CICLO
Os Filmes de Ernie Gehr


Uma retrospetiva consagrada ao cinema de Ernie Gehr, que se estende desde os seus primeiros filmes em película, realizados em 1968, aos mais recentes trabalhos digitais, percorrendo-se mais de cinco décadas de uma obra que atravessa uma das maiores revoluções tecnológicas do cinema. Menos conhecido que Stan Brakhage ou Michael Snow, a cujas obras consagrámos dois programas nos últimos anos, Ernie Gehr é, a seu lado, e de outros cineastas como Hollis Frampton, Maya Deren ou Ken Jacobs, uma das mais importantes figuras do cinema de avant-garde norte-americano, conduzindo muito longe as suas experiências cinematográficas em torno da perceção e da ilusão.
Afastando-se da via mais lírica do cinema experimental, Gehr tem dedicado grande parte do seu cinema a uma exploração das matérias do cinema, tendo a luz e as propriedades fotoquímicas do meio fílmico um papel essencial numa obra que valoriza a anti-ilusão cinematográfica, mas também a história do próprio cinema e dos seus primórdios. Projetados a velocidades mais lentas que os habituais 24 fotogramas por segundo, os filmes que Gehr realizou em película ao longo de muitos anos são na sua maioria mudos, produzindo uma nova forma de orquestrar a duração. Um aspeto que se altera com a exploração do meio digital, em que o som ganha uma progressiva importância. Este é um programa que se organiza em “duas partes”, uma primeira dedicada aos filmes realizados em película, e uma segunda relativa aos trabalhos em digital, assinalando ESSEX STREET QUARTET (2004) o momento da transição.
Trata-se de uma obra que tem refletido sobre o quotidiano das paisagens urbanas e sobre as suas transformações e em que a representação da realidade cede frequentemente face a imagens com qualidades “mágicas” que perturbam a nossa perceção de elementos familiares. Hoje, numa altura em que trabalha exclusivamente em digital, são as ruas de Nova Iorque que ocupam o centro da maior parte dos filmes de Gehr, cidade onde reside e na qual continua a desenvolver um trabalho essencialmente solitário e muito pessoal. Numa oscilação permanente entre representação e abstração, os filmes de Ernie Gehr traduzem a energia de uma realidade em permanente mutação, em que coexistiam mundos e estratos de tempo diferentes. Um trabalho que tem muito de lúdico e que explora os paradoxos da experiência cinematográfica.
Como afirmou Gehr em 1971, “o cinema é uma intensidade variável da luz, um balanço interno de tempo, um movimento dentro de um determinado espaço”. Cada um dos seus filmes sublinha esta afirmação.
 
Com exceção de EUREKA, todos os filmes realizados em película serão apresentados em cópias recém-restauradas pelo MoMA – Museum of Modern Art.

Ernie Gehr acompanhará pessoalmente as várias sessões e estará presente numa conversa em que se discutirá mais a fundo a sua obra.
 
 
30/05/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Os Filmes de Ernie Gehr

Ernie Gehr - Programa 6
duração total da projeção: 88 min | M/12
 
31/05/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Ciclo Os Filmes de Ernie Gehr

Ernie Gehr - Programa 7
duração total da projeção: 94 min | M/12
30/05/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Os Filmes de Ernie Gehr
Ernie Gehr - Programa 6
duração total da projeção: 88 min | M/12
THE ASTRONOMER’S DREAM
Estados Unidos, 2004 – 15 min / som

