olli Schulz e Alfred Edel, que participam numa grande conversa iniciada há muitos anos. Imagens das suas entrevistas são montadas com notícias documentais, elementos gráficos e cenas fictícias, num filme que atribui aos acontecimentos históricos um contexto intelectual e poético, indo muito além da suposta “verdade” que os factos revelam isoladamente. Primeira exibição na Cinemateca.