CICLO
Que Farei Eu com Esta Espada?


A fechar o programa com que celebrámos ao longo de todo o ano o 50º aniversário do 25 de Abril apresentamos as derradeiras propostas de filmes para concluir os eixos dedicados às ideias de “Comunidade” e de “Futuro”.
 
COMUNIDADE  O que pode uma comunidade? A resposta, procurámo-la ao longo destes meses de 2024 em filmes de King Vidor, John Ford, Robert Flaherty, Pelechian, Shinsuke Ogawa, Manoel de Oliveira, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Cecilia Mangini, etc. etc. etc. Procurámo-la em obras que, de diferentes formas, espelham uma ideia ou ideias de comunidades fortes. Contrariando o enfraquecimento das comunidades tradicionais, insistimos nestas comunidades retratadas ou mesmo constituídas pelo cinema, que, nas suas diferentes configurações, envolvem uma realidade partilhada com outros, o estabelecer de laços próprios do viver em comum. No fecho do programa em dezembro, a ideia de comunidade conjuga-se com dez filmes que cruzam vozes distintas para equacionar a questão: convocam-se comunidades rurais ou citadinas, comunidades de sábios, de trabalhadores, comunidades de mulheres, ou as comunidades em formação que presidem ao cinema de Jacques Tourneur. Comunidades reais ou imaginárias, mas também imaginadas por aqueles que delas fazem parte, envolvendo um necessário sentimento de pertença, cimentado pelo cinema.

FUTURO  Era o alemão Siegfried Kracauer quem, no seu clássico de 1960 Theory of Film: The Redemption of Physical Reality, enaltecia a capacidade intrínseca ao cinema de capturar “o fluxo da vida”, isto é, a vida no seu continuum e em todas as suas manifestações, transformações ou mudanças. Os filmes deste programa enaltecem a possibilidade de o cinema ser uma janela para o mundo, comprimindo o tempo como poucas artes conseguem. Toda uma vida ou uma “fatia de vida” vertida numa longa-metragem é a proposta de obras tão díspares como as assinadas por Paul Almond, Michael Apted, Hiroshi Shimizu, Terrence Malick e Richard Linklater. Todavia, se o cinema tem, de facto, essa capacidade de comprimir o tempo, fazendo-nos viajar nele ou através dele em “lampejos de vida”, a escola é um espaço privilegiado, porque concentracionário, para se antecipar, perspetivar ou “fabricar” o futuro: os dois documentários de Wiseman e a ficção de raiz documental do recentemente falecido Laurent Cantet falam-nos de jovens perante professores, professores perante jovens, uma comunidade lidando com a possibilidade de um futuro em que os pupilos não sejam meros “corpos com funções”, mas pessoas inteiras e com sonhos, aptas a não se deixarem afogar no “fluxo da sociedade”.

 
 
02/12/2024, 16h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

Kiri No Oto
O Som do Nevoeiro
de Hiroshi Shimizu
Japão, 1956 - 84 min
 
02/12/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

High School
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 1968 - 75 min
03/12/2024, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

The Tree of Life
A Árvore da Vida
de Terrence Malick
Estados Unidos, 2011 - 138 min
03/12/2024, 18h00 | Sala Luís de Pina
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

High School II
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 1994 - 220 min
03/12/2024, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo Que Farei Eu com Esta Espada?

Seven Women
Sete Mulheres
de John Ford
Estados Unidos, 1966 - 85 min
02/12/2024, 16h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
Kiri No Oto
O Som do Nevoeiro
de Hiroshi Shimizu
Japão, 1956 - 84 min
legendado em português | M/12
Uma história de amor maior do que a vida liga um homem a uma mulher ao longo do tempo nesta obra-prima de Hiroshi Shimizu, um dos segredos mais bem guardados na História do cinema clássico japonês. Na origem, está um desencontro sentimental entre um homem casado e a sua amante que, ao se aperceber dos estragos provocados no casamento daquele, bruscamente interrompe a relação. Se há desencontro no amor, há um encontro insistente e persistente com a paisagem: uma cabana no coração dos Alpes japoneses, onde a memória vai reacender o amor antigo. “Apesar da ciclicidade estrutural e narrativa de O SOM DO NEVOEIRO, Shimizu parece acreditar – com o plano de abertura e de fecho que encerram o filme numa total circularidade – na máxima heraclitiana da univocidade do tempo: nenhum homem se pode banhar duas vezes no mesmo rio” (Ricardo Vieira Lisboa, À pala de Walsh). Primeira apresentação na Cinemateca. A exibir em cópia digital.
 
