CICLO
As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia


Depois dos Ciclos sobre a obra de Otar Iosseliani (em 2006) e da grande retrospetiva sobre o cinema georgiano em colaboração com o Doclisboa (em 2020), a Cinemateca volta a dedicar um programa ao riquíssimo cinema da Geórgia, mais concretamente a um dos cineastas mais amados no seu país (ainda que menos divulgados internacionalmente). Nascido em 1933 e ainda em atividade, Eldar Chenguelaia pertence a uma dinastia de cineastas. O seu pai, Nikolai Chenguelaia (1901-43) foi um destacado realizador na importante cinematografia da Geórgia, conhecido sobretudo por DVADTSAT SHEST KOMISSAROV/“OS 26 COMISSÁRIOS” (1932), que se tornou um clássico. O seu irmão mais novo Giorgi também é realizador (PIROSMANI, 1969) e é inclusive mais conhecido além-fronteiras do que ele. A sua mãe, Nato Vashnadé era uma conhecida atriz. Eldar Chenguelaia estudou cinema em Moscovo, onde foi aluno de Sergei Yutkevitch, diplomando-se em 1958. Ele próprio seria professor no Instituto Rustabelli em Tbilissi durante muitos anos, a partir de 1976. Após a obtenção do seu diploma, correalizou em Moscovo com Alexei Sakharov dois filmes inspirados em motivos de contos de fadas, LEGENDA OLEDYAROM SERDTSE/“A LENDA DO CORAÇÃO DE GELO” e SNEJNAYA SKAZKA/“CONTO DE FADAS NA NEVE”. Em 1960 regressa a Tbilissi e três anos depois correaliza com Tamaz Meliava TETRI KARAVANI/“A CARAVANA BRANCA”, apresentado no Festival de Cannes, um filme extremamente intenso e pensado, formalmente pouco convencional, típico do melhor cinema soviético num período de renovação em que surgiam muitos novos nomes em diversas repúblicas. Eldar Chenguelaia chama definitivamente a atenção sobre o seu nome com a primeira longa-metragem que realiza sozinho, ARACHVEULEBRIVI GAMOPENA/“UMA EXPOSIÇÃO INSÓLITA”, sobre um frustrado escultor, filme que também é uma sátira social velada, repleta de discreto humor. É a partir deste filme que, segundo a análise de Jean Radvany, “começa a fusionar o convencional e o natural, o folclore e a vida contemporânea, o burlesco e o trágico, a fantasia solta e a ironia”, abandonando por algum tempo os temas trágicos em favor de um cinema de teor satírico e de imaginação, em filmes como SHERELIKEBI/“OS EXCÊNTRICOS” e SAMANISHVILIS SESINATSAVALI/“A MADRASTA SESINATSAVALI”. A narrativa dos seus filmes é indireta, oblíqua, como era costume em grande parte do cinema soviético e a fantasia intervém sempre nas aventuras dos seus protagonistas. Esta veia do seu cinema, que tem grande força visual e dinamismo, continua no seu filme mais conhecido além-fronteiras, TSIPERI MTEBI/“AS MONTANHAS AZUIS”, de 1985, sátira da burocracia realizada no início do período Gorbatchev. Depois deste filme, o seu cinema conheceu uma longa pausa e Eldar Chenguelaia só voltou à realização em 2016 com KAVKAZSKOE TRIO/“O TRIO DO CÁUCASO”. O seu trabalho mais recente, de 2022, é um tríptico formado por três curtas-metragens, MRAVALJAMIER/“LONGA VIDA”. Por decisão pessoal do realizador a retrospetiva que apresentamos não será integral: ficaram de fora os dois filmes dos seus começos, que nunca incluiu nas suas filmografias (“A LENDA DO CORAÇÃO DE GELO” e “CONTO DE FADAS NA NEVE”, além de DOG ROSE, de 1996, e EXPRESS-INPORMATSIA, 1994), com os quais o realizador nunca se considerou satisfeito e que por este motivo não foi restaurado para esta retrospetiva, além do relativamente recente KAVKAZKOE TRIO/“O TRIO DO CÁUCASO”. A partir dos anos 60, período que trouxe grandes mudanças no cinema em muitos países, inclusive na União Soviética, o cinema da Geórgia foi um dos que mais se destacou na então URSS, com nomes como Otar Iosseliani, Mikhail Kobahidzé, Georgui Danelia e os irmãos Chenguelaia. Acompanhar este ciclo de autor, em que seis dos oito programas apresentados são do período soviético, por ocasião do nonagésimo aniversário de nascimento de Eldar Chenguelaia, também será uma ocasião para conhecer um pouco mais de uma rica e original cinematografia nacional, antes e depois da independência da Geórgia. À exceção de TSIPERI MTEBI ANIJ SAUJEBERELI AMBAVI (“AS MONTANHAS AZUIS OU UMA HISTÓRIA INACREDITÁVEL”) e de ARACHVEULEBRIVI GAMOPENA (“UMA EXPOSIÇÃO INSÓLITA”) todos os restantes filmes do programa são primeiras apresentações na Cinemateca, sendo exibidos em versões digitais restauradas pelo Georgian National Film Center. 
 
