CICLO
Hollywood B


A chamada série B foi um dos pilares do edifício clássico de Hollywood. Compreendendo rapidamente, sobretudo a seguir ao aparecimento do sonoro, que era impossível alimentar uma indústria apenas à base de grandes produções e ao mesmo tempo responder à exigência de novos filmes por parte de um público e de um parque de salas que eram então enormes, todos os grandes estúdios – as chamadas majors – criaram no seu interior, a trabalhar em paralelo com as produções mais luxuosas, unidades de produção “B”, que por norma trabalhavam com rapidez e orçamentos curtos. Era, além do mais, uma forma de manter em atividade (e, portanto, rentabilizar) os equipamentos, os técnicos, os atores, os realizadores; e, em paralelo, de responder à fórmula de programação que se impôs nos anos trinta e durou sensivelmente até ao fim da época clássica, o “double bill”, que incluía em geral um “filme B” como preâmbulo a uma produção de “série A”. Ao lado das majors, o sistema gerou o nascimento daquilo que passou à história como a “poverty row”, a “rua dos pobres”, composta por um número de pequenas produtoras (a PRC, a Monogram, a Republic, entre as mais célebres) que trabalhavam exclusivamente numa economia de baixos recursos e cujos filmes (às vezes “comprados” pelas majors para os seus programas de complemento) eram pensados primordialmente com este propósito.
Apesar de algumas destas produções B terem sido observadas com uma certa nobreza pela história do cinema (por exemplo a unidade dirigida por Val Lewton na RKO, que revelou Jacques Tourneur, ou um cineasta como Edgar G. Ulmer, que passou toda a carreira americana a trabalhar neste registo de produção para casas da “poverty row”), a maior parte vive ainda numa certa penumbra. Com este Ciclo, que está longe de ser exaustivo mas se pretende um percurso minimamente significativo, olhamos para o universo da série B com o propósito de dar a conhecer filmes e autores negligenciados, mas também de combater alguns clichés – nomeadamente, aquele, bastante expandido, que faz da série B um território de filmes disparatados e mal enjorcados, ou que a confunde com o cinema de “exploitation” e com os filmes que de “tão maus se tornam bons”. Basta lembrar que a série B foi, por exemplo, a porta de entrada em Hollywood de cineastas tão sérios e tão artísticos como Douglas Sirk – com quem escolhemos abrir o Ciclo, precisamente com o filme da sua estreia americana – e que grandes nomes do cinema mudo – como Monta Bell ou Allan Dwan – terminaram as suas carreiras a trabalhar neste registo. Não esquecer, ainda, que por via da baixa expectativa comercial (ou até do lucro garantido, visto que o “sucesso” de um programa raramente dependia da primeira parte de um “double bill”), a série B era um território de uma liberdade, até “laboratorial”, que a série A raramente se podia permitir, e que isso resulta em que muitos destes filmes nos pareçam hoje retratos sociais da América da época mais ousados e mais justos do que muitos dos seus parentes ricos.
Vamos então olhar para a Hollywood B na certeza de que o “B” não exprime forçosamente um grau de qualidade artística, antes um modelo económico de produção, uma outra economia do cinema clássico. O programa prolonga-se pelo mês de dezembro.
 
 
17/11/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Hollywood B

Hitler
de Stuart Heisler
Estados Unidos, 1962 - 102 min
 
17/11/2017, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Hollywood B

Riot in Cell Block 11
de Don Siegel
Estados Unidos, 1954 - 80 min
20/11/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Hollywood B

The Raven
O Corvo
de Lew Landers (Louis Friedlander)
Estados Unidos, 1935 - 56 min
21/11/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Hollywood B

Kansas City Confidential
O Segredo dos Quatro
de Phil Karlson
Estados Unidos, 1952 - 99 min
21/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Hollywood B

Hitler
de Stuart Heisler
Estados Unidos, 1962 - 102 min
17/11/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Hollywood B
Hitler
de Stuart Heisler
com Richard Basehart, Cordula Trantow, Maria Emo, John Mitchum
Estados Unidos, 1962 - 102 min
legendado eletronicamente em português | M/12
O filme de Stuart Heisler foi anunciado à época como o primeiro retrato no cinema da vida privada de Hitler (interpretado por Richard Basehart). Foi o último filme de Stuart Heisler, que em 1937 esteve envolvido na realização de THE HURRICANE de John Ford e ficou mais conhecido como o realizador do documental THE NEGRO SOLDIER (1944) ou TULSA (1949). HITLER não será a sua mais memorável obra, mas vale pela curiosidade da abordagem à personagem no início dos anos sessenta.
 
