CICLO
História Permanente do Cinema Português


Em março, prosseguimos a revisitação de algumas obras da década de trinta e retomamos a memória do novo documentário surgido nos anos noventa que iniciámos em janeiro com A DAMA DE CHANDOR. Do primeiro grupo, exibimos a versão de AS PUPILAS DO SR. REITOR assinada por Leitão de Barros – a segunda longa-metragem de Barros em tempo de sonoro, ou seja, aquela que realizou entre A SEVERA e BOCAGE e cujo enorme êxito público, à data (repetindo o do filme anterior), foi justamente a origem do ambicioso salto de produção dado neste último. Do segundo grupo, é a vez de Catarina Alves Costa, com dois filmes da primeira fase da sua carreira, emergentes da sua formação em Antropologia – REGRESSO À TERRA (ainda feito no contexto do seu mestrado na Universidade de Manchester) e SWAGATAM, rodado junto da comunidade hindu de Lisboa.
 
 
08/03/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo História Permanente do Cinema Português

Regresso à Terra | Swagatam
duração total da projeção: 85 min | M/6
 
23/03/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo História Permanente do Cinema Português

As Pupilas do Sr. Reitor
de Leitão de Barros
Portugal, 1935 - 98 min | M/6
08/03/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
História Permanente do Cinema Português
Regresso à Terra | Swagatam
duração total da projeção: 85 min | M/6
com a presença de Catarina Alves Costa
REGRESSO À TERRA
de Catarina Alves Costa
Portugal, 1992 – 35 min
SWAGATAM
de Catarina Alves Costa
Portugal, 1998 – 50 min

“Faço documentário porque foi a forma que encontrei de fazer antropologia”, dizia há anos Catarina Alves Costa, cujo percurso cinematográfico é todo ele marcado pelo cruzamento desses dois espaços, ou dessas duas vontades – um cruzamento que se tornou um dos fatores da sua identidade no seio da geração que renovou a prática do documentário entre nós na última década do século XX. Respetivamente o primeiro e o terceiro título da autora (entre eles houve SENHORA APARECIDA, de 1994), estes dois filmes dão-nos a formação de um olhar e o que se pode considerar o fecho de um ciclo inicial de trabalho num momento de amadurecimento dele. REGRESSO À TERRA foi rodado nas povoações minhotas da zona de Caminha e nele está já uma nova forma de atenção (mais mostrada do que “dita”) à realidade humana profunda de gentes em curso de isolamento progressivo, e uma nobreza de olhar no confronto com os seus gestos e os seus corpos, que seriam depois recorrentes na obra de Catarina Alves Costa. SWAGATAM (que pode ser visto como o belíssimo contracampo de A DAMA DE CHANDOR, também de 1998) é a “Índia em Lisboa”, ou, com maior precisão, um retrato da comunidade hindu residente na cidade, mais uma vez deixando uma marca pessoal importante num território cinematográfico (dedicado às questões de imigração e integração) que, tendo alguns antecedentes, iria desenvolver-se no cinema português. Alves Costa vai ao interior da comunidade e filma-a com conhecimento e subtileza num retrato complexo feito de vários níveis de diferença e de potencial tensão (as clivagens internas, de casta, e a afirmação identitária no seio de outra cultura), de novo à altura do olhar dos membros da própria comunidade, sem comentário simplificador e sem toque de sobranceria.
 
23/03/2018, 18h30 | Sala Luís de Pina
História Permanente do Cinema Português
As Pupilas do Sr. Reitor
de Leitão de Barros
com Joaquim Almada, Maria Matos, António Silva, Leonor d’Eça
Portugal, 1935 - 98 min | M/6
Um dos maiores trunfos de Leitão de Barros no seu trabalho como realizador – a sua preparação, ou a sua efetiva força plástica – ter-se-á de algum modo voltado contra ele nesta adaptação de Júlio Dinis, muito marcada por um excessivo pictorialismo, ou mesmo por um lado ilustrativo, aqui ligado à vontade de Barros e do arquiteto/decorador Cristino da Silva de evocarem as célebres ilustrações da obra do escritor oitocentista feitas por Roque Gameiro (uma evocação tanto mais sintomática quanto Barros era de facto próximo do pintor por via do seu casamento com a filha daquele, Helena de Roque Gameiro, que aqui também participava como aderecista). Esta ou outras facetas que nos podem afastar hoje de muitas das leituras da época não anulam contudo, naturalmente, o interesse de conhecer mais um elo significativo do nosso cinema de trinta, e da própria obra de Barros, que, além do mais, é também um elo da carreira de grandes atores aqui em papéis secundários, como seja o caso de António Silva e Maria Matos, no primeiro dos seus encontros cinematográficos.