CICLO
Double Bill


São histórias de amor que se juntam no Double Bill deste mês: histórias plenas de romance mas, também, da dor que a realidade do tempo consegue trazer àqueles que se amam para, afinal, suprir uma carência. Não que as suas paixões sejam diminuídas ou menos importantes por isso: o que estes filmes nos contam, mais ou menos românticos, mais ou menos dolorosos, é que estamos sempre disponíveis para amar e, pela mesma razão, para descobrir até que ponto somos capazes de viver esse sentimento sem trairmos esse desejo original (de sermos amados), os outros, ou até a imagem da pessoa que nós pensávamos ser. Seja no amor entre duas pessoas, dentro de uma família e nas suas relações mais consanguíneas, ou na espera de que alguém apareça para vir tomar conta de nós, contra tudo aquilo que a realidade do mundo nos diz. São filmes, por isso, para que nós, na sala de cinema, deixemos que eles ocupem as nossas carências, os nossos desejos, e nos toquem um pouco, também, não apenas no nosso soft spot mas num hard spot — aquele que nos diz que não somos pessoas assim tão perfeitas e que o mundo, talvez, não está preparado para receber tudo aquilo que sentimos. Nada que nos impeça, contudo, de continuarmos a obedecer aos nossos desejos. Esperemos que sigam connosco nesta viagem — in the mood for cinema.
 
06/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Harold and Maude | The Royal Tenenbaums
duração total da projeção: 201 minutos | M/12
13/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Manhattan | She’s Gotta Have It
duração total da projeção: 181 minutos | M/12
 
27/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Brief Encounter | In the Mood for Love
duração total da projeção: 201 minutos | M/12
 
06/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Harold and Maude | The Royal Tenenbaums
duração total da projeção: 201 minutos | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
HAROLD AND MAUDE
Ensina-me a Viver
de Hal Ashby
com Ruth Gordon, Bud Cort, Vivian Pickles
Estados Unidos, 1971 – 91 min / legendado eletronicamente em português
THE ROYAL TENENBAUMS
Os Tenenbaums – Uma Comédia Genial
de Wes Anderson
com Anjelica Huston, Gene Hackman, Ben Stiller, Owen Wilson, Luke Wilson, Gwyneth Paltrow, Bill Murray
Estados Unidos, 2001 – 110 min / legendado eletronicamente em português

Talvez o filme, em toda a carreira de Hal Ashby, que criou o maior culto junto dos espectadores, HAROLD AND MAUDE é uma das mais extraordinárias comédias negras do cinema norte-americano e uma das suas mais invulgares histórias de amor (entre um jovem rapaz que procura todas as maneiras de cometer suicídio e uma mulher de 79 anos que lhe ensina os prazeres da vida). Um filme que marcou a sua geração e, nomeadamente, a contracultura do país, e que viria a deixar uma enorme influência em futuras gerações de realizadores. Exemplo disso, justamente, é THE ROYAL TENENBAUMS, outro filme de culto do cinema norte-americano e, porventura, o mais celebrado na carreira de Wes Anderson: o retrato cómico de uma família disfuncional e as histórias individuais de sobrevivência dos seus vários membros, juntando, dentro de si, um mundo de referências musicais, literárias e cinematográficas que impôs, definitivamente, a marca de um dos realizadores mais populares dos nossos tempos. Primeiras exibições na Cinemateca.
 
13/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Manhattan | She’s Gotta Have It
duração total da projeção: 181 minutos | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
MANHATTAN
Manhattan
de Woody Allen
com Diane Keaton, Woody Allen, Mariel Hemingway, Michael Murphy, Meryl Streep, Anne Byrne Hoffman
Estados Unidos, 1979 – 96 min / legendado em português
SHE’S GOTTA HAVE IT
Os Bons Amantes
de Spike Lee
com Tracy Camilla Johns, Tommy Redmond Hicks, Spike Lee
Estados Unidos, 1986 – 85 min / legendado em português

Dois retratos marcantes da cidade mais cinematográfica do mundo e que muito contribuíram para esse estatuto. De um lado, MANHATTAN, obra-prima de Woody Allen e exemplo máximo das relações sentimentais da metrópole nova-iorquina, assim como um retrato cru e realista, envolto da extraordinária e romântica fotografia de Gordon Willis (e da música de George Gershwin), das manipulações que nós fazemos uns aos outros dentro delas. SHE’S GOTTA HAVE IT, primeira longa-metragem de Spike Lee (e lançada poucos anos depois de MANHATTAN), é um brilhante olhar sobre a Nova Iorque do outro lado do rio Hudson (a “república de Brooklyn”), onde, através de um humor mordaz, se retratam as três relações amorosas simultâneas de uma jovem mulher independente que se recusa a comprometer com qualquer uma delas.
 
27/04/2019, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Brief Encounter | In the Mood for Love
duração total da projeção: 201 minutos | M/12
entre os dois filmes há um intervalo de 20 minutos
BRIEF ENCOUNTER
Breve Encontro
de David Lean
com Trevor Howard, Celia Johnson, Stanley Holloway, Joyce Carey
Reino Unido, 1945 – 83 min / legendado em português
IN THE MOOD FOR LOVE
Disponível Para Amar
de Wong Kar-wai
com Tony Leung, Maggie Cheung, Lai Chen, Rebecca Pan
Hong Kong, China, 2000 – 98 min / legendado em português

Premiado em Veneza e nomeado para três Óscares, BRIEF ENCOUNTER, filmado a partir de uma história de Noël Coward, é o mais sugestivo exemplo do cinema “realista” britânico dos anos quarenta, assim como um dos seus filmes mais românticos e inesquecíveis. David Lean, longe ainda dos seus épicos históricos, conta, nas ruas de uma Londres acossada pela guerra, a história de um homem e de uma mulher casada que se conhecem numa estação de comboios e veem o seu amor crescer em segredo. A fotografia de Robert Krasker, explorando o preto e branco, as sombras e os vapores das locomotivas, é, também, um dos grandes trunfos do filme. IN THE MOOD FOR LOVE, por sua vez, é um dos mais brilhantes e românticos filmes a sair do cinema de Hong Kong e, em termos gerais, dos últimos vinte anos. A extraordinária fotografia de Christopher Doyle, assim como a banda-sonora e a criação de ambientes no filme, viriam a criar, com a realização de Wong Kar-wai, uma marca ainda hoje insuperável, em elegância e estilização, na carreira do realizador e na relação entre duas personagens cujas carências se encontram, simplesmente, nos seus olhares e silêncios.