CICLO
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso


Para esta terceira e última parte do Ciclo que desde o princípio do ano nos guiou pelos caminhos da comédia – ironia não programada: que tenhamos escolhido tal tema para este ano de 2020... - afastamo-nos do “género” e aproximamo-nos do fenómeno que lhe está mais diretamente associado: o riso. É costume, e é toda a razão de ser do género cómico, que seja a plateia a rir-se do que acontece no ecrã. Alguns intérpretes fundamentais da comédia cinematográfica levaram ao extremo este princípio de evitar dar a ver o riso no ecrã – como Buster Keaton, o “homem que nunca ria”. O ponto de partida do último tomo deste Ciclo é uma interrogação: o que acontece no cinema quando é no ecrã que o riso se instala? Como é que, e para que é que, o cinema figurou o riso? Um princípio de resposta global a estas perguntas parte da constatação de que o riso – o espetáculo do riso – raramente dá vontade de rir, e é um fenómeno perfeitamente dissociável da comédia (da comédia enquanto género cinematográfico, talvez não tanto da “comédia” enquanto categoria narrativa). Mais: o espetáculo do riso é frequentemente algo de inquietante, cruel, obsceno, violento, como o manifestam a quantidade de vilões sorridentes que a história do cinema contém, e de que este Ciclo aproveita alguns dos mais significativos. Noutros casos, o riso é uma espécie de regresso à humanidade, manifestação de uma característica exclusiva da condição humana, em parte definidora (vê-se isso muito bem no NINOTCHKA de Lubitsch, mas também na forma como Cassavetes filmava o riso dos seus atores – aliás, como FACES mostra, o riso pode ser “performance”, “trabalho” de ator). Nesta coleção de risos, esgares e gargalhadas que apresentamos em dezembro os sentidos podem ser muitos, mas há, em quase todos os casos, uma “desconexão” entre causa e efeito. Como escreveu Georges Bataille: “rir do universo libertou-me. Recuso toda a tradução intelectual deste riso, porque isso seria o princípio da minha escravidão”.
 
02/12/2020, 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

Ninotchka
Ninotchka
de Ernst Lubitsch
Estados Unidos, 1939 - 110 min
02/12/2020, 17h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

Chimes at Midnight
As Badaladas da Meia-Noite
de Orson Welles
Espanha/Suíça, 1966 - 113 min
02/12/2020, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

The Man Who Laughs
O Homem Que Ri
de Paul Leni
Estados Unidos, 1927 - 132 min
 
05/12/2020, 10h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

Kiss of Death
O Denunciante
de Henry Hathaway
Estados Unidos, 1947 - 100 min
 
09/12/2020, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso

The Treasure of the Sierra Madre
O Tesouro da Serra Madre
de John Huston
Estados Unidos, 1948 - 120 min
02/12/2020, 15h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
Ninotchka
Ninotchka
de Ernst Lubitsch
com Greta Garbo, Melvyn Douglas, Ina Claire
Estados Unidos, 1939 - 110 min
legendado em português | M/12
O filme em que, como explorou a publicidade da época, “Garbo laughs”, Garbo ri, aliás numa sequência cuidadosamente preparada e construída, e que tem a força de uma conversão: é um dos raros momentos em que o riso de uma personagem se torna um acontecimento central. O filme de Lubitsch é uma prodigiosa sátira anti-soviética que transforma uma insípida agente comunista numa mulher seduzida pelos encantos do capitalismo – as noites de Paris, o champanhe, os trajes elegantes e o amor de Melvyn Douglas.

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02/12/2020, 17h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
Chimes at Midnight
As Badaladas da Meia-Noite
de Orson Welles
com Orson Welles, Jeanne Moreau, Margaret Rutherford, John Gielgud, Marina Vlady, Keith Baxter
Espanha/Suíça, 1966 - 113 min
legendado em português | M/12
Utilizando uma personagem de várias peças, Sir John Falstaff, companheiro de folia da juventude de Henrique IV, a terceira adaptação de Shakespeare por Orson Welles, é um dos filmes que melhor capta o espírito da obra do grande dramaturgo. Trata-se de uma história de amizade traída em nome dos interesses do Estado, com uma das maiores cenas de batalha jamais filmadas, onde a fúria dá lugar ao cansaço e o sangue se mistura com a lama. Num Ciclo destes, não podia faltar a gargalhada “telúrica” de Orson Welles, gargalhada em sentido próprio, figurado, e “filosófico”.

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02/12/2020, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
The Man Who Laughs
O Homem Que Ri
de Paul Leni
com Conrad Veidt, Mary Philbin, Olga Baclanova
Estados Unidos, 1927 - 132 min
mudo, intertítulos em inglês, legendados eletronicamente em português| M/12
Com acompanhamento musical ao piano por João Paulo Esteves da Silva
Uma das grandes redescobertas dos últimos anos. Adaptado do romance L’Homme Qui Rit de Victor Hugo, o filme de Paul Leni é uma das jóias do cinema americano do fim do mudo, contando a história de uma criança desfigurada pelo inimigo político do pai, que se torna um famoso clown e virá mais tarde reclamar a herança e o título que lhe cabem por direito de nascimento. Um exemplo perfeito do “riso” como esgar, máscara deformada e desligada de qualquer fenómeno humorístico, que na banda desenhada viria a ser a inspiração para um dos mais célebres vilões dos comics, o Joker das histórias de Batman. Curiosamente, também, um filme que influenciou a visão de Eisenstein para o seu futuro IVAN GROZNY, numa curta sequência em que Conrad Veidt se faz passar por Ivan, o Terrível. O filme não é exibido na Cinemateca desde 2008.

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05/12/2020, 10h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
Kiss of Death
O Denunciante
de Henry Hathaway
com Victor Mature, Brian Donlevy, Richard Widmark, Coleen Gray, Karl Malden
Estados Unidos, 1947 - 100 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M/12
Um dos grandes filmes “negros” da década de 40, que revelou, logo na sua estreia, um dos maiores “vilões” do cinema americano (embora temporariamente, frequentando depois o outro lado da barreira: Richard Widmark, aqui como gangster e inesquecível na cena em que, com riso demente, empurra sadicamente uma velha paralítica na cadeira de rodas pela escada abaixo!

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09/12/2020, 20h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Revisitar os Grandes Géneros – A Comédia (Parte III): O Riso
The Treasure of the Sierra Madre
O Tesouro da Serra Madre
de John Huston
com Humphrey Bogart, Walter Huston, Tim Holt, Bruce Bennett
Estados Unidos, 1948 - 120 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português| M/12
Forma, com THE MALTESE FALCON, a mais famosa dupla dos filmes saídos da colaboração entre Huston e Bogart. Adaptado de um romance de B. Traven, o filme é uma história de ambição e do que ela faz aos homens, virando-os uns contra os outros. É o que acontece a três pesquisadores de ouro nas montanhas da Serra Madre mexicana. A cobiça e a ambição triunfam sobre eles, conseguindo o que a natureza selvagem e os bandoleiros não conseguiram. Três Oscars para os dois Huston: Walter o da interpretação e John o da realização e argumento. A gargalhada final tornou-se um momento “clássico” da relação entre o riso e a frustração. O filme não é apresentado na Cinemateca desde 2011.

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