AUTO COLLIDER XVIII
Estados Unidos, 2013 – 10 min / som

BROOKLYN SERIES
Estados Unidos, 2013 – 8 min / som

AUTO COLLIDER XX 
Estados Unidos, 2014 – 13 min / som

A COMMUTER’S LIFE (WHAT A LIFE!)
Estados Unidos, 2014 – 20 min / som

TRANSPORT
Estados Unidos, 2015 – 22 min / som
de Ernie Gehr

Primeira de duas sessões dedicadas ao trabalho digital que Ernie Gehr tem realizado nos últimos anos. THE ASTRONOMER’S DREAM traduz mais uma vez o seu profundo interesse pelos primórdios do cinematógrafo e as suas origens. O nome e imagens, que são manipuladas até à indistinção, são apropriados de dois filmes de Georges Méliès: o título inglês de LA LUNE A UN METRE (1898) e L’ECLIPSE DE SOLEIL EN PLEINE LUNE (1907). Assim o refere Tony Pipolo num capítulo do seu livro em que alude ao sentido de maravilhamento associado a toda a obra de Gehr e a este filme em particular, “realizado em 2004, mas imbuído da história do cinema” (The Melancholy Lens). AUTO COLLIDER XVIII e XX fazem parte de uma série extensa, desenvolvida em várias partes. Sobre AUTO COLLIDER XVIII, trabalho de 2011, Mark McElhatten escreveu: “Uma fatia de vida. Uma exploração avançada da coordenação motora. Uma tomada das ruas numa nova formulação da mecânica ótica em tom mais sombrio e inclinado.” Registado em São Francisco em 2005, AUTO COLLIDER XX tira partido da velocidade no seu zoom sobre centros comerciais na era do automóvel. Ernie Gehr descreveu BROOKLYN SERIES como um retrato cinematográfico de Brooklyn, o seu bairro. “Uma tradução de volumes no espaço num vibratório deserto pintado e em linhas vivas. Um novo registo numa escala de Richter.” (Mark McElhatten). Inspirado pelas viagens recorrentes de comboio de Gehr entre Nova Iorque e Boston, em que se destacava sempre a mesma paisagem fugidia nos repetitivos trajetos de ida e de volta, que se cruzava com memórias de viagens de infância, A COMMUTER’S LIFE é delirantemente abstrato. Em TRANSPORT, um museu de comboios alemão é colocado em contexto, estabelecendo-se um inevitável diálogo com a História e com o passado familiar do cineasta. Primeiras apresentações na Cinemateca.

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31/05/2022, 19h30 | Sala Luís de Pina
Os Filmes de Ernie Gehr
Ernie Gehr - Programa 7
duração total da projeção: 94 min | M/12
STREET SCENES PANORAMA
Estados Unidos, 2015 – 4 min / mudo 

PICTURE TAKING
Estados Unidos, 2010 – 10 min / som 

WINTER MORNING
Estados Unidos, 2013 – 16 min / som

SUNDAY IN PARIS
Estados Unidos, 2016 – 17 min / som

BACK IN THE PARK
Estados Unidos, 2019 – 11 min / som

CONSTRUCTION SIGHT
Estados Unidos, 2019 – 36 min / som
de Ernie Gehr

Apresentado aqui enquanto filme, STREET SCENES PANORAMA também já foi exibido sob a forma de instalação. Uma obra que evoca o pré-cinema e os seus “panoramas”, em que figuras em silhueta se movem sobre um fundo fixo. PICTURE TAKING assinala o momento em que Ernie Gehr começou a explorar o vídeo de alta definição, aliando a clareza do HD com as possibilidades expressivas do 16x9. Estando o foco na “verticalidade”, bem como numa perspetiva aérea de uma paisagem urbana, a nossa perceção de um cruzamento de Manhattan é radicalmente alterada. À semelhança de STREET SCENES PANORAMA, trata-se de um trabalho que o cineasta tem exibido tanto em versão fílmica, como enquanto instalação. WINTER MORNING parte de imagens recolhidas numa rua do Brooklyn, que depois são manipuladas e transformadas. Gehr aventura-se num jogo com as cores e a profundidade, sobrepondo camadas de ação simultânea e produzindo um mundo artificial que não apaga o seu referente original. Em SUNDAY IN PARIS Gehr deixa o seu território habitual e apresenta-nos um singular passeio por algumas das conhecidas ruas de Paris, e em BACK IN THE PARK conduz-nos numa “visita relaxante à hora do almoço a um parque infantil para reflexões cinematográficas.” (Gehr) Em CONSTRUCTION SIGHT somos confrontados com uma confusão constante em que os espaços se desmoronam e as pessoas aparecem e desaparecem num movimento delirante, revelando-se um apurado sentido de destreza espacial.  São filmes que revelam claramente como a ilusão se insinua no interior dos espaços mais racionais, e em que os estudos observacionais das cidades acabam por assumir qualidades mágicas, revelando ruas e edifícios sujeitos a fenómenos inesperados. Primeiras apresentações na Cinemateca.

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