 
01/06/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia

Tsiperi Mtebi Anij Saujebereli Ambavi
“As Montanhas Azuis ou Uma História Inacreditável”
de Eldar Chenguelaia
URSS, 1983 - 95 min
 
02/06/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia

Tetri Karavani
“A Caravana Branca”
de Eldar Chenguelaia, Tamaz Meliava
URSS, 1963 - 93 min
02/06/2023, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia

Miqela
“Mikela”
de Eldar Chenguelaia
URSS, 1964 - 45 min
03/06/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia

Arachveulebrivi Gamopena
“Uma Exposição Insólita”
de Eldar Chenguelaia
URSS, 1968 - 93 min
05/06/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
Ciclo As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia

Sherekilebi
“Excêntricos”
de Eldar Chenguelaia
URSS, 1974 - 79 min
01/06/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia
Tsiperi Mtebi Anij Saujebereli Ambavi
“As Montanhas Azuis ou Uma História Inacreditável”
de Eldar Chenguelaia
com Ramaz Giorgobiani, Vasil Kakhniashvili, Taimuraz Chirgadze
URSS, 1983 - 95 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
Sessão com apresentação
Como outro filme apresentado neste Ciclo, ARACHVEULEBRIVI GAMOPENA/“UMA EXPOSIÇÃO INSÓLITA”, AS MONTANHAS AZUIS narra a história de uma frustração perpétua no interior do sistema burocrático soviético. Um jovem escritor tenta publicar um livro e leva o manuscrito a uma editora. Mas o tempo passa e nenhum membro da editora parece ter tempo para ler o manuscrito, em parte porque estão às voltas com trabalhos anexos que nada têm a ver com a edição de livros e tomam-lhes muito tempo. O simples facto de o manuscrito ter dois títulos é transformado num problema e todos argumentam a dificuldade em inseri-lo nos diversos compartimentos literários considerados pela burocracia. Um filme amargamente irónico, como outros na obra de Eldar Chenguelaia. 

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02/06/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia
Tetri Karavani
“A Caravana Branca”
de Eldar Chenguelaia, Tamaz Meliava
com Spartak Bagashvilli, Ariadna Chenguelaia, Imedo Kakhiari
URSS, 1963 - 93 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
Embora co-assinado com Tamaz Meliava, este é o filme que Chenguelaia considera como a sua verdadeira estreia na realização. A ação tem lugar numa áspera paisagem invernal, onde um grupo de pastores se desloca com os seus rebanhos, filmados de modo quase documental. O filme é um périplo, com os protagonistas em constante deslocação. Um dos homens, no entanto, recusa-se a continuar a ser pastor e decide mudar-se para uma grande cidade. Dá o primeiro passo nessa direção, mas as forças da tradição são mais fortes. O filme foi apresentado no Festival de Cannes. 

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02/06/2023, 22h00 | Sala M. Félix Ribeiro
As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia
Miqela
“Mikela”
de Eldar Chenguelaia
com Grigol Tkabladze, Zinaida Kverenchiladze, Mikheil Khvita
URSS, 1964 - 45 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
MIQELA é uma das duas partes de TSARSULIS LEGENDEBI/“AS LENDAS DO PASSADO” (a outra, intitulada MIKA, foi realizada por Merab Kokotchchvili). A personagem titular é um velho camponês evitado por todos os seus vizinhos, devido à morte dos seus dois filhos, o que fez dele um homem “maldito”. O velho vive com uma nora e os dois netos e é um homem ao mesmo tempo religioso e supersticioso. Quando o seu neto adolescente cai enfermo, o homem decide desmontar a sua casa e deslocá-la para outro sítio, para escapar à maldição, instalando o rapaz numa cabana anexa à casa. Chenguelaia aborda o tema com tato, mostrando sem estridência o facto de Miqela prejudicar o seu neto por “não usar a cabeça”, como lhe diz o sacerdote da aldeia. 

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03/06/2023, 21h30 | Sala M. Félix Ribeiro
As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia
Arachveulebrivi Gamopena
“Uma Exposição Insólita”
de Eldar Chenguelaia
com Guran Lortkipanidze, Valentina Telichkina, Vasili Chkhaidze
URSS, 1968 - 93 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
Uma história agridoce, ao mesmo tempo melancólica e satírica. Um escultor recém-formado recebe como prenda do seu professor um bloco de mármore, com o qual sonha fazer uma obra-prima. Mas na prosaica realidade do dia-a-dia o homem tem apenas encomendas de bustos de pessoas da terra e de esculturas para ornamentar túmulos. Entretanto, recusa-se a tocar no bloco de mármore, pois ainda ambiciona esculpir uma obra-prima. Todo o filme é percorrido pelo humor (há impagáveis sequências na frente de guerra, nas passagens iniciais), que tempera a amargura que está no cerne da história narrada. 

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05/06/2023, 19h00 | Sala M. Félix Ribeiro
As Tragicomédias Georgianas de Eldar Chenguelaia
Sherekilebi
“Excêntricos”
de Eldar Chenguelaia
com Vasili Chkhaidze, Dato Jgentni, Ariadne Chenguelaia
URSS, 1974 - 79 min
legendado em inglês e eletronicamente em português | M/12
Uma fábula que é uma história de aprendizagem e afasta-se quase por completo da narrativa linear, embora tudo se passe num mundo muito real, a Geórgia soviética dos anos 70. Depois da morte do seu pai, um rapaz deixa a aldeia natal e ruma para uma cidade, onde se apaixona por uma mulher casada, porém cercada por vários admiradores. Ele ajuda-a a livrar-se de um pretende inoportuno, mas este vinga-se fazendo prender o rapaz, que conhecerá na cadeia um indivíduo excêntrico, obcecado pela ideia de construir uma máquina capaz de voar. O equilíbrio entre imaginação e rigor que caracteriza o cinema de Eldar Chenguelaia tem aqui um dos seus melhores exemplos. 

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