CICLO
Luz e Sombra - Representações da Idade Média no Cinema


A relação entre o cinema e a Idade Média recua no tempo até ao alvorecer do nascimento do cinema.  Pelo menos desde 1900, ano em que Georges Méliès filmou Jeanne d’Arc, focado na figura da mártir francesa medieval, que a produção de filmes inspirados nesse período tem sido uma constante. Além de antiga, esta produção é transversal aos diversos géneros cinematográficos, a várias indústrias cinematográficas e a realizadores com interesses muito diversos, que, numa ou em várias alturas das suas carreiras, se têm debruçado sobre temáticas medievais. O cinema revela-se assim como um campo de criação artística incontornável para conhecer os usos e visões do passado medieval nos séculos XX e XXI. Este é o tema do presente Ciclo, fruto de uma parceria de programação entre a Cinemateca Portuguesa e o grupo de investigação inter-universitário  “Using the Past. The Middle Ages in the Spotlight”.
É uma retrospetiva menos convencional quanto à escolha dos filmes, pois foi desenhada de acordo com três critérios que não o apenas o dos «grandes clássicos» do cinema sobre a Idade Média. O primeiro foi evidentemente o da relevância simultaneamente estética e temática dos filmes escolhidos. Em segundo lugar, procurou-se uma abordagem que fugisse da visão eurocêntrica e permitisse analisar até que ponto o período histórico que, noutras regiões globais, corresponde à Idade Média europeia, tem sido alvo de análise e exploração pela criação cinematográfica. Assim, as longas-metragens escolhidas são provenientes de vinte países diferentes, numa escala que engloba a Europa, a Ásia, a África e a América. Esta seleção permite ainda refletir sobre os problemas que supõe tentar analisar outras regiões globais, para além da Europa, sob o prisma dos conceitos e da periodização histórica convencional criada no seio da historiografia europeia. O terceiro critério estabelecido diz respeito ao próprio conteúdo dos filmes. Em termos gerais e, de forma transversal, este ciclo debruça-se sobre a Idade Média enquanto período histórico e enquanto ideia e construção mental. Assim, ele mostra de forma evidente até que ponto o cinema mergulha no período medieval através de obras literárias, ensaios ou peças musicais produzidas em época moderna e contemporânea, nomeadamente no século XIX, altura em que se consolidaram duas grandes visões antagónicas sobre a Idade Média europeia: uma visão essencialmente positiva, romântica e idealizada e outra negativa, de natureza grotesca, que realça a identificação desta época com uma “Idade das Trevas”. Por outro lado, através da abordagem dos temas nos filmes selecionados, pretende-se analisar a presença da Idade Média no cinema à luz de questões e desafios importantes para a sociedade contemporânea, entre as quais as de género, a religião ou a política. Neste sentido, é importante destacar como o cinema, enquanto meio de criação artística, mas também veículo de cultura popular, é filho do seu tempo; como tal, a visão de um episódio ou de uma figura histórica medieval num filme das primeiras décadas do século XX nunca é a mesma que a de uma obra de inícios do século XXI. 
A retrospetiva Luz e Sombra - Representações da Idade Média no Cinema inclui um total de vinte e três longa-metragens (incluindo três longa-metragens pensadas para o público infantil e juvenil a exibir na Cinemateca Júnior) e uma sessão de curta-metragens portuguesas, a qual pretende oferecer uma pequena amostra da riqueza, em termos estéticos e temáticos, da criação cinematográfica nacional, ainda muito pouco explorada do ponto de vista dos estudos do chamado cine-medievalismo. Devido aos critérios adotados na escolha dos filmes, mas também a outras circunstâncias, o ciclo não inclui alguns filmes, tanto ou mais relevantes, situados na Idade Média europeia. Por exemplo, estão ausentes, nesta seleção, obras importantes de realizadores como Pier Paolo Pasolini (a quem a Cinemateca dedicou uma retrospetiva alargada este ano), Ingmar Bergman, Andrei Tarkovski ou Sergei Eisenstein (estes três por o atual detentor de direitos para Portugal, a Leopardo Filmes, não autorizar a sua exibição na Cinemateca).
Em suma, o Ciclo abrange apenas uma pequena parte da imensidão de filmes existentes que abordam episódios, figuras ou contextos históricos alusivos à Idade Média. Mas entre constrangimentos e opções de escolha procurámos assegurar o acesso a filmes que possam ajudar a compreender o presente à luz das fabulações desse passado histórico.
 
 
30/12/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Luz e Sombra - Representações da Idade Média no Cinema

Ruz-e Vagh’e
“O Dia Fatídico”
de Shahram Assadi
Irão, 1995 - 104 min
 
03/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Luz e Sombra - Representações da Idade Média no Cinema

The Juniper Tree
de Nietzchka Keene
Islândia, 1990 - 78 min
30/12/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Luz e Sombra - Representações da Idade Média no Cinema
Ruz-e Vagh’e
“O Dia Fatídico”
de Shahram Assadi
com Ali Reza Shoja’noori, Laden Mostofi, Jamshid Mashayekhi
Irão, 1995 - 104 min
legendado eletronicamente em português | M/12
RUZ-E VAGH’E é um épico histórico que explora a espiritualidade islâmica e o martírio de Hussein ibn Ali na batalha de Querbala (o aniversário desta batalha é considerado um dia de luto sagrado pela maioria dos xiitas) através de Abdullah, um jovem cristão que se converte ao islamismo por amor a uma jovem muçulmana. No dia do casamento, após se aperceber de conversas que questionam as intenções de Imam Hossein em Cufa, terra para onde se dirigia quando foi intercetado e morto na batalha de Querbala, o jovem ouve um pedido de ajuda que o incita a viajar até lá para encontrar uma verdade maior. Primeira apresentação na Cinemateca.

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03/01/2023, 19h30 | Sala Luís de Pina
Luz e Sombra - Representações da Idade Média no Cinema
The Juniper Tree
de Nietzchka Keene
com Björk, Bryndis Petra Bragadóttir, Valdimar Örn Flygenring
Islândia, 1990 - 78 min
legendado eletronicamente em português | M/12
A exibição de THE JUNIPER TREE substitui a de KRZYZACY, inicialmente programado para esta sessão. Pelo facto, apresentamos as nossas desculpas.
Protagonizado pela cantora islandesa Björk, THE JUNIPER TREE é uma adaptação de um conto escrito pelos Irmãos Grimm sobre duas raparigas que são obrigadas a fugir da sua aldeia após a mãe ser acusada de bruxaria. Por necessidade de proteção, a mais velha enfeitiça um homem viúvo que vive com o filho de maneira a nunca se separarem. Uma revisitação feminista dos estigmas que associavam as mulheres às práticas de bruxaria na Idade Média. Primeira apresentação na Cinemateca.

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