CICLO
70 Anos de Cinemateca


No seu segundo andamento e em linha direta com a programação de novembro, o Ciclo “70 Anos de Cinemateca” propõe um novo lote de filmes que completa a evocação de 35 histórias memoráveis da programação da Cinemateca desde o início das suas projeções públicas no Salão Foz em 1958 e, em modo mais intenso, a partir de 1980, quando se iniciaram as sessões diárias da primeira sala de cinema nas instalações da Rua Barata Salgueiro. O conceito e linhas de orientação deste “70 Anos, 70 Filmes” lembram momentos marcantes desse percurso, como Ciclos e retrospetivas, a peculiaridade de algumas sessões ou a presença de convidados especiais. As 16 histórias deste mês são contadas nas notas das respetivas sessões, em alguns casos transitando de novembro. Note-se que CHELSEA GIRLS, de Andy Wharol, inicialmente programado em novembro, mas que foi necessário adiar, tem agora projeção marcada. A apresentar nos primeiros meses de 2019, um segundo núcleo do Ciclo centrar-se-á no cinema contemporâneo.
 
07/12/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 70 Anos de Cinemateca

The Conversation
O Vigilante
de Francis Ford Coppola
Estados Unidos, 1974 - 113 min
07/12/2018, 21h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 70 Anos de Cinemateca

Central Park
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 1990 - 176 min
 
10/12/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 70 Anos de Cinemateca

Lonesome
Solidão
de Paul Fejos
Estados Unidos, 1928 - 90 min
 
10/12/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 70 Anos de Cinemateca

Je Vous Salue, Marie
Eu Vos Saúdo, Maria
de Jean-Luc Godard
França, Suíça, Reino Unido, 1985 - 107 min
10/12/2018, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo 70 Anos de Cinemateca

Les Demoiselles de Rochefort
As Donzelas de Rochefort
de Jacques Demy
França, 1966 - 120 min
07/12/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
70 Anos de Cinemateca

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
The Conversation
O Vigilante
de Francis Ford Coppola
com Gene Hackman, John Cazale, Allen Garfield, Cindy Williams, Frederic Forrest
Estados Unidos, 1974 - 113 min
legendado eletronicamente em português | M/12
70 Anos, 70 Filmes

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
A ascensão meteórica de Francis Ford Coppola (quase tão rápida como a queda da sua reputação dentro da indústria, fruto dos seus falhanços financeiros e da crescente megalomania dos seus projetos) valeu-lhe, de igual maneira, um estatuto repentino de grande autor do cinema norte-americano, herdeiro, como outros colegas de geração da Nova Hollywood, das influências estéticas e narrativas criadas pelas vanguardas do cinema europeu nas décadas de cinquenta e sessenta. Logo na década de oitenta, pouco tempo depois dos inícios do realizador, a Cinemateca organizou uma retrospetiva do trabalho de Coppola à qual se juntou, pela primeira vez, uma extensão “em contexto”, posicionando-o, desde logo, na linhagem da história do cinema. Em THE CONVERSATION, filmado depois da famosa saga “O Padrinho”, Coppola regressou, como faria várias vezes na sua carreira, a um registo intimista. Desta vez, chamou Gene Hackman para interpretar o papel de um homem recluso e agente privado de segurança que descobre, na enigmática gravação de uma conversa entre um casal nas ruas de São Francisco, uma misteriosa pista de assassinato que tentará resolver com o seu obsessivo conhecimento técnico. Estreado poucos meses antes da demissão de Richard Nixon (cujo equipamento de gravação, no escândalo Watergate, é o mesmo usado pela personagem de Hackman), THE CONVERSATION tornou-se num dos filmes mais significativos da década de setenta. A apresentar em cópia digital. 
 
07/12/2018, 21h00 | Sala M. Félix Ribeiro
70 Anos de Cinemateca

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
Central Park
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 1990 - 176 min
legendado eletronicamente em português | M/12
70 Anos, 70 Filmes

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
A obra de Wiseman chegou muito cedo à “nova” Cinemateca que abriu portas na Barata Salgueiro em 1980, tendo sido objeto do terceiro Ciclo aqui efetuado, com início ainda no final desse ano (na altura um Ciclo integral, com todos os títulos da década de setenta, com exceção do primeiro, TITICUT FOLLIES, à data interdito). Se isso fez história, mais ainda o fez, então, o Ciclo que lhe foi dedicado 14 anos depois, em 1994, que contou com a presença inesquecível do autor. Revisitando quase toda a obra dos anos sessenta e setenta (incluindo o “opus um”, entretanto liberado), e revelando todos os títulos feitos depois, até 1993, este segundo Ciclo mostrava já à saciedade a dupla face de constância e variação de que era construído o continente Wiseman, em particular dando a perceber bem como, entretanto, ele alargara o entendimento do que era visto como o seu tema identitário (as “instituições americanas”). Desse gesto de alargamento fazia parte uma obra fulcral, onde, em aparente desvio sobre temas sociopolíticos mais “prioritários”, ou mais “graves”, ele voltava afinal a fazer uma aguda radiografia da sociedade americana. Em CENTRAL PARK, Wiseman olha esse “intervalo” da cidade produtiva, consumista, ou de algum modo mais operativa, pensando-a, à letra, como o seu centro, e portanto o seu lugar de revelação. “O olhar de Wiseman sobre esta magnífica instituição americana não a metamorfoseia, efetivamente, em jardim das delícias, mas oferece-nos uma perceção desse ponto nevrálgico de Nova Iorque como espaço arquetípico suscetível de definir um retrato ‘anímico da cidade” (Frederico Loureço).
 
