CICLO
Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur


Nas “Histórias do Cinema” de março, Miguel Marías vem à Cinemateca apresentar uma seleção de cinco filmes de Jacques Tourneur dos anos quarenta e do início da década seguinte. Esta rubrica regular da programação assenta na ideia de um binómio, para cinco tardes e em torno de cinco filmes (ou em cinco sessões, com número variável de obras projetadas): dum lado, um investigador de cinema – historiador, crítico, ensaísta, podendo também tratar-se de realizador ou técnico, por exemplo; de outro, um autor ou um tema histórico abordado pelo primeiro. O investigador discorre e conversa sobre o tema numa sequência de encontros que são antes de mais pensados como uma experiência cumulativa.
De Jacques Tourneur, iniciado na realização em francês (TOUT ÇA NE VAUT PAS L’AMOUR, 1931) e na longa-metragem para a MHM (THEY ALL COME OUT, 1939), mas de que é sobejamente conhecido o feliz encontro com o lendário produtor Val Lewton e o tríptico “fantástico” (CAT PEOPLE, I WALKED WITH A ZOMBIE, THE LEOPARD MAN, 1942/43), Marías escolheu apresentar apenas este último, dos três “o menos” notabilizado mas nem por isso “menos negro”. A fascinante obra de Tourneur, “arrumado” na série B pela história do cinema e que não tem cessado de encontrar dedicados cultores que sabem como as “categorias” pouco dizem sobre os seus fabulosos filmes, associa-se comumente ao noir (OUT OF THE PAST), mas como mostra a seleção de Marías, também foi western (CANYON PASSAGE, mas também STARS IN MY CROWN ou WICHITA), “fábula política” e “filme de ruínas “ (BERLIN EXPRESS), “filme de aventuras” e piratas (ANNE OF THE INDIES).
Miguel Marías, presença regular na Cinemateca onde ainda recentemente apresentou uma série de filmes no programa “O Cinema à Volta de Cinco Artes, Cinco Artes à Volta do Cinema”, foi o terceiro protagonista da primeira edição das “Histórias do Cinema”, em novembro de 2011, onde apresentou cinco filmes de Buñuel, a cuja obra aqui dedicou também uma conferência em 2013. Economista de formação, Miguel Marías exerce crítica de cinema desde 1966 em diversas revistas especializadas (Nickel Odeon, Gran Ilusión, Dirigido, Dirigido Por…, Estrenos, Nosferatu), na imprensa escrita, radiofónica e televisiva, e em revistas na Internet como Senses of Cinema, Rouge, Undercurrent ou Foco. Entre 1986 e 1988 foi diretor da Filmoteca Española e, nos dois anos seguintes, diretor geral do Instituto de Cinema Espanhol. Para além de desenvolver atividade como tradutor, tem colaborado em diversas obras coletivas e é autor de livros sobre as obras de Manuel Mur Oti (Manuel Mur Oti: As Raízes do Melodrama, editado pela Cinemateca Portuguesa, 1992), Leo McCarey (Leo McCarey: Sonrisas y Lágrimas, ed. Nickel Odeón, 1999), Jacques Tati ou Sin Perdón (Unforgiven)/Manhattan (ed. Dirigido por…, 1995). Desde há alguns anos prepara Outro Buñuel e um livro sobre Otto Preminger.
 

sessões-conferência | apresentadas e comentadas por Miguel Marías
as intervenções de Miguel Marías são feitas em espanhol, sem tradução simultânea

INFORMAÇÃO SOBRE AS SESSÕES E VENDA ANTECIPADA DE BILHETES
Para esta rubrica, a Cinemateca propõe um regime de venda de bilhetes específico, fazendo um preço especial e dando prioridade a quem deseje seguir o conjunto das sessões. Assim, quem deseje seguir todas as sessões (venda exclusiva para a totalidade das sessões, máximo de duas coleções por pessoa) poderá comprar antecipadamente a sua entrada pelo preço global de € 22 (Estudantes, Cartão Jovem, Maiores de 65 anos, Reformados: € 12 – Amigos da Cinemateca, Estudantes Cinema, Desempregados: € 10) entre 16 e 21 de março. Os lugares que não tenham sido vendidos serão depois disponibilizados através do normal sistema de venda no próprio dia de cada sessão, no horário de bilheteira habitual e de acordo com o preço específico destas sessões, € 5 (Estudantes, Cartão Jovem, Maiores de 65 anos, Reformados: € 3 – Amigos da Cinemateca, Estudantes Cinema, Desempregados: € 2,60).
 

 

 

 
23/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur

THE LEOPARD MAN
O Homem Leopardo
de Jacques Tourneur
Estados Unidos, 1943 - 65 min
 
24/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur

CANYON PASSAGE
Amor Selvagem
de Jacques Tourneur
Estados Unidos, 1946 - 92 min
25/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur

OUT OF THE PAST
O Arrependido
de Jacques Tourneur
Estados Unidos, 1947 - 96 min
26/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur

BERLIN EXPRESS
O Expresso de Berlim
de Jacques Tourneur
Estados Unidos, 1948 - 86 min
27/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur

ANNE OF THE INDIES
A Rainha dos Piratas
de Jacques Tourneur
Estados Unidos, 1951 - 81 min
23/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur
THE LEOPARD MAN
O Homem Leopardo
de Jacques Tourneur
com Dennis O’Keefe, Margo, Jean Brooks, James Bell
Estados Unidos, 1943 - 65 min
legendado em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Miguel Marías

as intervenções de Miguel Marías são feitas em espanhol, sem tradução simultânea

THE LEOPARD MAN é um pioneiro de um género: o dos serial-killers psicopatas. Só que um filme destes, feito por Tourneur, em nada se compara com os que vieram depois. Como nos outros filmes feitos para Val Lewton, tudo se coloca sob o signo da sugestão, das sombras e do medo, sem necessidade de exposição, sem que veja o monstro nem os seus crimes. O pano de fundo é uma pequena cidade do México onde decorre uma série de horríveis mortes que, devido às características das feridas, são atribuídas a um leopardo. “Com este desfilar de medos e de culpas alinham as simetrias e as rimas narrativas e visuais. Se o filme procede por interrupções – os aparentes desvios para as histórias paralelas de cada uma das vítimas –, a sua consistência é bastante mais funda. E como se disse, bastante subterrânea. Como o medo e como a culpa” (Maria João Madeira).

24/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur
CANYON PASSAGE
Amor Selvagem
de Jacques Tourneur
com Dana Andrews, Susan Hayward, Brian Donlevy, Ward Bond
Estados Unidos, 1946 - 92 min
legendado em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Miguel Marías

as intervenções de Miguel Marías são feitas em espanhol, sem tradução simultânea

Magnífico western sobre uma história de interesses e paixões rivais, situada entre pioneiros no Oregon e pondo em conflito dois amigos que acabam separados pelo ouro e por uma mulher. Dana Andrews tem um dos seus melhores papéis neste filme, em que Tourneur, mestre da série B, teve meios mais importantes à sua disposição e pôde filmar num belíssimo Technicolor. “Tourneur aplica ao western as mesmas regras que usou na abordagem dos filmes de terror: um desvio da estrada principal do género para percorrer insólitos e estranhos atalhos que têm a ver com a memória e a sugestão, que transfigura no olhar do espectador as imagens realistas que a câmara capta” (Manuel Cintra Ferreira).

25/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur
OUT OF THE PAST
O Arrependido
de Jacques Tourneur
com Robert Mitchum, Jane Greer, Kirk Douglas, Rhonda Fleming
Estados Unidos, 1947 - 96 min
legendado em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Miguel Marías

as intervenções de Miguel Marías são feitas em espanhol, sem tradução simultânea

Grande clássico do cinema americano dos anos quarenta, OUT OF THE PAST é um dos mais famosos filmes de Tourneur e de Robert Mitchum, para cuja carreira contribuiu definitivamente. Mitchum interpreta a figura de um homem que tenta refazer a sua vida, mas é agarrado pelo passado. Obra-prima do filme negro, OUT OF THE PAST joga, como poucos, na atmosfera e nos contrastes entre a luz e a sombra, o dia e a noite. “OUT OF THE PAST é uma síntese admirável de todos os temas e formas do filme negro […] progride da luz para as trevas da mesma forma inelutável como Jeff Bailey é arrastado para o fim” (Manuel Cintra Ferreira).

26/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur
BERLIN EXPRESS
O Expresso de Berlim
de Jacques Tourneur
com Merle Oberon, Robert Ryan, Charles Korvin
Estados Unidos, 1948 - 86 min
legendado em português | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Miguel Marías

as intervenções de Miguel Marías são feitas em espanhol, sem tradução simultânea

Singularíssimo filme sobre a Alemanha do pós-guerra. Nazis na clandestinidade raptam um político alemão essencial para o processo de reconstrução. Oficiais e civis das nações aliadas e das diversas zonas de ocupação unem forças para o libertarem. Além do suspense, onde brilha a mão de Tourneur, BERLIN EXPRESS é, como A FOREIGN AFFAIR de Billy Wilder, um espantoso documento sobre uma cidade em ruínas, que procura reencontrar a personalidade destruída. “O filme tem sobretudo a marca de Tourneur, com a sua mise-en-scène convexa, em surdina, o magistral uso da voz off como evocação do presente e não do passado e o facto de ao mesmo tempo ilustrar um género e escapar desse género” (Antonio Rodrigues).

27/03/2015, 18h00 | Sala Luís de Pina
Histórias do Cinema: Miguel Marías / Jacques Tourneur
ANNE OF THE INDIES
A Rainha dos Piratas
de Jacques Tourneur
com Jean Peters, Louis Jourdan, Debra Paget, Herbert Marshall, James Robertson Justice
Estados Unidos, 1951 - 81 min
legendado em espanhol | M/12
sessão-conferência | apresentada e comentada por Miguel Marías

as intervenções de Miguel Marías são feitas em espanhol, sem tradução simultânea

Anne Bonney, a mulher pirata, é o terror das Caraíbas. Mas nesta belíssima e movimentada aventura de Tourneur é, também, uma mulher que se deixa “derrotar” pelo coração ao apaixonar-se por um oficial francês que acaba por trai-la. No confronto final com o terrível Barba-Negra (interpretado por Thomas Gomez) Anne Bonney sacrifica-se para salvar o homem que amou. “É também um dos mais complexos filmes que Tourneur filmou, para lá da sua aparente simplicidade de ‘filme de aventuras’. […] Para lá do simples filme de aventuras dedicado à infância, o filme de piratas pode ser também espaço para uma atenta análise sobre a infância e a adolescência, das suas crises e fantasmas, dos seus sonhos secretos ‘bons’ e ‘maus’. Só mais dois filmes o souberam entender: MOONFLEET de Fritz Lang e A HIGH WIND IN JAMAICA de Alexander Mackendrick” (Manuel Cintra Ferreira).