CICLO
Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)


Prolongando a retrospetiva integral da obra de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet que teve lugar em setembro, propomos aos nossos espectadores a possibilidade de rever dez “ilhas” do imenso arquipélago isolado que é a obra do par de realizadores. Dez programas, com filmes que pertencem às “casas” (para utilizarmos uma expressão de Straub) das línguas francesa, italiana e alemã, a cor e a preto-e-branco, rodados em 35 ou em 16 mm, num reflexo da variedade desta obra. Filmes que abarcam mais de 50 anos de cinema exigente, radical e inimitável. Também veremos dois trabalhos sobre o trabalho de Straub-Huillet, realizados por Pedro Costa e Peter Nestler. Com a exceção de TROP TÔT, TROP TARD, todos os filmes são apresentados no suporte original, analógico ou digital.
 
01/10/2018, 18h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)

Sicilia! | 6 Bagatelas
duração total da projeção: 84 min | M/12
02/10/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)

Machorka-Muff | Nicht Versöhnt oder es Hilft Nur Gewalt, wo Gewalt Herrscht | Der Bräutigam, die Kömödiantin und der Zuhälter
duração total da sessão: 93 min | M /12
04/10/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)

Chronik der Anna Magdalena Bach
A Pequena Crónica de Anna Magdalena Bach
de Jean-Marie Straub
Alemanha, 1967-68 - 93 min
08/10/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)

Toute Révolution Est un Coup de Dés | Dalla Nube Alla Resistenza
duração total da projeção: 116 min | M/12
 
09/10/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)

Trop Tôt, Trop Tard
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
França , 1980 - 105 min
 
01/10/2018, 18h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)
Sicilia! | 6 Bagatelas
duração total da projeção: 84 min | M/12
SICILIA!
Sicília
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
com Gianni Buscarino, Vittorio Vigneri, Angela Nugara
Itália, 1999 – 66 min / legendado eletronicamente em português
6 BAGATELAS
de Pedro Costa
com Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
Portugal, 2004 – 18 min / legendado em português

SICILIA! assinala a primeira presença de um livro de Elio Vittorini na obra de Straub-Huillet, que a ela voltariam em OPERAI, CONTADINI, numa série de curtas-metragens e em partes de KOMMUNISTEN. SICILIA!, talvez o mais “narrativo” dos filmes de Straub-Huillet aborda um tema clássico: o regresso ao lar. Um siciliano que emigrara para o norte de Itália (mas pretende ter emigrado para os Estados Unidos) regressa à sua terra natal. A sua viagem de regresso divide-se em quatro etapas, que são outros tantos movimentos cinematográficos: um diálogo no porto, uma viagem de comboio, um encontro com a sua mãe e um diálogo com um amolador de facas, que gostaria que todas as facas só tivessem lâminas. Ao invés de se encontrar a si próprio no termo da viagem, o viajante descobre algo mais vasto, uma “bela coisa, o mundo”. A apresentar em cópia digital. A fechar a sessão, 6 BAGATELAS, seis cenas que Pedro Costa deixou de fora da montagem final de OÙ GÎT VOTRE SOURIRE ENFOUI?, rodado durante a montagem de SICILIA!, com Jean-Marie Straub e Danièle Huillet em trabalho e na intimidade.
 
02/10/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)
Machorka-Muff | Nicht Versöhnt oder es Hilft Nur Gewalt, wo Gewalt Herrscht | Der Bräutigam, die Kömödiantin und der Zuhälter
duração total da sessão: 93 min | M /12
MACHORKA-MUFF
Alemanha, 1963 – 17 min / legendado eletronicamente em português
NICHT VERSÖHNT oder ES HILFT NUR GEWALT, WO GEWALT HERRSCHT
“Não Reconciliados ou Só a Violência Ajuda Onde a Violência Reina”
Alemanha,, 1965 –  53 min / legendado eletronicamente em português
DER BRÄUTIGAM, DIE KÖMÖDIANTIN UND DER ZUHÄLTER
 “O Noivo, a Atriz e o Proxeneta”
com Lilith Ungerer, James Powell, Rainer Werner Fassbinder
Alemanha, 1968 – 23 min / legendado eletronicamente em português
de Jean-Marie Straub

