CICLO
Double Bill


Becos, personagens acossadas, aprisionadas, situações sem saída. Foi esta a base de escolha de filmes para as quatro sessões “Double Bill” de julho. No primeiro sábado do mês, veremos um Max Ophuls (THE RECKLESS MOMENT) seguido de um William Wyler (THE LETTER) – um espelho entre as duas portentosas Joan Bennett e Bette Davis, na pele de personagens acorrentadas a crimes que elas próprias cometeram, tornando-se vítimas de jogos de chantagem ou dos próprios jogos de manipulação e exuberância e poder que vão criando. Outra dupla feminina se segue: Laura Dern (INLAND EMPIRE) e Liv Ullmann (PERSONA), atrizes que acabam por ficar cativas no próprio jogo de representação, permanecendo num limbo vago entre realidade e ficção. A terceira dupla de filmes leva-nos a um outro palco de total asfixia que é o palco da guerra, do aprisionamento no medo e no horror, na indignação. Assim, seja na ilha de céu aberto de Bergman (“A VERGONHA”), onde a guerra chega absurda e sem aviso, seja no buraco fechado onde se escondem os prisioneiros evadidos de Rossellini (ERA NOITE EM ROMA), o único sentido, ou melhor, o único sobressalto, é o impulso da salvação. No último sábado do mês, os dois filmes são “O TESOURO DE ARNE” e IL TEMPO SE È FERMATO (belíssimo e tão pouco visto). O primeiro é uma história também de evadidos, que cobiçam um tesouro numa Suécia medieval e longínqua, e ficam retidos no gelo; o segundo é a história da relação que se estabelece entre um homem e um rapaz que se veem isolados pela neve na montanha. A óbvia relação entre estes filmes seria a de personagens isoladas pelos gelos e pelas neves. Mas a tentação será dizer, que nestes dois casos, há uma outra teia mais subtil que as “prende”. Quer pela mão de Mauritz Stiller, quer pela mão de Ermmano Olmi – e que diferença de mãos! – há qualquer coisa mais alucinada,  que vem sem querer, inesperada e deslumbrada, das próprias personagens perdidas de si, no branco imenso de nevões que o tempo parou. 
 
 
09/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

The Reckless Moment | The Letter
duração total da projeção: 174 min | M/12
 
16/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Inland Empire | Persona
duração total da projeção: 261 min | M/16
23/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Skammen | Era Notte a Roma
duração total da projeção: 240 min | M/12
30/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Herr Arnes Pengar | Il Tempo se è Fermato
duração total da projeção: 200 min | M/12
09/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
The Reckless Moment | The Letter
duração total da projeção: 174 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
THE RECKLESS MOMENT
Momento de Perdição
de Max Ophuls
com James Mason, Joan Bennett, Geraldine Brooks, David Blair
Estados Unidos, 1949 – 79 min / legendado eletronicamente em português
THE LETTER
A Carta
de William Wyler
com Bette Davis, Herbert Marshall, James Stephenson, Gale Sondergaard
Estados Unidos, 1940 – 95 min /legendado eletronicamente em português

THE RECKLESS MOMENT é um dos filmes menos conhecidos do período americano de Max Ophuls. Um “thriller” sombrio que se pode incluir no género "negro", sobre uma mulher vítima de chantagem por ter lançado ao mar o cadáver de um homem que atormentava a filha e fora vítima de um acidente. Adaptado de uma história de Somerset Maugham, THE LETTER oferece a Bette Davis um dos seus primeiros grandes papéis de “má”, com o qual o espectador se identifica. A sua personagem é uma assassina que tenta encobrir o seu crime através de uma manipulação, argumentando legítima defesa. O filme é também um exemplo do uso sistemático da profundidade de campo que André Bazin tanto admirava em Wyler. Um clássico.
 