10/12/2018, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
70 Anos de Cinemateca

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
Lonesome
Solidão
de Paul Fejos
com Glen Tryon, Barbara Kent, Kay Holderness
Estados Unidos, 1928 - 90 min
mudo, legendado eletronicamente em português | M/12
70 Anos, 70 Filmes

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)

AVISO: Havíamos anunciado que a projeção de LONESOME teria música ao vivo por Daniel Schvez, ao piano. No entanto, a cópia que recebemos é da versão semi-sonora distribuída à época, com música e a inserção de algumas sequências dialogadas, além do uso de intertítulos em outras sequências. Por conseguinte, a sessão será apresentada sem música ao vivo.
O húngaro Paul Fejos (ou Pal Fejos) teve um curioso itinerário, que o levou do cinema comercial à vanguarda e daí ao documentário, antes de abandonar o cinema para se dedicar a pesquisas científicas. Toda a ação de LONESOME se concentra num só dia e conta a história de dois jovens que se encontram em Coney Island e encetam um namoro, mas são separados pela multidão. Frequentemente comparado a THE CROWD, de King Vidor, LONESOME mistura o realismo que marcou boa parte do cinema mudo no seu período final (com o seu interesse pelo "homem comum"), com uma narrativa poética, num jogo constante entre o par de protagonistas e a multidão. Foi um dos filmes apresentados numa das primeiras grandes retrospetivas de cinema americano mudo organizadas pela Cinemateca, ainda nos anos sessenta (em 1965, mais precisamente).
 
10/12/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
70 Anos de Cinemateca

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
Je Vous Salue, Marie
Eu Vos Saúdo, Maria
de Jean-Luc Godard
com Myriem Roussel, Thierry Rode
França, Suíça, Reino Unido, 1985 - 107 min
legendado eletronicamente em português | M/16
70 Anos, 70 Filmes

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
Jean-Luc Godard adaptou a Anunciação de Nossa Senhora à França da década de oitenta e a polémica não deixou de estalar. Tal como não deixou de ribombar às portas — e dentro da sala — da Cinemateca quando, durante um Ciclo dedicado a Jean-Luc Godard, em junho de 1985, e depois das palavras públicas de Nuno Krus Abecasis, então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, condenando o filme e quem planeasse exibi-lo, cerca de meia centena de manifestantes católicos se concentraram nas instalações da Barata Salgueiro para tentar impedir a apresentação do filme, estreado internacionalmente nesse ano perante uma enorme polémica internacional. Os espectadores da Cinemateca, no entanto, conseguiram mesmo ver o “milagre” de Jean-Luc Godard, num filme que, ao som de Johann Sebastian Bach, evocava tanto os mitos das nossas imagens como a sua política e as relações entre homens e mulheres na sociedade europeia contemporânea, buscando, em igual medida, o sagrado e protesto entre os elementos da realidade. Uma obra fundamental na carreira do realizador.
 
10/12/2018, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
70 Anos de Cinemateca

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
Les Demoiselles de Rochefort
As Donzelas de Rochefort
de Jacques Demy
com Catherine Deneuve, Françoise Dorléac, Danielle Darrieux, Jacques Perrin, Michel Piccoli, Gene Kelly
França, 1966 - 120 min
legendado eletronicamente em português | M/6
70 Anos, 70 Filmes

1ª Parte: 35 Histórias da História da Cinemateca (II)
Ao evocá-lo como “história”, o que evocamos aqui, mais uma vez, é o sabor e a importância de um Ciclo que, sendo à partida fundamental (a mostra completa de um dos grandes autores do cinema francês, apresentada na Cinemateca em 1983), tornou-se histórico também pela presença do homenageado. Jacques Demy não era único e inimitável apenas pelo cinema que fez, mas igualmente pelo seu carácter. Outras presenças foram mais contundentes; nenhuma foi tão amável e disponível. Mais uma vez (era o tempo desse princípio absoluto, entendido como estruturante), o Ciclo era exaustivo, trazendo a Lisboa o conhecido e o desconhecido de Jacques Demy. Neste fabuloso cinema “en-cantado”, há muitas obras mágicas, que tocam o maravilhoso e uma justeza limite. Dentre elas, não haverá porém nenhuma que seja tão jubilatória como esta. Filmado em Cinemacope e a cores, LES DEMOISELLES DE ROCHEFORT é porventura a obra-prima do cinema musical de Demy, de novo com música de Michel Legrand. O filme presta uma grande homenagem ao musical americano (contando mesmo com a presença de Gene Kelly) e ilustra simultaneamente a mitologia e os temas centrais da obra do cineasta, a procura do amor sob diversas formas, do mais idealista ao mais violento. Todo o filme decorre num tom eufórico e todas as personagens encontram ou reencontram aquilo que procuravam. Duas horas de felicidade cinematográfica.