CICLO
Double Bill


As três “double bill” dos sábados à tarde do mês de dezembro – as habituais sessões de um bilhete único para dois filmes – giram em torno do incompreensível dom feminino. “Women are made to be loved, not understood” (Oscar Wilde). Na primeira sessão, Joan Bennett (pela mão de Fritz Lang, em SCARLET STREET) e Jean Simons (pela mão de Otto Preminger, em ANGEL FACE), “almas perversas”, “vidas inquietas” – o abismo, a culpa, a mulheres maléfica. Segue-se um Billy Wilder (KISS ME, STUPID) com um Joshua Logan, BUS STOP – Kim Novak e Marilyn, mulheres “not understood” no seu profundo, incompreendido desejo de sedução. Por último dois Lubitsch, “cineasta tão ligado ao prazer e à carne”: CLUNY BROWN e NINOTCHKA, Jennifer Jones e Greta Garbo. A mais estranha dupla? Ou a mais óbvia?

 
05/12/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Scarlet Street | Angel Face
duração total da projeção: 190 min | M/12
 
12/12/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Strangers when we Meet | Bus Stop
duração total da projeção: 212 min | M/12
19/12/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Double Bill

Cluny Brown | Ninotchka
duração total da projeção: 210 min | M/12
05/12/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Scarlet Street | Angel Face
duração total da projeção: 190 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

SCARLET STREET
Almas Perversas
de Fritz Lang
com Edward G. Robinson, Joan Bennett, Dan Duryea
Estados Unidos, 1945 – 100 min / legendado em português
ANGEL FACE
Vidas Inquietas
de Otto Preminger
com Robert Mitchum, Jean Simmons, Herbert Marshall
Estados Unidos, 1953 – 90 min / legendado em português

SCARLET STREET é a segunda adaptação ao cinema do romance de La Fouchardière, anteriormente adaptado por Jean Renoir em LA CHIENNE. Trata-se da história de um pintor que abandona a mulher e mata a amante num acesso de ciúmes. Lang abandona a faceta realista para acentuar uma sombria incursão pela culpa e pelo peso do destino, numa atmosfera de filme negro. Volta a dirigir Edward G. Robinson e Joan Bennett. “Os dois temas que Lang escolheu para as suas produções Diana [SCARLETT STREET e SECRET BEYOND THE DOOR] giram à volta do assassínio da mulher e da solidão do homem. Sem qualquer complacência, e de algum modo crucificando-se quando envelhece Robinson e o faz ser humilhado por Bennett, insistindo na sua fealdade e na repugnância física que ele lhe inspira” (Bernard Eisenschitz). ANGEL FACE, “o único pesadelo lírico do cinema”, segundo as palavras de Ian Cameron, mostra Jean Simmons como uma jovem da alta burguesia que é um “anjo da morte” e acaba por se destruir a si própria. Sombrio melodrama com conotações psicanalíticas, ANGEL FACE é também uma variação sobre o tema da mulher maléfica, tão presente no cinema americano deste período. Mitchum é o seu amante, um homem que a mulher arrasta para o crime e que é incapaz de dominar a situação.
 

12/12/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Strangers when we Meet | Bus Stop
duração total da projeção: 212 min | M/12
Por motivos imprevistos (o extravio da cópia), não é possível apresentar, como anunciado, o filme KISS ME, STUPID de Billy Wilder. Em sua substituição é exibido STRANGERS WHEN WE MEET (Um Estranho na Minha Vida) de Richard Quine (1960, 117 minutos) numa cópia legendada em português

entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

STRANGERS WHEN WE MEET
Um Estranho na Minha Vida
de Richard Quine
com Kirk Douglas, Kim Novak, Barbara Rush, Walter Matthau
Estados Unidos, 1957 – 117 min / legendado em português
BUS STOP
Paragem de Autocarro
de Joshua Logan
com Marilyn Monroe, Don Murray, Arthur O'Connell, Hope Lange, Betty Field, Eileen Eckhart
Estados Unidos, 1955 – 95 min / legendado em espanhol

 

STRANGERS WHEN WE MEET foi mais um tijolo lançado contra o rígido código de censura da indústria cinematográfica americana, que datava de 1934 e era cada vez mais anacrónico. O filme de Richard Quine, tal como um seu famoso antecessor, PEYTON PLACE, de Mark Robson, explora os tabus sociais, contando um escaldante caso de adultério entre Kirk Douglas e Kim Novak. A fórmula narrativa deste filme serviu de modelo para os soap da televisão americana (Dallas ou Dinasty, por exemplo). BUS STOP parte de uma peça de William Inge adaptada por George Axelrod, sobre um jovem e ingénuo cowboy (Don Murray num papel que lhe valeu uma nomeação para o Óscar), campeão de rodeo, que se apaixona por uma cantora de bar e se resolve a casar com ela… sem lhe perguntar a opinião. O filme que marca o regresso de Marilyn após um ano de ausência e a sua passagem pelo Actors' Studio.
 

19/12/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Double Bill
Cluny Brown | Ninotchka
duração total da projeção: 210 min | M/12
entre a projeção dos dois filmes há um intervalo de 30 minutos

CLUNY BROWN
O Pecado de Cluny Brown
de Ernst Lubitsch
com Jennifer Jones, Charles Boyer, Richard Haydn, Peter Lawford, Una O’Connor
Estados Unidos, 1946 – 100 min / legendado em português | M/12
NINOTCHKA
Ninotchka
de Ernst Lubitsch
com Greta Garbo, Melvyn Douglas, Ina Claire, Bela Lugosi, Sig Ruman
Estados Unidos, 1939 – 110 min / legendado em português | M/6

O último filme de Ernst Lubitsch (o realizador morreu durante a rodagem do seguinte, THAT LADY IN ERMINE, que foi completado por Otto Preminger) é uma obra corrosiva sobre uma jovem canalizadora que, por via da profissão, conhece um escritor polaco por quem se apaixona. Os tradutores portugueses que acrescentaram o “pecado” ao título lá teriam as suas razões. “A entrada desta [Cluny Brown] em casa dos patrões é um dos momentos mais admiráveis do filme, e, provavelmente, poucas obras, mesmo em parâmetros ideológicos que Lubitsch não tinha, nos terão dito tanto sobre o estatuto e relações de classes. […] E quando finalmente Cluny Brown revela ao que vem, a impercetível mudança (mas para ela decisiva) explica, finalmente, pela sua classe, o seu mistério, que é fundamentalmente o mistério do prazer. […] este é o filme de Lubitsch em que a câmara menos se move e em que o vazio ocupa mais lugar. Cineasta tão ligado ao prazer e à carne, é sintomático que tenha terminado filmando o tabu desse prazer e dessa carne, ou o grande escândalo – o pecado – da sua jamais pacífica coexistência” (João Bénard da Costa). NINOTCHKA é o filme que foi lançado com o slogan “Garbo ri!”. O filme de Lubitsch é uma prodigiosa sátira antissoviética, que transforma Greta Garbo numa insípida agente comunista que se deixa seduzir pelos encantos do capitalismo – as noites de Paris, o champanhe, os trajes elegantes e o amor de Melvyn Douglas.