07/02/2015, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
KISS ME, STUPID
Beija-me, Idiota
de Billy Wilder
com Dean Martin, Kim Novak, Ray Walston, Felicia Farr
Estados Unidos, 1964 – 124 min / legendado em espanhol
NOTRE MUSIQUE
A Nossa Música
de Jean-Luc Godard
com Jean-Luc Godard, Sarah Adler, Rony Kramer
França, Suíça, 2004 – 80 min / legendado em português
Obra da penúltima fase da carreira de Billy Wilder, a menos respeitada, a que veio depois de SOME LIKE IT HOT, quando na Europa os tempos eram já de Novas Vagas e Hollywood se abeirava de uma mudança. É uma comédia e um filme desesperado, desenganado. Vienense, judeu que andou por Berlim onde, disse ele, I was a gigolo, Billy Wilder é homem que filma a América sem ilusões. Nem lirismo. O que viu da humanidade (STALAG 17) chega-lhe para nunca mais acreditar em ninguém. Em KISS ME, STUPID o tom é (aparentemente) ligeiro, a irrisão imensa, assim como a capacidade do sentido de humor. Evocação de Sarajevo, onde a cidade se “abre” para uma conotação simbólica humanista. Dividido em três partes (“Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso”), NOTRE MUSIQUE é uma reflexão, vibrante e desencantada, sobre “os nossos tempos”, e sobre os conflitos que os rasgam (aos “nossos tempos”). Em fundo, o cinema: “alguma vez foi picado por uma abelha morta?”, pergunta que já vinha dos tempos de NOUVELLE VAGUE (1990) e repete a de Walter Brennan, em 1944, em TO HAVE AND HAVE NOT, de Hawks. Não é pergunta que se faça em KISS ME, STUPID, o filme que tem Dean Martin no seu próprio papel aceitando brincar descaradamente com a sua imagem pública, de playboy e cantor de sucesso mas ultrapassado pelos anos que eram já os do rock e dos Beatles. Aproximáveis na ferocidade, mas também pelo trabalho com a elipse (por diferente que seja num e noutro). KISS ME, STUPID progride ao som de canções. Em NOTRE MUSIQUE há apenas uma, de caserna, no segmento do “paraíso”, delimitado por arame farpado sob a vigilância militar americana. É também o filme em que Godard discorre, em Sarajevo – no “purgatório” – sobre o campo e o contracampo, enuncia o princípio do cinema como o de “ir ao encontro da luz e dirigi-la para a nossa noite. A nossa música.” E onde, em contraluz e em contracampo responde com silêncio à pergunta “Sr. Godard, acha que as novas pequenas câmaras digitais poderão salvar o cinema?”