02/12/2024, 19h30 | Sala Luís de Pina
Que Farei Eu com Esta Espada?
High School
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 1968 - 75 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Filmado ao longo de cinco semanas em 1968, HIGH SCHOOL retrata o quotidiano de um grupo de estudantes no Northeast High School de Filadélfia, Pensilvânia. O filme documenta o modo como o sistema escolar existe não apenas assente em “factos” mas também para transmitir valores sociais de geração em geração. Fazendo parte do ambicioso projeto de Wiseman de representação das grandes instituições americanas, HIGH SCHOOL apresenta uma série de encontros entre professores, estudantes, encarregados de educação e administradores do liceu em causa.
 
03/12/2024, 15h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
The Tree of Life
A Árvore da Vida
de Terrence Malick
com Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chastain, Fiona Swaw
Estados Unidos, 2011 - 138 min
legendado eletronicamente em português | M/12
Um filme que acompanha a existência de Jack (Hunter McCracken enquanto jovem, Sean Penn em adulto) desde o seu nascimento, nos anos 1950, até à idade adulta, da perda da inocência ao cinismo de um homem maduro. Jack, o mais velho de três irmãos, cresce dividido entre duas visões divergentes da realidade: o autoritarismo de um pai, ambicioso e descrente (Brad Pitt), com quem vive em perpétuo conflito, e a generosidade e candura de uma mãe (Jessica Chastain), que lhe dá conforto e segurança. Refletindo sobre a origem do universo e de como a tragédia da vida de um ser humano pode ser tão diminuta quando vista a uma escala global, THE TREE OF LIFE (Palma de Ouro em Cannes) é exemplo maior do lirismo do cinema de Malick: "Perante uma obra destas, perante a sua incomensurável beleza, e sobretudo numa primeira visão, a primeira coisa que se pede (ou melhor, se exige) ao espectador é que abra os olhos, ouvidos e todos os demais sentidos (...) e deguste, desfrute o que vai ver e ouvir durante 138 minutos" (João Pedro Bénard).
 
03/12/2024, 18h00 | Sala Luís de Pina
Que Farei Eu com Esta Espada?
High School II
de Frederick Wiseman
Estados Unidos, 1994 - 220 min
legendado eletronicamente em português | M/12
26 anos depois de HIGH SCHOOL, somente a sua segunda longa-metragem, Frederick Wiseman lançou uma sequela desenrolada numa escola etnicamente diversa, em que a educação se cumpre num regime de intensa interação entre professores, estudantes e pais. No primeiro HIGH SCHOOL, o assunto da guerra no Vietname acabava aflorado pela diretora da escola, na Pensilvânia, num discurso autogalvanizador que, para algumas sensibilidades, denunciava tudo o que estava errado no sistema de ensino americano. No segundo filme e nesta segunda escola, localizada no Spanish Harlem, o tema candente é outro – o assassínio de Rodney King às mãos da polícia – e implica os professores numa crescente consciencialização política, presente na própria prática pedagógica, expondo, enfim, os seus riscos e promessas. A exibir em cópia digital.
 
03/12/2024, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Que Farei Eu com Esta Espada?
Seven Women
Sete Mulheres
de John Ford
com Anne Bancroft, Margaret Leighton, Sue Lyon, Flora Robson, Mildred Dunnock, Anna Lee, Betty Field, Eddie Albert, Mike Mazurky
Estados Unidos, 1966 - 85 min
legendado em português | M/12
O último filme de John Ford é também dos mais importantes, expondo, com inesperado vigor, aquilo que esteve sempre mais ou menos presente na sua obra: uma atmosfera sensual, marcada pelos estigmas do recalcamento sexual, que no caso se manifesta perante a intrusão de um elemento estranho: a uma missão religiosa, composta por mulheres, na China sujeita aos horrores da guerra civil de meados dos anos 1930 (filmada em grande parte na claustrofobia do espaço interior da missão), chega uma médica não crente (Anne Bancroft, numa das suas melhores criações) cuja maneira de ser vai marcar decisivamente os acontecimentos e as demais personagens – “Tudo o que faço, faço em excesso.”