03/09/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Luz e Espectros – Cinema de Weimar 1919-1933
Das Cabinet des Dr. Caligari
O Gabinete do Doutor Caligari
de Robert Wiene
com Werner Krauss, Lil Dagover, Conrad Veidt, Friedrich Feher
Alemanha, 1919 - 76 min
mudo, intertítulos em alemão, legendados em português | M/12
acompanhado ao piano por Filipe Raposo
CALIGARI deu início ao que os historiadores do cinema denominaram Expressionismo Alemão, ou, como sugeriu Henri Langlois, o "caligarismo", que se destaca pelos seus cenários e perspetivas deformadas, tortuosas, sombrias, oblíquas para representar as visões de um louco. Langlois também observou que este filme violava todas as regras vigentes e “agredia todos os hábitos”, abrindo ao cinema alemão as portas de uma conceção moderna do cinema. E o cinema alemão dos anos vinte do século XX, feito a seguir a CALIGARI, seria da mais alta ambição e da mais alta qualidade. Siegfried Kracauer viu no filme uma antecipação inconsciente do nazismo, a imagem do ditador em Caligari, figura malévola que orquestra a atuação de um criminoso em estado de hipnose. Realizado por Robert Wiene, O GABINETE DO DOUTOR CALIGARI deve muita da sua especificidade irrealista e demoníaca aos argumentistas Carl Mayer e Hans Janowitz.
04/09/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Luz e Espectros – Cinema de Weimar 1919-1933
Opium
“Ópio”
de Robert Reinert
com Eduard von Winterstein, Sybill Morel, Werner Krauss, Friedrich Kühne, Hanna Ralph, Conrad Veidt
Alemanha, 1919 - 91 min
mudo (com banda musical), legendado em inglês e eletronicamente em português
O ambiente exótico e o erotismo marcam o projeto de OPIUM, em que a imagem da Ásia é reconstituída em estúdio e as cenas sob a influência intoxicante do ópio evocam uma peça de Max Reinhardt (Die Insel der Seligen, 1913). O intrincado enredo centra-se na personagem de um médico inglês que se encontra na China a investigar os efeitos da substância narcótica e regressa a Inglaterra acompanhado por uma rapariga, seguindo depois com ela para a Índia em fuga a uma ameaça de vingança. Sob a superfície aventurosa, “OPIUM capta a experiência e o choque da Primeira Guerra Mundial [...] Reinert e o seu operador de câmara, Helmar Lerski, desenvolveram uma linguagem cinematográfica alucinatória genial” (Tobias Nagl). A apresentar em cópia digital, numa primeira exibição na Cinemateca.
04/09/2019, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Luz e Espectros – Cinema de Weimar 1919-1933
Kuhle Wampe oder Wem Gehört die Welt?
“Kuhle Wampe ou A Quem Pertence o Mundo?”
de Slatan Dudow
com Hertha Thiele, Ernst Buch, Martha Wolter
Alemanha, 1932 - 73 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
Com argumento original de Bertolt Brecht e realizado por um dos seus colaboradores, o búlgaro Slatan Dudow, KUHLE WAMPE ODER WEM GEHÖRT DIE WELT? foi concluído poucos meses antes da chegada dos nazis ao poder, que o amputaram e depois o proibiram. Trata-se de um filme de luta política, sobre a gravíssima crise de desemprego que assolava a Alemanha, estruturado em três partes e encarando as dimensões da massa e do indivíduo com um muito particular uso de soluções visuais e sonoras. A música deste filme de combate ambientado na Berlim do início dos anos trinta do século XX é do compositor austríaco Hans Eisler, também ele um colaborador regular de Brecht.
05/09/2019, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Luz e Espectros – Cinema de Weimar 1919-1933
Schatten
“Sombras”
de Arthur Robison
com Alexander Granach, Fritz Kortner, Rudolf Klein-Rogge
Alemanha, 1923 - 90 min
mudo, sem intertítulos | M/12
acompanhado ao piano por Filipe Raposo
Em SCHATTEN, como observou Georges Sadoul, “misturam-se o teatro, o Kammerspiel e o Expressionismo”, ou seja, algumas das principais tendências do cinema alemão dos anos vinte do século XX, decididamente ligado às artes da vanguarda, mesmo em filmes destinados ao grande público. Como tantas vezes sucede em “filmes Kammerspiel”, não há intertítulos e a ação é contínua, concentrada num cenário único e numa única noite. Esta tem lugar durante um jantar oferecido por um aristocrata e a sua mulher, na presença de quatro pretendentes dela. Um “mostrador de sombras” fá-los ver o que pode acontecer se os pretendentes não deixarem de cortejar a mulher, confrontando-os por hipnose com os seus sentimentos mais calados. A digressão entre realidade e ilusão do portentoso chiaroscuro de SCHATTEN parte assim da encenação de uma projeção, em que a intimidade dos sentimentos convive com a pulsão erótica mas também com a sinalização da luta de classes de que a casa é palco. A última passagem na Cinemateca foi em 2011.
06/09/2019, 18h30 | Sala Luís de Pina
Luz e Espectros – Cinema de Weimar 1919-1933
Von Caligari zu Hitler: Das Deutsche Kino im Zeitalter der Massen
“De Caligari a Hitler: o Cinema Alemão na Era das Massas”
de Rüdiger Suchsland
Alemanha, 2014 - 114 min
legendado eletronicamente em português | M/16
Primeira obra do crítico de cinema Rüdiger Suchsland (que já esteve na Cinemateca a apresentar este filme e o posterior HITLER’S HOLLYWOOD), o filme vai buscar o seu título ao célebre livro de 1947 de Siegfried Kracauer sobre o cinema alemão dos anos vinte e trinta do século XX. Tomando por corpo de análise um conjunto de filmes muito e muito pouco conhecidos, Suchsland volta à análise do cinema da República de Weimar prefigurador da ascensão do nazismo. “Kracauer começou por analisar filmes individuais, não apresentou uma tese genérica. Descobriu que o cinema alemão – muito mais do que todos os outros filmes de outros países na época – tem muito mais assassinos em massa, muito mais tiranos, cientistas loucos, pais autoritários. É preciso encontrar uma explicação para a origem deste fascínio com assassinatos, violência, manipulação e hipnose” (Rüdiger Suchsland). Apresentado pela primeira na Cinemateca, com o IndieLisboa, em 2015.