16/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Inland Empire | Persona
duração total da projeção: 261 min | M/16
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
INLAND EMPIRE
Inland Empire
de David Lynch
com Laura Dern, Jeremy Irons, Justin Theroux, Karolina Gruszka, Jan Hencz
Estados Unidos, 2006 – 180 min / legendado em português
PERSONA
A Máscara
de Ingmar Bergman
com Liv Ullmann, Bibi Andersson
Suécia, 1966 – 81 min / legendado em português

Em INLAND EMPIRE, uma atriz prepara-se para o seu maior papel de sempre, mas quando realiza que está a apaixonar-se pelo ator com quem contracena percebe que a sua vida real não é mais do que uma réplica da ficção que ambos estão a filmar. A sua confusão aumenta quando lhe é revelado que o filme em causa é um “remake” de uma velha produção polaca que nunca chegou a ser acabada devido a uma estranha tragédia. PERSONA é o famoso filme de Ingmar Bergman em que uma atriz emudece por razões desconhecidas e procura repouso à beira-mar, na companhia de uma enfermeira. Entre as duas mulheres estabelece-se uma relação de dependência mútua. Num dos seus dramas mais perturbantes, Bergman faz, também, uma revolução na linguagem cinematográfica. PERSONA é apresentado numa cópia digital.

 
23/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Skammen | Era Notte a Roma
duração total da projeção: 240 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
SKAMMEN
“A Vergonha”
de Ingmar Bergman
com Liv Ullmann, Max von Sydow, Sigge Fürst, Gunnar Björnstrand
Suécia, 1968 – 103 min / legendado em espanhol
ERA NOTTE A ROMA
Era Noite em Roma
de Roberto Rossellini
com Leo Genn, Giovanna Ralli, Sergei Bondartchuk, Peter Baldwin
Itália, França, 1960 – 137 min / legendado em espanhol

Durante uma (alegórica) guerra civil, dois músicos apolíticos retiram-se para uma quinta numa ilha rural. É este o ponto de partida de SKAMMEN, que se tornou num dos menos vistos filmes de Bergman. “O filme não trata de uma imensa brutalidade, ou apenas da mediocridade. Não é sobre as bombas, mas sobre a infiltração gradual do medo… mas não é suficientemente preciso. A minha ideia original era mostrar um único dia antes da guerra rebentar” (Ingmar Bergman, 1971). ERA NOTTE A ROMA passa-se durante os meses que precedem a libertação definitiva de Roma pelos aliados, acompanhando a fuga de três soldados de nacionalidades diferentes (um inglês, um americano e um russo), evadidos de um campo de prisioneiros. História de solidariedade, abnegação e sacrifício, que assinala o derradeiro regresso de Rossellini à Itália da Segunda Guerra.
 
30/07/2016, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Herr Arnes Pengar | Il Tempo se è Fermato
duração total da projeção: 200 min | M/12
“O TESOURO DE ARNE” tem acompanhamento ao piano

entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos
HERR ARNES PENGAR
“O Tesouro de Arne”
de Mauritz Stiller
com Mary Johnson, Richard Lund, Hjamer Selander
Suécia, 1919 – 100 min / mudo, com intertítulos em sueco, legendados em português
IL TEMPO SE È FERMATO
de Ermanno Olmi
com Natale Rossi, Roberto Seveso, Paolo Quadrubbi
Itália, 1959 – 100 min / legendado eletronicamente em português

Uma obra-prima, baseada num conto de Selma Lagerlöff, que mostra a que nível artístico o cinema chegara na década dez do século XX. “O TESOURO DE ARNE” tem por cenário a Suécia na Idade Média, contando a história de três evadidos que matam um fazendeiro para se apoderarem de um tesouro e ficam com a fuga cortada pela neve. Inesquecível presença feminina de Mary Johnson e imagens deslumbrantes onde se destacam as cenas do desfile fúnebre final. IL TEMPO SE È FERMATO é a primeira ficção de Olmi, realizado à revelia do produtor, a companhia elétrica Edisonvolta, que supunha que este se encontrava nas montanhas a filmar mais um dos seus documentários sobre barragens e centrais de energia. Centrado num estaleiro deserto onde se interromperam as obras de construção de uma barragem, o filme aborda a relação de amizade que se estabelece na solidão das montanhas entre dois homens, personagens interpretadas por atores não profissionais, cujos gestos e diálogos são captados em som direto e acompanhados por uma câmara sempre atenta às pequenas particularidades do quotidiano. “Desde esse primeiro filme, que tem já a perfeição de uma obra-prima, o método do cineasta aparece em toda a sua maturidade e pureza formal” (Tullio Kezich).