CICLO
As Cinematecas Hoje: Cinémathèque Suisse


Fundada em Lausanne em 1948, a Cinemateca Suíça nasceu “quando, ligado simultaneamente ao sonho e à realidade, o cinema brilhava em todo o seu esplendor”, para citarmos as palavras de um dos seus fundadores, Freddy Buache (nascido em 1924), que foi o seu diretor durante quase meio século, entre 1950 e 1996. A instituição de Lausanne adquiriu grande prestígio internacional e além de preservar e mostrar os clássicos do cinema, sempre estimulou o trabalho dos jovens cineastas. As ligações entre a Cinémathèque Suisse e a Cinemateca Portuguesa são antigas. A primeira homenagem que prestámos aos nossos colegas de Lausanne data de 1987, com o Ciclo “Filmes da Cinemateca Suíça” e em 1999 oferecemos uma “Carta-Branca a Freddy Buache”, além de organizarmos, ao longo dos anos, outros ciclos dedicados ao cinema suíço. A presente homenagem à Cinémathèque Suisse obedece ao critério da rubrica “As Cinematecas Hoje”, que consiste em programar obras da produção nacional do país onde se situa a cinemateca homenageada. Dos vinte e dois filmes apresentados (dezoito ficções e quatro documentários), treze são inéditos na Cinemateca. Reproduzimos a seguir um texto de Frédéric Maire, Diretor da Cinemateca Suíça, especialmente escrito para esta programação a apresentar na Cinemateca Portuguesa.
 
Cinema dos campos, cinema das cidades
Premissa: o cinema suíço não existe. Existem cinemas suíços, devido à diversidade linguística e cultural entre as diferentes regiões (de língua francesa, alemã, italiana e romanche) e a razões históricas: o cinema suíço começou por ter uma existência quase industrial nas regiões de língua alemã, quando ainda era confidencial nas regiões de língua francesa, antes que a situação se invertesse nos anos sessenta, sobretudo a partir da Exposição Nacional de 1964. Hoje, as diversas regiões têm uma ação dinâmica, de natureza bastante diferente e agem separadamente. A tendência é criar laços além-fronteiras, com a Alemanha e a Áustria nas regiões de língua alemã, com a Itália na Suíça italiana, e com a França e a Bélgica na Suíça francófona.
O panorama que proponho leva em consideração a diversidade das regiões, das línguas e dos géneros, a partir de dois eixos importantes do cinema suíço. Um cinema dos campos, da montanha, do mundo rural (o Heimatfilm, o Bergfilm e as suas releituras mais contemporâneas) e um cinema das cidades, por vezes da planície, muitas vezes mais moderno, quando não contestatário (o cinema dos cineastas do Grupo 5, mas também o de Yves Yersin, Richard Dindo ou Samir). A partir dos anos sessenta, pode-se constatar que muitos filmes mostram personagens “em revolta”, que passam de um mundo para outro, como o chefe de empresa Charles Dé (em CHARLES, MORT OU VIF), a Rosemonde de LA SALAMANDRE de Alain Tanner ou o empregado de quinta Pipe (em LES PETITES FUGUES). As pessoas que vivem nos seus pequenos jardins de KLEINE FREIHEIT de Hans-Ulrich Schlumpf são citadinos que sonham, na cidade, com a vida no campo… por conseguinte, com uma forma de liberdade.
Há um outro elemento que percorre o conjunto desta programação: a figura do estrangeiro, do outro, que enriquece e amedronta este pequeno país, que só se pôde desenvolver com a ajuda dos estrangeiros. A mulher raptada num vale próximo em RAPT, os jovens estrangeiros da segunda geração em BABYLON 2, os refugiados na fronteira durante a guerra, em DIE LETZTE CHANCE ou em DAS BOLL IST VOLL ou ainda as migrações vindas da ex-Jugoslávia em DAS FRÄULEIN… Esta figura permanece no centro do nosso cinema (e da nossa existência).
Frédéric Maire
 
 
28/06/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo As Cinematecas Hoje: Cinémathèque Suisse

Hors Saison / Zwischensaison
“Fora de Estação”
de Daniel Schmid
Suíça, 1992 - 95 min
 
29/06/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo As Cinematecas Hoje: Cinémathèque Suisse

Comme des Voleurs (À l’Est)
de Lionel Baier
Suíça, 2006 - 112 min
29/06/2018, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo As Cinematecas Hoje: Cinémathèque Suisse

Das Fräulein
“A Senhorita”
de Andrea Staka
Suíça, 2006 - 81 min
28/06/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
As Cinematecas Hoje: Cinémathèque Suisse
Hors Saison / Zwischensaison
“Fora de Estação”
de Daniel Schmid
com Sami Frey, Ingrid Caven, Carlos Devesa
Suíça, 1992 - 95 min
legendado em português | M12
Reconhecido como um dos nomes mais destacados do cinema suíço, praticando um cinema que, nos seus começos, parecia buscar um ponto de equilíbrio entre Schroeter e Fassbinder, Daniel Schmid simplificou a sua linguagem, mas não perdeu as suas qualidades. Vindo de uma família de hoteleiros, Schmid quis realizar uma ficção sobre as suas lembranças de infância. Inteiramente filmado em Portugal, no Hotel da Curia, que Schmid considerou um cenário absolutamente perfeito, ZWISCHENSAISON é um fascinante filme sobre o microcosmos de um velho hotel, onde as memórias de infância do cineasta se cruzam com um olhar sobre “outros tempos”, num dos mais belos momentos da sua obra.
 
29/06/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
As Cinematecas Hoje: Cinémathèque Suisse
Comme des Voleurs (À l’Est)
de Lionel Baier
com Lionel Baier, Stéphane Rentzik, Natacha Koutchounov
Suíça, 2006 - 112 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
Esta segunda longa-metragem de Lionel Baier é um “road movie”, que percorre a Suíça, a Eslováquia e a Polónia. Um casal de irmãos decide subitamente ir em busca das suas origens familiares. O desenrolar da narrativa é, por vezes, desviado rumo a passagens metafóricas, de grande ambição formal. O próprio realizador interpreta o protagonista masculino, que também se chama Lionel e isto, como observou Laura Legast, “instaura uma biografia fictícia. Onde está a fronteira entre a ficção e a biografia: o que é verdadeiro, o que é falso?”. Primeira exibição na Cinemateca.
 
29/06/2018, 22h00 | Sala Luís de Pina
As Cinematecas Hoje: Cinémathèque Suisse
Das Fräulein
“A Senhorita”
de Andrea Staka
com Mirjana Karanovic, Marija Skaricic, Ljubica Jovic
Suíça, 2006 - 81 min
legendado em espanhol e eletronicamente em português | M/12
Primeira longa-metragem de ficção do seu realizador, DAS FRÄULEIN obteve o Leopardo de Ouro no Festival de Locarno. Acompanhamos três mulheres originárias da ex-Jugoslávia, que emigraram ou fugiram à guerra, em Zurique, onde são como fantasmas numa terra hostil. O filme tem uma narrativa polifónica e um tom melancólico, em que o silêncio e o não dito têm muito peso. “Recusando qualquer flashback e elidindo os momentos mais dramáticos, DAS FRÄULEIN consegue conciliar um tom leve e uma evocação pudica da solidão banal e das sequelas do desenraizamento” (Alain Boillat). Primeira exibição na Cinemateca.