CICLO
Double Bill


No “Double Bill” deste mês propomos quatro programas distintos. O primeiro é composto por dois filmes póstumos: L’INNOCENTE de Luchino Visconti e SE EU FOSSE LADRÃO ROUBAVA de Paulo Rocha. Em ambos os casos, estando os respetivos realizadores gravemente doentes, a conclusão dos filmes foi uma corrida contra a morte. Os filmes foram terminados mas os autores já não assistiram à estreia. Com o segundo programa pretende-se (mais uma vez) chamar a atenção para um cineasta injustamente esquecido, muito pouco visto e ainda menos falado: Tay Garnett. São exibidos ONE WAY PASSAGE e DESTINATION UNKNOWN (este, em estreia absoluta na Cinemateca). No terceiro programa propomos uma sessão dedicada a Jennifer Jones, por ocasião do centenário do seu nascimento e em rima com o Ciclo que o assinala, mostrando A PORTRAIT OF JEANNIE e, pela primeira vez na Cinemateca, THE MAN IN THE GREY FLANNEL SUIT. Finalmente, no último programa, dois documentários sobre dois projetos de filmes que, por razões muito distintas, nunca viram a luz do dia: THE EPIC THAT NEVER WAS, sobre I CLAUDIUS, de Josef von Sternberg, e TIGRERO: A FILM THAT WAS NEVER MADE sobre um projeto que Samuel Fuller pretendia rodar na Amazónia. Se do primeiro ainda foram filmadas algumas sequências, do segundo, nem isso.
 
07/09/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

L'Innocente + Se Eu Fosse Ladrão… Roubava
duração total da projeção: 216 min | M/12
 
14/09/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The Night Fighters | One Way Passage
duração total da projeção: 157 min | M/12
 
21/09/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Portrait Of Jennie | The Man In The Gray Flannel Suit
duração total da projeção: 246 min | M/12
28/09/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The Epic That Never Was | Tigrero: A Film That Was Never Made
duração total da projeção: 149 min | M/12
07/09/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
L'Innocente + Se Eu Fosse Ladrão… Roubava
duração total da projeção: 216 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
L'INNOCENTE
O Intruso
de Luchino Visconti
com Giancarlo Giannini, Jennifer O'Neill, Laura Antonelli, Rina Morelli, Massimo Girotti
Itália, 1976 – 129 min / legendado em francês e eletronicamente em português
SE EU FOSSE LADRÃO… ROUBAVA
de Paulo Rocha
com Isabel Ruth, Luis Miguel Cintra, Márcia Breia, Chandra Malatitch, Raquel Dias, Carla Chambel, Joana Bárcia, Miguel Moreira, Norberto Barroca
Portugal, 2012 – 87 min

O último filme de Luchino Visconti, que pela primeira vez adapta uma obra de Gabriele d'Annunzio, é uma perturbante incursão num mundo aristocrático em decomposição, fechado ao exterior e onde cada um procura satisfazer os seus caprichos de forma egoísta e sem responsabilidades. Em L'INNOCENTE, Tullio (Giannini) chega ao ponto de provocar a morte do filho recém-nascido, num processo que, de forma enfática, o leva a tomar o destino nas próprias mãos. Partindo da memória familiar e de material vindo da sua obra cinematográfica, Paulo Rocha revisita as suas origens e as referências maiores da sua vida e do seu cinema, numa construção complexa que é conscientemente testamental, embora só diretamente autobiográfica. O motor inicial de SE EU FOSSE LADRÃO… ROUBAVA é a evocação da infância e juventude do pai do autor, em particular o sonho obsessivo deste, na altura partilhado por muitos, de emigrar para o Brasil, para onde partiu efetivamente em 1909. Mas este tema familiar cruza-se desde o início com o grande mundo da obra de Rocha, num puzzle de raccords temáticos que se dirige para dentro e para trás (a busca do centro ou da origem…) tanto quanto para fora (a constante ampliação de sentido, a identidade de um país). Paulo Rocha fala portanto da sua própria necessidade de partir, e da interrogação de Portugal através da distância, assim como fala da morte, mas também da doença e de um medo tornados endémicos, corrosivos de um país.
 
14/09/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The Night Fighters | One Way Passage
duração total da projeção: 157 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos

THE NIGHT FIGHTERS

Mordidos pelo Ódio

de Tay Garnett

com Robert Mitchum, Richard Harris, Anne Heywood, Dan O’Herlihy
EUA, 1960 – 89min / legendado eletronicamente em português
ONE WAY PASSAGE
O Bilhete de Ida e Volta
de Tay Garnett
com William Powell, Kay Francis, Aline Mac Mahon, Frank McHugh
Estados Unidos, 1932 – 68 min / legendado em português
Na senda de alguns grandes clássicos como THE INFORMER (1935) de John Ford ou ODD MAN OUT (1947) de Carol Reed, Garnett leva ao ecrã, pela pena do argumentista Robert Wright Campbell, o romance de Arthur Roth A Terrible Beauty, um retrato do clima de terror vivido no seio do IRA. Em 1941, o Exército Republicano Irlandês empreende uma série de ataques embalado pela possibilidade de uma aliança interesseira com o exército nazi. A expectativa de um Reino Unido dilacerado pela Guerra dava novo ânimo aos revolucionários relativamente aos seus planos por uma Irlanda reunificada. Para esta produção dividida entre o Reino Unido e os Estado Unidos, Tay Garnett contou com dois dos nomes mais sonantes de cada lado do Atlântico: do lado americano, Robert Mitchum, presença mítica do cinema clássico, que se destacou nalguns papéis de teor mais histórico/realista, como STORY OF G.I. JOE (1945) de William Wellman e ONE MINUTE TO ZERO (1952) do próprio Garnett; do lado irlandês, um importante rosto da Nova Vaga inglesa, Richard Harris. Os dois, lado-a-lado, são o principal duo deste filme, porque ambos são, antes de tudo, as principais vítimas do terror reinante naquele grupo do IRA. “Nenhum homem deixa o IRA”, avisa à personagem encarnada por Mitchum um magnífico Dan O’Herlihy no papel do sinistro chefe do grupo. ONE WAY PASSAGE é um filme romântico em que Tay Garnett põe em contracena as personagens de William Powell, fugitivo à justiça, e a jovem fatalmente doente representada por Kay Francis: apaixonam-se no desconhecimento dos seus destinos condenados e, quando deles ficam cientes, escolhem ambos calá-los, marcando um encontro que sabem de antemão ser impossível para qualquer deles. TIIL WE MEET AGAIN, de Edmund Goulding foi o remake desta obra, com Merle Oberon e George Brent, em 1940.
 
21/09/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Portrait Of Jennie | The Man In The Gray Flannel Suit
duração total da projeção: 246 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
PORTRAIT OF JENNIE
O Retrato de Jennie
de William Dieterle
com Jennifer Jones, Joseph Cotten, Ethel Barrymore, Cecil Kellaway
Estados Unidos, 1948 – 83 min / legendado eletronicamente em português | M/12
THE MAN IN THE GRAY FLANNEL SUIT
O Homem do Fato Cinzento
de Nunnally Johnson
com Gregory Peck, Jennifer Jones, Fredric March
EUA, 1956 – 163 min / legendado eletronicamente em português

Justamente considerado como uma das obras-primas de um cinema de inspiração onírica e surrealista, PORTRAIT OF JENNIE é a história de um amor intemporal (e da obsessão de um homem por uma mulher), para lá de todas as barreiras físicas e racionais. Jennifer Jones e Joseph Cotten são assombrosos, num filme celebrado e louvado pelos surrealistas. Produzido por David O. Selznick, atraído pelo romance de Robert Nathan (1940) que o argumento adapta, para assentar como uma luva a Jennifer Jones, foi rodado em exteriores a preto e branco e termina com a sequência em technicolor do “retrato de Jennie”. Mais conhecido pelo seu percurso de produtor, em Hollywood, entre as décadas de trinta e cinquenta, Nunnally Johnson foi também autor, enquanto realizador, de oito filmes. Este, THE MAN IN THE GRAY FLANNEL SUIT (filmado em CinemaScope, a apresentar em primeira exibição na Cinemateca), aborda os problemas de um ex-soldado (Gregory Peck) na sua reintegração na sociedade e vida familiar (com Jennifer Jones no papel da sua mulher). Tal como o livro que adapta, o filme tornar-se-ia num fenómeno popular do seu tempo.
 
28/09/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The Epic That Never Was | Tigrero: A Film That Was Never Made
duração total da projeção: 149 min | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 10 minutos
THE EPIC THAT NEVER WAS
de Bill Duncalf
com Dirk Bogarde, John Armstrong, Eileen Corbett, Robert Graves, Sarah Jennings
Reino Unido, 1965 – 74 min / legendado eletronicamente em português
TIGRERO: A FILM THAT WAS NEVER MADE
de Mika Kaurismäki
com Jim Jarmusch, Samuel Fuller
Finlândia, Brasil, Alemanha, 1994 – 75 min / legendado eletronicamente em português

O documentário de Bill Duncalf, uma investigação de arqueologia cinematográfica, relata a história da produção abortada de 1937 de I, CLAUDIUS, um dos filmes malditos mais famosos de sempre, cujas imagens sobreviventes integra. A ideia de I, CLAUDIUS terá sido de Marlene Dietrich, a produção era de Alexander Korda, a realização de Sternberg e os protagonistas Charles Laughton (Claudius), Emlyn Williams (Calígula), Flora Robson (Livia) e Merle Oberon (Messalina). As razões da interrupção das filmagens, ordenada por Korda, nunca foram totalmente esclarecidas. THE EPIC THAT NEVER WAS coloca o conjunto das hipóteses, dá a ver entrevistas aos intervenientes sobreviventes, entre os quais Sternberg, e propõe-se como um tributo a Charles Laughton. Em TIGRERO: A FILM THAT WAS NEVER MADE, Samuel Fuller e Jim Jarmusch seguem o rasto de um filme que o primeiro começou a preparar em 1954, mas nunca acabou. Ter-se-ia chamado TIGRERO e era um filme sobre caçadores de jaguares algures no Mato Grosso. Fuller conduz Jarmusch numa visita aos lugares por onde andou 40 anos antes, incluindo algum do pouco material filmado nessa altura. O realizador é Mika Kaurismäki, irmão de Aki.