CICLO
Vocês, Que Vivem – Os Filmes de Roy Andersson


Ao contrário do lugar comum, a trajetória de Roy Andersson (nascido em Gotemburgo em 1943) parece confirmar que pode mesmo haver segundas oportunidades para deixar uma boa primeira impressão. Tendo feito uma entrada de leão no cinema sueco depois de uma promissora série de curtas de escola com a longa “UMA HISTÓRIA DE AMOR”, ode à liberdade e ao idealismo adolescente muito sintonizada com o zeitgeist do final dos anos 1960 que se tornou num enorme sucesso de público na Suécia e fora dela, foi rapidamente  posto de lado na sequência do fracasso do filme seguinte. Mistura de géneros com que procurou fugir à obrigação de repetir o êxito do filme anterior, o flop comercial e crítico de GILIAP ditou o seu voluntário afastamento do cinema durante duas décadas e meia, período em que se dedicou quase exclusivamente à realização de centenas de spots publicitários, nos quais acabaria por apurar um estilo visual e uma forma narrativa que no segundo fôlego da sua carreira cinematográfica, iniciado com CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR e quando já tinha chegado aos 57 anos, iria explorar de forma mais profunda e em sucessivas variações, a qual lhe valeram uma improvável e tardia consagração (o Leão de Ouro de Veneza para UM POMBO POUSOU NUM RAMO A REFLECTIR NA EXISTÊNCIA, fizeram dele o segundo filme escandinavo, depois de A PALAVRA de Dreyer, a receber tal distinção) como um dos mais singulares autores do cinema europeu contemporâneo.
Nesse renascimento, Andersson afasta-se do realismo que estava na base da fase anterior do seu trabalho e desenvolve um estilo caracterizado pelo artifício de longos planos fixos gerais a remeter para a construção de um “quadro vivo” hiper realista, com composições laboriosamente concebidas explorando a profundidade de campo e a simultaneidade de ações. Cada um desses quadros é concebido com uma espécie de micro-narrativa autónoma (por vezes, mas nem sempre, estabelecendo ligação com as restantes sequências do filme) mas que constitui como variação da ideia que transversalmente permeia cada nova obra: a visão de uma humanidade essencial (muitas vezes confundida com as classes trabalhadoras) nas suas lutas quotidianas contra as pequenas misérias da existência nas sociedades do bem-estar ocidentais. No contraste entre a erudição dos seus filmes (além da literatura, note-se a influência recorrente da história da pintura nas composições e na iluminação do cenário de cada “cena”, entendida teatralmente e como tal integralmente construído em estúdio, processo de trabalho artesanal e altamente sofisticado que ocupa a maior parte do tempo de produção e o orçamento dos filmes desta segunda fase) e o tom tragicómico destes contos sobre o sentimento trágico da existência frequentemente tendendo ao humor absurdo (o espírito de Beckett não anda longe) joga-se a singularidade dos filmes de Roy Andersson.
Esta retrospetiva praticamente integral (naturalmente mais alargada do que a que o Curtas de Vila do Conde lhe dedicou em 2012) só é possível graças à colaboração da Alambique, distribuidora dos filmes de Roy Andersson desde CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR e que deverá estrear o recente DA ETERNIDADE, que abre o programa, nas salas portuguesas em 15 de outubro. Todos os filmes são primeiras apresentações na Cinemateca.
 
08/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Vocês, Que Vivem – Os Filmes de Roy Andersson

Sånger Från Andra Våningen
Canções do Segundo Andar
de Roy Andersson
Suécia, 2000 - 95 min
08/10/2020, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Vocês, Que Vivem – Os Filmes de Roy Andersson

Du Levande
Tu, que Vives
de Roy Andersson
Suécia, 2007 - 95 min
09/10/2020, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Vocês, Que Vivem – Os Filmes de Roy Andersson

En Duva Satt På En Gren Och Funderade På Tillvaron
Um Pombo Pousou num Ramo a Reflectir na Existência
de Roy Andersson
Suécia, 2014 - 101 min
08/10/2020, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Vocês, Que Vivem – Os Filmes de Roy Andersson
Sånger Från Andra Våningen
Canções do Segundo Andar
de Roy Andersson
com Lars Nordh, Stefan Larsson, Bengt C.W. Carlsson
Suécia, 2000 - 95 min
legendado em português | M/16
Num fim de tarde tem lugar uma estranha série de acontecimentos ilógicos: um amanuense é despedido de modo degradante; um imigrante perdido é atacado violentamente numa rua movimentada; um ilusionista comete um erro no seu número... Quando CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR saiu da edição de 2000 do Festival de Cannes com o Grande Prémio do Júri, deixou a sensação de ali se ter redescoberto um autor singular, cujas pequenas histórias do quotidiano levadas ao limite do surreal, evocavam simultaneamente o burlesco em câmara lenta de Jacques Tati, o absurdo dos Monty Python e o austero existencialismo nórdico. A abrir a sessão, cinco anúncios publicitários realizados por Roy Andersson, faceta que lhe mereceu os elogios de Ingmar Bergman

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08/10/2020, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Vocês, Que Vivem – Os Filmes de Roy Andersson
Du Levande
Tu, que Vives
de Roy Andersson
com Jessica Lundberg, Elisabet Helander, Björn Englund
Suécia, 2007 - 95 min
legendado em português | M/12
Prolongando o estilo e a forma que definem inconfundivelmente os filmes de Roy Andersson a partir de CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR, DU LEVANDE aborda a grandeza e miséria, alegria e tristeza, autoconfiança e ansiedade humanas em micro-histórias contadas em plano fixo: “Rimos desse Homem mas também o choramos. É apenas uma comédia trágica ou uma tragédia cómica sobre nós próprios” (Roy Andersson).

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09/10/2020, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Vocês, Que Vivem – Os Filmes de Roy Andersson
En Duva Satt På En Gren Och Funderade På Tillvaron
Um Pombo Pousou num Ramo a Reflectir na Existência
de Roy Andersson
com Holger Andersson, Nils Westblom, Viktor Gyllenber
Suécia, 2014 - 101 min
legendado em português | M/14
Atenção ao horário
Como um D. Quixote e um Sancho Pança dos nossos tempos, Sam e Jonathan, dois caixeiros-viajantes vendendo artigos de diversão, levam-nos numa viagem caleidoscópica pelo destino dos humanos. Uma viagem que nos mostra a beleza de alguns momentos, a mesquinhez de outros, o humor e a tragédia que faz parte de nós, a grandeza da vida bem como a fraqueza da humanidade. Vagueamos por este fecho da “Trilogia dos Vivos”, iniciada com CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR e continuada com TU, QUE VIVES, saboreando a beleza e o absurdo de estarmos aqui e agora, rodeados por outros demasiado iguais a  nós. Leão de Ouro do Festival de Veneza.

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