CICLO
Abril


Vinte e nove sessões deste mês evocam outro abril, voltando à realidade das salas de cinema em 1974 (Estreias em 1974), a filmes produzidos por cooperativas (Filmes das Cooperativas; Do Centro Português de Cinema), e a imagens da Revolução (Imagens e Canções de Abril). Em 1974 foram muitas as estreias comerciais que encheram as salas de cinema portuguesas. Houve estreias míticas como a de POTIOMKINE, que chegou aos ecrãs com JAIME de António Reis, provocando longas filas à porta do cinema Império depois de muitos anos de interdição (estendida a todo o cinema soviético). Outras mais discretas envolveram títulos que não haviam antes sido apresentados aos censores, com a certeza da recusa, mas também filmes que, nesse ano de 74, seguiam o seu curso natural. Dezassete delas são convocadas ao longo de um programa que conta com Buñuel, Jesus Franco, Wilder ou Bresson, terminando com O EXORCISTA.
Um olhar para o cinema do pós-25 de abril de 1974 exige uma atenção particular ao cinema das cooperativas e de outros coletivos cinematográficos criados em Portugal, como a Cinequanon, a Cinequipa, o Grupo Zero, a Unidade de Produção Cinematográfica nº1, ou o Centro Português de Cinema (CPC), que conheciam um período de grande efervescência. Se alguns já existiam antes da revolução, outros surgiram para responder diretamente às questões levantadas pela rapidez dos acontecimentos, e mais concretamente à urgência de um cinema militante e de intervenção. Entre as cooperativas mais ativas durante o PREC encontravam-se a Cinequanon e a Cinequipa. A primeira nasceu no início de 1974 impulsionada por um grupo de trabalhadores do ramo que defendiam novas estruturas para a produção cinematográfica. Uma intenção inicial de realizar “filmes de fundo de ficção”, no 25 de abril transformou-se em filmes de intervenção política e social, destinados maioritariamente à televisão. Do mesmo modo, a Cinequipa intensificou nessa altura a sua produção, que se diversificou em inúmeras séries para a RTP e em filmes essencialmente documentais de registo militante. A extensa implantação da televisão fazia dela aos olhos de muitos o meio mais adequado para agir face ao momento que o país atravessava, e é neste contexto que se inserem muitos dos títulos apresentados este mês. A par de um conjunto de filmes politizados, que acompanhavam os acontecimentos do quotidiano do Portugal revolucionário, estruturas cooperativas como o Centro Português de Cinema continuavam a produzir longas-metragens de diferente fôlego, como TRÁS-OS-MONTES, de António Reis e Margarida Cordeiro, programado neste contexto a título de exemplo da produção do CPC nesses anos. Para além dele, aqui se reúne uma amostra dos filmes produzidos no período pós-revolucionário em que o real se afirma em toda a sua dimensão. Com raras exceções, a grande maioria nunca foi vista ou foi pouco mostrada na Cinemateca. Dos “Filmes das Cooperativas”, boa parte das cópias a exibir é de época e tem sinais de desgaste. Trata-se na maioria dos casos de títulos não preservados da coleção que nos pareceu oportuno apresentar nesta ocasião.
O programa conclui com duas sessões especiais: a véspera da celebração dos 39 anos da Revolução é assinalada por 25 CANÇÕES DE ABRIL e encerramos com a recapitulação dos primeiros dias da Revolução (CRAVOS DE ABRIL) e imponentes pinturas murais filmadas por Ana Hatherly.
 

 
01/04/2013, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo Abril

Jaime | Bronenosets Potiomkine
duração total da sessão: 109 min
 
01/04/2013, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Abril

Teatro em Borba | Teatro Popular – Beira Baixa
duração total da sessão: 57 min
01/04/2013, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo Abril

Hiroshima Mon Amour
Hiroshima Meu Amor
de Alain Resnais
França, 1959 - 89 min
01/04/2013, 22h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Abril

Letjat Zuravli
Quando Passam as Cegonhas
de Mikhail Kalatozov
URSS, 1957 - 94 min
02/04/2013, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Ciclo Abril

Irma La Douce
Irma La Douce
de Billy Wilder
Estados Unidos, 1963 - 142 min
01/04/2013, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Abril
Jaime | Bronenosets Potiomkine
duração total da sessão: 109 min
Estreados em 1974

JAIME
de António Reis
Portugal, 1974 – 35 min
BRONENOSETS POTIOMKINE
O Couraçado Potemkine
de Sergei M. Eisenstein
com Aleksander Antonov, Grigori Alexandrov, Vladimir Barsky
URSS, 1925 – 74 min / mudo, com intertítulos em russo, traduzidos em português