17/11/2017, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Hollywood B
Riot in Cell Block 11
de Don Siegel
com Neville Brand, Emile Meyer, Frank Faylen
Estados Unidos, 1954 - 80 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um filme típico das preocupações sociais do produtor Walter Wanger – por esta altura estebelecido como independente – e diretamente inspirado na sua própria experiência prisional (passara uns meses na prisão uns anos antes, por ter atingido a tiro o suposto amante da sua mulher). Rodado por menos de trezentos mil dólares, na célebre prisão de Folsom, com verdadeiros guardas prisionais e alguns verdadeiros condenados como secundários e/ou figurantes, RIOT IN CELL BLOCK 11 é um filme duro e áspero que atesta bem o compromisso realista de muita série B, por oposição ao escapismo privilegiado pelas grandes produções.
 
20/11/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Hollywood B
The Raven
O Corvo
de Lew Landers (Louis Friedlander)
com Boris Karloff, Bela Lugosi, Irene Ware
Estados Unidos, 1935 - 56 min
legendado em português | M/12
Programado no contexto do Ciclo “Hollywood B”, THE APE (William Nigh, 1940) devia ser apresentado nas sessões de 20 e 22 de Novembro, respetivamente às 15h30 e às 19 horas, na sala M. Félix Ribeiro. Lamentavelmente, a cópia que nos foi disponibilizada não tem condições de projecção que permitam a realização das sessões. Assim, as duas passagens do filme são substituídas pela projecção de THE RAVEN (Lew Landres, 1935, 56 min, em cópia legendada em português).
Um dos mais bizarros filmes de terror dos anos trinta. A história de um neurocirurgião obcecado com os mecanismos de tortura descritos nas histórias de Edgar Allan Poe. Constrói réplicas deles e pretende utilizá-los para se vingar do pai da rapariga por quem está apaixonado, depois de este lhe ter recusado a mão da filha. Boris Karloff e Bela Lugosi, os “monstros da Universal” (a grande produtora que produziu neste período muitos filmes de terror), são as estrelas deste filme sobre monstruosidades do espírito.
 
21/11/2017, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Hollywood B
Kansas City Confidential
O Segredo dos Quatro
de Phil Karlson
com John Payne, Coleen Gray, Preston Foster
Estados Unidos, 1952 - 99 min
legendado em espanhol| M/12
Phil Karlson foi outro dos grandes mestres da série B, formado na "poverty row" (na Monogram) nos anos quarenta, e depois com uma prolífica carreira em filmes de género (guerra, westerns, policiais) feitos para produtores independentes ou para grandes estúdios (mas por norma em produções rápidas de baixo orçamento). KANSAS CITY CONFIDENTIAL, produzido por Edward Small enquanto independente, é um dos seus títulos mais célebres, combinando o filme de "golpada" com a dureza do "noir" mais realista. Muitos anos mais tarde, seria uma inspiração para Tarantino, que aqui veio "pedir emprestados" alguns toques narrativos do seu RESERVOIR DOGS. A apresentar em cópia digital.
 
21/11/2017, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Hollywood B
Hitler
de Stuart Heisler
com Richard Basehart, Cordula Trantow, Maria Emo, John Mitchum
Estados Unidos, 1962 - 102 min
legendado eletronicamente em português | M/12
O filme de Stuart Heisler foi anunciado à época como o primeiro retrato no cinema da vida privada de Hitler (interpretado por Richard Basehart). Foi o último filme de Stuart Heisler, que em 1937 esteve envolvido na realização de THE HURRICANE de John Ford e ficou mais conhecido como o realizador do documental THE NEGRO SOLDIER (1944) ou TULSA (1949). HITLER não será a sua mais memorável obra, mas vale pela curiosidade da abordagem à personagem no início dos anos sessenta.