Neste programa com obras do período em que Jean-Marie Straub estava exilado na Alemanha, por se ter recusado a lutar na guerra da Argélia, reunimos os seus dois primeiros filmes, que formam uma espécie de díptico, que completamos pelo filme que fecha este período alemão. Straub descreveu MACHORKA-MUFF como “a história de uma violação (a violação de um país, ao qual foi imposto um exército, quando este país estava muito feliz por ter não exército)”. NICHT VERSÖHNT foi o filme que tornou conhecido o nome de Straub – depois de provocar um escândalo no Festival de Berlim de 1965. Com base numa novela de Heinrich Böll, trata-se, nas palavras de Straub, de “uma espécie de filme-oratório” que narra “a história de uma frustração, a frustração da violência, a frustração de um povo que falhou a sua revolução de 1848 e não conseguiu livrar-se do fascismo.” Em DER BRÄUTIGAM, DIE KÖMÖDIANTIN UND DER ZUHÄLTER, Straub faz a primeira das muitas “misturas” (o termo é dele) da sua obra: os ensaios de uma peça de Ferdinand Bruckner, pela companhia de Fassbinder, são mostrados em paralelo com a ligação sentimental entre uma prostituta e um negro, naquele que talvez seja o filme mais comovente de toda a sua obra.
 
04/10/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)
Chronik der Anna Magdalena Bach
A Pequena Crónica de Anna Magdalena Bach
de Jean-Marie Straub
com Gustav Leonhardt, Christiane Lang
Alemanha, 1967-68 - 93 min
legendado eletronicamente em português | M/
O filme mais acessível de Jean-Marie Straub, sobre o trabalho de Johann Sebastian Bach. Contrariamente ao que muitos pensam, o filme não é baseado em The Little Chronicle of Anna Magdalena Bach, romance de Esther Meynell, que muitos tomam pelo verdadeiro diário da segunda mulher de Bach. Ao filmar uma história de amor que não se parece com nenhuma outra (uma mulher fala do marido que amou até à morte), o realizador fez com que verdadeiros músicos executassem a música de Bach em som direto, o que era uma novidade absoluta e um exemplo que não foi seguido por muitos. Por isto, “a música de Bach não é um acompanhamento nem um comentário, mas a matéria-prima” do filme.
 
08/10/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)
Toute Révolution Est un Coup de Dés | Dalla Nube Alla Resistenza
duração total da projeção: 116 min | M/12
TOUTE RÉVOLUTION EST UN COUP DE DÉS
com Danièle Huillet, Gerorges Goldfayn, Michel Delahaye
França, 1977 – 11 min / legendado eletronicamente em português
DALLA NUBE ALLA RESISTENZA
com Olimpia Carlisi, Gino Felici, Ennio Lauricelle
Alemanha, 1978-79 – 105 min / legendado eletronicamente em português
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet

O título da longa-metragem desta sessão, “DA NUVEM À RESISTÊNCIA” podia servir para designar a obra do par Straub-Huillet. Baseado em dois textos distintos de Cesare Pavese, o filme começa com a personagem de uma ninfa sobre uma árvore, que para Straub é a “nuvem” do título, “desde a invenção dos deuses pelos homens até à resistência, quase imediata, deste contra aqueles, até à resistência ao fascismo”. A propósito deste filme, Serge Daney observou que se Straub-Huillet sempre manifestaram “um respeito meticuloso pelos textos, é preciso notar aqui em que sentido eles sabem violentá-los”. A abrir a sessão, uma densíssima curta-metragem, ilustração quase literal da noção de “sentido sepulto” de um filme, elaborada pelo mesmo Daney, cujo título é uma frase de Michelet. Diante do Muro dos Federados, no cemitério Père-Lachaise, onde foram fuzilados muitos participantes da Comuna de Paris, um grupo de pessoas lê um complexo poema de Stéphane Mallarmé.
 
09/10/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Os Olhos Não Querem Estar Sempre Fechados – O Cinema de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (II)
Trop Tôt, Trop Tard
de Jean-Marie Straub, Danièle Huillet
com as vozes de Danièle Huillet, Baghat el Nadi
França , 1980 - 105 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Neste ensaio político, que mostra a variedade da obra de Straub-Huillet, são cotejadas a situação da França nas vésperas da revolução de 1789 e as lutas dos camponeses egípcios no século XX. O dispositivo formal é claro: depois de um longo plano na Praça da Bastilha, vemos, de um lado, paisagens campestres francesas, enquanto Danièle Huillet lê trechos dos “cadernos de queixas” enviados pelas classes populares à Reunião dos Estados Gerais, em abril daquele ano, a partir da qual não tardaria a explodir a revolução; de outro, sobre paisagens de campos egípcios, são lidos trechos do sociólogo marxista Mahmud Hussein. O título do filme não induz a muito otimismo: era demasiado cedo em França e talvez já seja demasiado tarde no Egito. A apresentar em cópia digital.