Um dos primeiros trabalhos do poeta do cinema português, JAIME irrompeu na cinematografia portuguesa em 1974 como um gesto único de solidez e força instintiva. O máximo de originalidade com o máximo de modernidade. Na primeira metade dos anos vinte, a União Soviética conheceu um extraordinário florescimento artístico, em todos os domínios, com obras duplamente de vanguarda: do ponto de vista formal e do ponto de vista político. O COURAÇADO POTEMKINE é, sem dúvida, a mais célebre destas obras. Pondo em prática as suas teorias sobre a montagem, elemento fundamental em todo o cinema de vanguarda, Eisenstein fez deste filme de encomenda sobre a Revolução de 1905 um momento absolutamente eletrizante, com a mais célebre sequência da história do cinema: o massacre na escadaria de Odessa. A apresentar na versão musicada com trechos de Chostakovich, organizada por Naum Kleiman, grande especialista da obra de Eisenstein. Estreados no Império a 19 de maio de 1974, com distribuição Animatógrafo.
 

01/04/2013, 19h30 | Sala Luís de Pina
Abril
Teatro em Borba | Teatro Popular – Beira Baixa
duração total da sessão: 57 min
Filmes das Cooperativas

com a presença de Fernando Matos Silva e António de Macedo

TEATRO EM BORBA
 de Cinequipa
Portugal, 1975 – 24 min

TEATRO POPULAR – BEIRA BAIXA
de António de Macedo

Portugal, 1975 – 33 min


Dois filmes de registo militante produzidos pela Cinequipa (com realização não creditada de Manuel Costa e Silva) e Cinequanon que correspondem a encenações teatrais muito particulares, em que a atualidade política nacional é levada ao palco por atores amadores. TEATRO POPULAR é um documentário extremamente inteligente que mostra uma peça encenada e interpretada por trabalhadores da Quinta da Vargem, em Unhais da Serra, em que se representa o processo de luta e a consequente ocupação da herdade em que trabalham. Em TEATRO EM BORBA os alunos da Escola D. Maria I levam à cena um espetáculo baseado no passado recente e na sua experiência local e nacional. Se TEATRO POPULAR foi mostrado pela primeira vez na retrospetiva dedicada a António Macedo, TEATRO EM BORBA é uma estreia na Cinemateca.
 

01/04/2013, 21h30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Abril
Hiroshima Mon Amour
Hiroshima Meu Amor
de Alain Resnais
com Emmanuelle Riva, Eiji Okada
França, 1959 - 89 min
legendado em português
Estreados em 1974

Com a lembrança do bombardeamento de Hiroshima em fundo, uma atriz francesa evoca, através do seu amor por um japonês, uma paixão condenada do passado: a relação com um oficial alemão durante a ocupação de França na Segunda Guerra. Viagem pelo tempo e pela memória, o desejo e a impossibilidade do esquecimento, com argumento de Marguerite Duras. Grande êxito no Festival de Cannes de 1959, o mesmo que consagrou LES 400 COUPS. Estreado no Império a 27 de abril de 1974, com distribuição Filmes Castello Lopes.

01/04/2013, 22h00 | Sala Luís de Pina
Abril
Letjat Zuravli
Quando Passam as Cegonhas
de Mikhail Kalatozov
com Tatyana Samojlova, Aleksey Batalov, Vasili Merkuryev, Aleksandr Shvorin
URSS, 1957 - 94 min
legendado em português
Estreados em 1974

Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1958, LETJAT ZURAVLI é uma obra que, desde a sua estreia, conquistou inúmeros admiradores. Realizado por um grande apreciador de Frank Borzage e de King Vidor, relata-nos a história de um jovem casal, separado pela Segunda Guerra Mundial. LETJAT ZURAVLI destaca-se de grande parte os filmes soviéticos de então pela forma direta como retrata o conflito. Estreado no Londres a 31 de janeiro de 1974, com distribuição Filmes Castello Lopes.

02/04/2013, 19h00 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Abril
Irma La Douce
Irma La Douce
de Billy Wilder
com Shirley MacLaine, Jack Lemmon, Lou Jacobi
Estados Unidos, 1963 - 142 min
legendado em português
Estreados em 1974

Proibido em Portugal até ao 25 de abril, IRMA LA DOUCE foi também um “caso” no seu país de origem. Apesar de já se estar em 1963 e de a censura andar a ser “batida” aos pontos por realizadores rebeldes, a forma como se representaram as prostitutas a trabalhar, sem eufemismos para a profissão, foi considerada demasiada audaciosa. Mas todo o filme joga tanto com o que é mostrado como com o que é elidido. IRMA LA DOUCE, uma das mais divertidas, irreverentes e provocantes comédias de Wilder, foi outro “prego” no caixão do código de censura, com Shirley MacLaine num dos papéis da sua vida, e Jack Lemmon inesquecível na figura do polícia-chulo. Estreado no São Jorge a 27 de junho de 1974, com distribuição Rank.