CICLO
Os Mares da Europa


Com a Estrutura de Missão para a Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia 2021.
O mar como tema e figura no cinema é algo tão antigo como o próprio cinema. Basta lembrar que, entre os filmes da primeira sessão pública do cinematógrafo Lumière, fez parte BAIGNADE EN MER e que as primeiras imagens em movimento que se conhecem filmadas em Portugal são do filme A BOCA DO INFERNO EM CASCAIS (esses dois filmes, juntamente com FINIS TERRAE, de Jean Epstein, deram o sinal de partida deste Ciclo na sessão de antecipação em abril). De então até agora, milhares de filmes tomaram o mar como assunto, como cenário principal ou como elemento simbólico determinante para as suas escolhas narrativas e formais.
Da importância do mar na história do cinema, a programação da Cinemateca já tinha dado conta através de um volumoso programa - e de um marcante catálogo –, intitulado Um Mar de Filmes, apresentado no contexto da Expo’98, que tinha precisamente os oceanos como tema central. Nesse Ciclo, ao longo de vários módulos temáticos e através de quase cem filmes, ficava demonstrada a centralidade da inspiração marítima em produções de todo o mundo e de todas as épocas do cinema. Embora menos extenso, o presente programa Os Mares da Europa é, como o nome indica, talvez mais detalhado na abordagem (para retomar um termo ligado à pirataria naval) do tema do mar nos filmes, aqui geograficamente mais circunscrito e limitado às cinematografias europeias que nele se inspiraram. Desta vez, o foco é, portanto, a presença do mar no cinema europeu, de Portugal à Europa de Leste, do cinema mudo ao cinema contemporâneo. Um programa que dá conta de como a temática marítima alimentou de forma profunda muita da melhor ficção e do melhor documentário europeu, servindo tanto como centro dessas narrativas como de elemento plástico e poético inextricável dessas obras. A diversidade da geografia e da história de cada país europeu assume nas distintas relações com o mar (entendido de forma lata, do Atlântico ao Mar do Norte, Mediterrâneo, etc.) um conjunto de aspetos particulares que o Ciclo irá iluminar através de visões cinematográficas muito fortes que sejam capazes de dar a ver a importância dessa paisagem natural e dos seus usos culturais, sociais e económicos específicos.
Um longo caminho marítimo que vai levar-nos do largo do Atlântico ocidental até ao extremo norte e oriental da Europa e a diversas épocas da história do continente, quer através de filmes de género (das aventuras marítimas de SEA DEVILS, à antecipação científica de F.R 1 ANTWORTET NICHT e à animação de SONG OF THE SEA), quer de visões mais autorais (TERJE VIGEN, FILM SOCIALISME, À BEIRA DO MAR AZUL”, LA POINTE COURTE, THE EDGE OF THE WORLD), quer ainda através de documentários essenciais da história do cinema (MOR’VRAN, DRIFTERS; as curtas de Vittorio De Seta sobre a faina das populações costeiras italianas, MÉDITARRANÉE) e do nosso presente (o drama da imigração no Mediterrâneo em HAVARIE). Se a maior parte são escolhas absolutamente incontornáveis num programa com esta temática, procurámos também incluir um pequeno conjunto de raridades nunca antes mostradas na Cinemateca (designadamente do período final do cinema soviético).
Evitando alguns títulos mais óbvios ou aqui muito recentemente mostrados da cinematografia nacional marcados por esta temática (dos quais MARIA DO MAR será a ausência mais flagrante por estar prevista a sua apresentação em junho num outro contexto de programação que anunciaremos dentro em breve), a presença do cinema português faz-se através de títulos marcadamente embalados pela ondulação marítima como são UM FILME FALADO, A ALMADRABA ATUNEIRA, AS ILHAS ENCANTADAS e BALAOU.
Dada a compressão de um programa inicialmente pensado para um período mais alargado ou a impossibilidade de acesso a cópias provenientes de arquivos congéneres que permanecem encerrados, o programa acabou por ser reduzido em alguns títulos que tínhamos chegado a anunciar (como MAN OF ARAN, IN WHICH WE SERVE, OS FAROLEIROS, ULISSE), além de outros (como I TRE CORSARI, WE DIVE AT DAWN) que estavam igualmente pensados e que teriam enriquecido ainda mais este novo mar de filmes.
 
 
24/05/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Os Mares da Europa

To Koritsi Me Ta Mavra
A Mulher de Negro
de Michael Cacoyannis
Grécia, 1956 - 105 min
 
25/05/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Os Mares da Europa

Sea Devils
Gigantes em Fúria
de Raoul Walsh
Reino Unido, Estados Unidos, 1953 - 87 min
27/05/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Os Mares da Europa

Branding | Zuiderzee | Drifters
duração total da projeção: 137 min | M/12
31/05/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Os Mares da Europa

