CICLO
Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov


De entre o cinema com uma raiz histórica nos acontecimentos de maio de 68 avulta a produção do Grupo Dziga Vertov. Uma designação coletiva que nasceu do encontro entre Jean-Luc Godard, cujo cinema “pré-maio” se vinha politizando (WEEKEND , LA CHINOISE), e Jean-Pierre Gorin, jovem intelectual marxista (discípulo de Althusser e de Foucault), que trouxe ao primeiro uma sustentação teórica e uma severidade política que talvez nele não existissem ainda. A Godard e Gorin juntou-se Jean-François Roger, entre outros colaboradores regulares (o operador William Lubtchansky, as atrizes Juliet Berto e Anne Wiazemksy, por exemplo). Este contexto coletivo gerou oito filmes, para além de um posfácio (ICI ET AILLEURS, baseado num filme não terminado) e de uma antecâmara (LE GAI SAVOIR, o primeiro filme de Godard pós-Maio de 1968, já em plena abertura para o que seria o trabalho do Grupo Dziga Vertov).
Com o seu talento para as proposições curtas e lapidares, Godard resumiu: não se tratava apenas de fazer “filmes políticos”, tratava-se sobretudo de “fazer filmes politicamente”. Isto implicava, naturalmente, que o “político” devia atravessar todo o processo do fabrico dos filmes, da organização da produção ao trabalho da rodagem. Os filmes do Grupo Dziga Vertov são em primeiro lugar isto, uma reinvenção da prática cinematográfica. Ao mesmo tempo “utópicos”, no sentido em que preparam e apontam um “caminho” para um “futuro” (em termos sociais e em termos cinematográficos), e “realistas”, no sentido em que dão conta das circunstâncias concretas de tempos e lugares precisos, o os filmes do Grupo desenrolam-se numa cronologia curta (não mais de quatro anos) mas profundamente ambiciosa na área coberta – filmes em França, filmes em Itália, na Checoslováquia, na Palestina. Passaram 50 anos, são filmes que nos chegam de um outro mundo que, no entanto, não deixou de ser o nosso mundo. Como lidar, hoje, com a sua intensidade política ? E com o seu incessante questionamento dos poderes e significados da imagem (cinematográfica e para além dela)? São as perguntas que propomos, à partida, para este mergulho “em bloco” na totalidade da produção do Grupo Dziga Vertov, no mês em que se assinalam os 50 anos do maio de 1968.
 
 
24/05/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov

British Sounds
de Grupo Dziga Vertov
Reino Unido, 1969 - 52 min
 
25/05/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov

Ici et Ailleurs
de Jean-Luc Godard, Anne Marie-Miéville
França, 1976 - 53 min
28/05/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov

Le Gai Savoir
de Jean-Luc Godard
França, 1968 - 95 min
30/05/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov

Le Vent d’Est
de Grupo Dziga Vertov
França, 1970 - 100 min
24/05/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov
British Sounds
de Grupo Dziga Vertov
Reino Unido, 1969 - 52 min
legendado eletronicamente em português | M/12
No período em que esteve em Londres a filmar ONE PLUS ONE Jean-Luc Godard recebeu uma encomenda de uma estação britânica (a London Weekend Television) para um filme, que ele aceitou e correalizou com Jean-François Roger. O filme, uma investigação das condições de vida do operariado britânico (BRITISH SOUNDS começa numa linha de montagem de automóveis, num eco fortíssimo de WEEKEND), de permeio a reflexões sobre a revolução e as suas possibilidades, viria a ser recusado pela televisão, que abdicou de o exibir. Foi lançado em sala, como filme do Grupo Dziga Vertov, e é um dos objetos mais fascinantes do legado do coletivo.
 
25/05/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov
Ici et Ailleurs
de Jean-Luc Godard, Anne Marie-Miéville
com Jean-Pierre Bamberger
França, 1976 - 53 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Rushes de um filme inacabado sobre a resistência palestiniana, rodado quatro anos antes sob a égide do grupo Dziga Vertov, são mostradas a um casal que, diante do televisor, recorda a sua experiência passada durante os anos de militância. Uma obra raramente exibida, que toca uma questão sensível e que aborda o modo como se organizam aqui (“ici”) imagens que foram registadas algures (“ailleurs”). Filme sobre um conflito, é antes de mais uma reflexão sobre a própria televisão. Já não é um filme do Grupo Dziga Vertov, mas é por todas as razões uma espécie de seu oficioso posfácio.
 
28/05/2018, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov
Le Gai Savoir
de Jean-Luc Godard
com Jean-Pierre Léaud, Juliet Berto
França, 1968 - 95 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Émile tenta forçar as portas da Universidade guardadas pelo exército, Patricia, por seu lado, distribui gravadores de bolso numa fábrica, para que os operários possam registar todas as incongruências do discurso do patronato. Num estúdio de cinema, Émile e Patricia comentam as imagens e sons da “luta de classes”, conferindo-lhes novos sentidos, e assim procurando “fazer voltar contra o inimigo a arma com que ele ataca: a linguagem”. Um ensaio sobre o poder das palavras e a sua relação com as imagens. Começado antes do maio de 68, concluído depois dele, e numa altura em que o encontro com Jean-Pierre Gorin já produzira em Godard um efeito determinante, LE GAI SAVOIR, sendo um filme em nome próprio, é a antecâmara do que viria a ser o espírito e o trabalho do Grupo Dziga Vertov.
 
30/05/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Fazer Filmes Politicamente: O Grupo Dziga Vertov
Le Vent d’Est
de Grupo Dziga Vertov
com Anne Wiazemsky, Gian Maria Volonté
França, 1970 - 100 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um dos mais complexos – e para vários comentadores, o melhor – de entre os filmes produzidos pelo Grupo Dziga Vertov. Há quem defenda que é o filme ideal para perceber as ideias de Godard e Gorin quanto à “destruição da linguagem burguesa” do cinema. O cinema,  o cinema hollywoodiano industrial e os seus pilares (como os géneros, particularmente o western), é explicitamente criticado e decomposto, a partir de uma sustentação teórica encontrada no marxismo. Também o podemos ver, atenuando um pouco o seu carácter político mais moralista, como um objeto extraordinariamente livre e criativo (por exemplo na relação imagem/som) que opera um traço de união entre os últimos Godards em nome próprio (WEEKEND, LA CHINOISE, ONE PLUS ONE) e a dimensão mais profunda da reflexão do Grupo Dziga Vertov. A apresentar em cópia digital.