La Terra Trema
de Luchino Visconti
Itália, 1948 - 160 min
24/05/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Mares da Europa
To Koritsi Me Ta Mavra
A Mulher de Negro
de Michael Cacoyannis
com Ellie Lambeti, Dimitris Horn, Eleni Zafeiriou, Stephanos Stratigos
Grécia, 1956 - 105 min
legendado eletronicamente em português | M/12
A projeção de TO KORITSI ME TA MAVRA (A Mulher de Negro) de Michael Cacoyannis, substitui a do inicialmente programado PEGIY PIOS, BEUSHCHLY KRAYEM MORYA (“Cão Malhado Correndo à Beira do Mar”), de Karen Gevorkian, devido a um atraso, a que a Cinemateca Portuguesa é alheia, na chegada da cópia. PEGIY PIOS, BEUSHCHLY KRAYEM MORYA será exibido durante o mês de julho em data a anunciar oportunamente.
Rodado na ilha grega de Hydra, A MULHER DE NEGRO lida muito singularmente com a geografia do lugar e com os contrastes entre o mar, a brancura das casas e as vestes negras das mulheres, compondo uma atmosfera trágica também presente nos restantes filmes de Cacoyannis, em que o Mediterrâneo e a cultura clássica desempenham papéis primordiais. Aqui, um escritor ateniense vê-se de férias na ilha, albergando-se numa casa em que reina uma pesada atmosfera. Um drama que reflete sobre o peso dos interditos e a opressão das mulheres em regiões marcadas pela insularidade. Primeira apresentação na Cinemateca.

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25/05/2021, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Mares da Europa
Sea Devils
Gigantes em Fúria
de Raoul Walsh
com Yvonne De Carlo, Rock Hudson, Maxwell Reed, Dennis O'Dea
Reino Unido, Estados Unidos, 1953 - 87 min
legendado eletronicamente em português | M/12
A projeção de SEA DEVILS (Gigantes em Fúria), de Raoul Walsh, substitui a do inicialmente programado LETNAYA POEDZKA K MORYU (“Viagem de Verão à Beira-Mar”), de Semion Aranovitch, devido a um atraso, a que a Cinemateca Portuguesa é alheia, na chegada da cópia. LETNAYA POEDZKA K MORYU será exibido durante o mês de julho em data a anunciar oportunamente.
O argumento inspira-se muito vagamente no clássico Les Travailleurs de la Mer, de Victor Hugo (que já tinha sido adaptado ao cinema, mais fielmente, por André Antoine em 1918), e conta as aventuras de um contrabandista (Rock Hudson) que se deixa enredar nos braços e manobras de uma bela espia (Yvonne De Carlo) durante as guerras napoleónicas. Um grande filme de aventuras de Raoul Walsh com produção britânica. O filme não é apresentado na Cinemateca desde 2007.

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27/05/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Mares da Europa
Branding | Zuiderzee | Drifters
duração total da projeção: 137 min | M/12
com acompanhamento ao piano por Filipe Raposo
BRANDING
“Na Rebentação”
de Joris Ivens, Mannus Franken
com Jef Last, Co Sieger, Hein Block
Países Baixos, 1929 – 37 min / mudo, intertítulos em holandês legendados eletronicamente em português

ZUIDERZEE
de Joris Ivens
Países Baixos, 1930 - 50 min / mudo, intertítulos em holandês legendados eletronicamente em português

DRIFTERS
de John Grierson
Reino Unido, 1929 – 50 min / mudo, com intertítulos em inglês e legendagem eletrónica em português

Formando, com DE BRUG e REGEN, o núcleo dos grandes filmes iniciais de Ivens, BRANDING é o menos visto dos três, não sendo mostrado na Cinemateca desde 1983. Entre o documentário e a ficção, BRANDING tem como protagonista um marinheiro desempregado de Katwijk, terra que despertou o interesse de Ivens pelo movimento das grandes ondas batendo nos rochedos. Determinado a filmá-las, enfrentou-as com a sua câmara e o resultado é assombroso.  ZUIDERZEE simboliza o combate do povo holandês para ganhar novas terras. Trata-se de mostrar a fase terminal da construção de um grande dique que isola definitivamente o Zuiderzee do Mar do Norte. A pesca do arenque no Mar do Norte, filmado nas Shetlands, Lowestoft e Yarmouth, é o tema de DRIFTERS na visão modernista de John Grierson, contemplando a relação entre o homem e a natureza, mas também o processo de industrialização que atravessava a Reino Unido e trabalhando essa tensão. É um título seminal do documentarismo britânico, um trabalho inicial de Grierson, sensível ao cinema de Flaherty e à montagem soviética (foi exibido pela primeira vez publicamente na estreia britânica de POTEMKINE de Eisenstein). Na Cinemateca ZUIDERZEE não passa desde 2010.

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31/05/2021, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Mares da Europa
La Terra Trema
de Luchino Visconti
com com o povo de Acci-Trezza, aldeia de pescadores na Sicília
Itália, 1948 - 160 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M/12
A primeira parte do que Luchino Visconti previa como uma trilogia sobre o povo italiano no pós-guerra e a sua luta por uma vida melhor: LA TERRA TREMA, o “episódio do mar”, mostra dentro de um estilo que se identifica com o neo-realismo, mas que o transcende pela dimensão épica, a história da luta de um pescador contra o sistema de exploração na sua aldeia e, na visão marxista do filme, a sua inevitável derrota por se tratar de um ato individualista. Uma das obras máximas de Visconti financiada pelo partido comunista italiano. O filme não é apresentado na Cinemateca desde 2009.

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